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Emily
"A bela dos cabelos de ouro A brisa trouxe até Isolda uma me...
"A bela dos cabelos de ouro
A brisa trouxe até Isolda uma melodia estranha e, ao mesmo tempo, muito triste. A
jovem apurou os ouvidos. Estava com os cotovelos apoiados na amurada do navío que a
levava de volta para casa, após passar parte da primavera com parentes, ao norte. Naquele
momento, o navio atravessava a neblina mágica que escondía seu reino do restante do
mundo, uma lembrança deixada por fadas, gnomos e outros seres que hoje preferiam habitar
o invisível. Talvez um dia a neblina desaparecesse para sempre, quando o mundo dos
humanos deixasse de acreditar na magia.
A manhã acabara de nascer. O sol deveria espantar a atmosfera irreal, porém mantinha
seu respeito por ela. Alguns de seus raios, um pouco mais ousados, deixavam pontos lumi-
nosos pelo caminho de espuma que o navio abria pelo mar. As velas vermelhas do navio
tremulavam suaves, sem vontade de acelerar o ritmo da viagem.
Isolda passara a madrugada junto à amurada. Refletira sobre sua vida, sobre quem era,
sobre o que desejava para seu futuro. Não concordava com tantas coisas; sabia de tantas
maldades, tanta injustiça. No entanto, ela estava ali, sem o poder de mudar nenhum destino,
principalmente o seu.
"De onde vem essa melodia, afinal?", pensou, intrigada. Atravessou o convés até a
outra ponta, de onde avistou um bote. E o navio, seguindo sua rota já traçada, afastava-se
cada vez mais dele.
Vamos voltar! ordenou a jovem ao comandante. Quero descobrir o que há
naquele bote.
A princípio, os marinheiros acharam que havia um cadáver apodrecendo no bote, pois o
cheiro era terrível. Mesmo assim, por insistência de Isolda, trouxeram-no a bordo, com sua
harpa. Surpresa, ela descobriu que o infeliz respirava. Fora covardemente surrado. O cheiro
vinha de um ferimento no ombro que, pelo jeito, não queria cicatrizar. "Veneno", deduziu a
jovem. "E é um dos venenos que somente minha mãe sabe preparar."
Disposta a desvendar aquele mistério, Isolda mandou que colocassem o infeliz em seu
camarote, junto com a harpa.
- Acho que ele é um menestrel, senhora - disse Brangien, a serva que crescera junto
com Isolda.
Tinham a mesma idade, dezesseis anos [...]. As semelhanças se deviam a único fato:
Brangien era uma neta bastarda do avô materno de Isolda.
A serva ajudou sua senhora a preparar uma poção que, se tivessem sorte, anularia o
efeito do poderoso veneno. Deitado no leito, o menestrel não se movia. Não tinham muito
tempo para salvá-lo.
Isolda misturou várias ervas e algumas gotas de óleos diferentes em um pequeno caldeirão de ferro. Sua mãe era mestra em criar
venenos, mas odiava se dedicar aos antídotos.
- Alecrim ou mandrágora? - perguntou a jovem para Brangien.
A outra deu de ombros. Não entendia nada de poções.
Veja se ele ainda respira.
Talvez algumas pétalas de jasmim... [...] Ela abriu seu baú, espa-
lhou roupas para todos os lados até que, lá no fundo, encontrou a
bolsinha que procurava.
Ele está morrendo, senhora - avisou a serva, que acabava de
checar a respiração muito fraca do menestrel.
O mais rápido que pôde, Isolda acrescentou as pétalas à mistura
e coou o líquido espesso, passando-o para uma caneca de cobre. Por
fim, cobriu a boca da caneca com as mãos e evocou a magia de suas
antepassadas. Era naquele instante, no contato com o invisível, que
a garota com sangue de fada, herdado de sua avó materna, poderia
ganhar a chance de salvar uma vida. E, finalmente, ter o poder de
mudar um destino.
A magia percorreu seu corpo, como esperava, escapando para a
poção pela ponta de seus dedos. Correndo, a jovem foi até o menes-
trel e, com a ajuda de Brangien, fez com que ele bebesse o líquido
que
da caneca. Quando a última gota desapareceu de vista, ela manteve
seu rosto perto do rosto dele, esperando, ansiosa, algum sinal de
o antídoto fizesse efeito.
Demorou para que o menestrel entreabrisse os olhos e a fitasse
por alguns segundos, como se visse a imagem de um sonho.
- Olá, fada... -, murmurou ele, com ternura, antes de adorme-
cer novamente.
