[28/5 17:30] Gustavo: NOBREZA POPULAR
Uma das muitas cenas memoráveis do imperdível filme "Brasileirinho" do diretor
finlandês Mika kaurismäki é a do Guinga contando como nasceu a música
"Senhorinha", dedicada à sua filha. Depois Zezé Gonzaga canta a música. Quem não
se emocionar deve procurar um médico urgentemente porque pode estar morto.
"Senhorinha" tem letra de Paulo César Pinheiro e é uma das coisas mais bonitas já
feitas no Brasil - e não estou falando só de música. O filme todo é uma exaltação do
talento brasileiro, da nossa vocação para a beleza tirada do simples ou, no caso do
chorinho, do complicado, mas com um virtuosismo natural que parece fácil.
Recomendo não só a quem gosta de música, mas a quem anda contagiado por
sorumbatismo de origem psicossomática ou paulista e achando que o Brasil vai
acabar na semana que vem. Não é a música que vai nos salvar, claro. Mas passei o
filme todo vendo e ouvindo o Guinga, o Trio Madeira Brasil, o Paulo Moura, o Yamandú,
o Silvério Ponte, a Elza Soares, a Teresa Cristina, a Zezé Gonzaga (e até Adenilde
Fonseca!) e pensando: é essa a nossa elite. Essa é a nossa nobreza popular, a que
representa o melhor que nós somos. O oposto do patriciado que confunde qualquer
ameaça ao seu domínio com o fim do mundo. Uma das alegrias que nos dá o filme é
constatar que o chorinho, longe de estar acabando, está se revitalizando. Tem
garotada aprendendo choro hoje como nunca antes. Substitua-se o choro pelo Brasil
que não tem nojo de si mesmo e pronto: a esperança em por aí. Parafraseando o Chico
Buarque: Contra desânimo, desilusão, dispnéia, o trombone do Zé da Véia.
O Globo, 02/09/2007
Qual é o tema do texto:
[28/5 17:31] Gustavo: A emocionante canção de Paulo César Pinheiro.
A rejeição da cultura da elite.
A aprendizagem da música pelos jovens.
A beleza das cenas do filme Brasileirinho.
A exaltação do valor da música popular.