Furto de fl or
Carlos Drummond de Andrade
Furtei uma fl or daquele jardim. O porteiro do edifício
cochilava e eu furtei a fl or. Trouxe-a para casa e coloquei-
-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz.
O copo destina-se a beber, e fl or não é para ser bebida.
Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia,
revelando melhor sua delicada composição. Quantas no-
vidades há numa fl or, se a contemplarmos bem. Sendo
autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la.
Renovei a água do vaso, mas a fl or empalidecia. Temi por
sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem apelar
para o médico das fl ores. Eu a furtara, eu a via morrer.
Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-
-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabro-
chara. O porteiro estava atento e repreendeu-me:
– Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
5)A crônica revela a história de um homem que deci-
de levar para casa uma fl or de um jardim. Logo depois,
percebe que a fl or não está feliz e isso resulta em toma-
da de decisões. Ao observar o desencadeamento das
ideias do texto, qual é o tema geral da crônica?
6)Na crônica literária, existe uma preocupação com o
uso estético da escrita. Figuras de linguagem, associa-
ções e imagens poéticas são utilizadas com o objetivo
de desenvolver o lirismo do texto, para sensibilizar ou
divertir o leitor. Por isso, a Literatura faz uso da lingua-
gem fi gurada (linguagem para expressar um sentido
não literal) para dar maior expressividade ao texto. Isso
exige que o leitor faça interpretações e perceba o signi-
fi cado mais amplo que é dado às palavras.
a) Retire do texto, dois trechos que apresentam lingua-
gem figurada.
b) Identifi que a fi gura de linguagem da atividade ante-
rior. Justifi que.