[...]"
uma melodia estranha e muito triste chama a atenção de Isolda, possibilitando que ela descubra o bote em que Tristão se encontra. Considerando que Tristão não poderia ter tocado a música porque estava inconsciente, o que esse fato sugere sobre esse encontro das personagens
"A bela dos cabelos de ouro A brisa trouxe até Isolda uma melodia estranha e, ao mesmo tempo, muito triste. A jovem apurou os ouvidos. Estava com os cotovelos apoiados na amurada do navío que a levava de volta para casa, após passar parte da primavera com parentes, ao norte. Naquele momento, o navio atravessava a neblina mágica que escondía seu reino do restante do mundo, uma lembrança deixada por fadas, gnomos e outros seres que hoje preferiam habitar o invisível. Talvez um dia a neblina desaparecesse para sempre, quando o mundo dos humanos deixasse de acreditar na magia. A manhã acabara de nascer. O sol deveria espantar a atmosfera irreal, porém mantinha seu respeito por ela. Alguns de seus raios, um pouco mais ousados, deixavam pontos lumi- nosos pelo caminho de espuma que o navio abria pelo mar. As velas vermelhas do navio tremulavam suaves, sem vontade de acelerar o ritmo da viagem. Isolda passara a madrugada junto à amurada. Refletira sobre sua vida, sobre quem era, sobre o que desejava para seu futuro. Não concordava com tantas coisas; sabia de tantas maldades, tanta injustiça. No entanto, ela estava ali, sem o poder de mudar nenhum destino, principalmente o seu. "De onde vem essa melodia, afinal?", pensou, intrigada. Atravessou o convés até a outra ponta, de onde avistou um bote. E o navio, seguindo sua rota já traçada, afastava-se cada vez mais dele. Vamos voltar! ordenou a jovem ao comandante. Quero descobrir o que há naquele bote.
A princípio, os marinheiros acharam que havia um cadáver apodrecendo no bote, pois o cheiro era terrível. Mesmo assim, por insistência de Isolda, trouxeram-no a bordo, com sua harpa. Surpresa, ela descobriu que o infeliz respirava. Fora covardemente surrado. O cheiro vinha de um ferimento no ombro que, pelo jeito, não queria cicatrizar. "Veneno", deduziu a jovem. "E é um dos venenos que somente minha mãe sabe preparar." Disposta a desvendar aquele mistério, Isolda mandou que colocassem o infeliz em seu camarote, junto com a harpa.
- Acho que ele é um menestrel, senhora - disse Brangien, a serva que crescera junto com Isolda. Tinham a mesma idade, dezesseis anos [...]. As semelhanças se deviam a único fato: Brangien era uma neta bastarda do avô materno de Isolda. A serva ajudou sua senhora a preparar uma poção que, se tivessem sorte, anularia o efeito do poderoso veneno. Deitado no leito, o menestrel não se movia. Não tinham muito tempo para salvá-lo.
Isolda misturou várias ervas e algumas gotas de óleos diferentes em um pequeno caldeirão de ferro. Sua mãe era mestra em criar venenos, mas odiava se dedicar aos antídotos.
- Alecrim ou mandrágora? - perguntou a jovem para Brangien. A outra deu de ombros. Não entendia nada de poções.
Veja se ele ainda respira. Talvez algumas pétalas de jasmim... [...] Ela abriu seu baú, espa- lhou roupas para todos os lados até que, lá no fundo, encontrou a bolsinha que procurava. Ele está morrendo, senhora - avisou a serva, que acabava de checar a respiração muito fraca do menestrel. O mais rápido que pôde, Isolda acrescentou as pétalas à mistura e coou o líquido espesso, passando-o para uma caneca de cobre. Por fim, cobriu a boca da caneca com as mãos e evocou a magia de suas antepassadas. Era naquele instante, no contato com o invisível, que a garota com sangue de fada, herdado de sua avó materna, poderia ganhar a chance de salvar uma vida. E, finalmente, ter o poder de mudar um destino. A magia percorreu seu corpo, como esperava, escapando para a poção pela ponta de seus dedos. Correndo, a jovem foi até o menes- trel e, com a ajuda de Brangien, fez com que ele bebesse o líquido que da caneca. Quando a última gota desapareceu de vista, ela manteve seu rosto perto do rosto dele, esperando, ansiosa, algum sinal de o antídoto fizesse efeito. Demorou para que o menestrel entreabrisse os olhos e a fitasse por alguns segundos, como se visse a imagem de um sonho.
- Olá, fada... -, murmurou ele, com ternura, antes de adorme- cer novamente. [...]"
uma melodia estranha e muito triste chama a atenção de Isolda, possibilitando que ela descubra o bote em que Tristão se encontra. Considerando que Tristão não poderia ter tocado a música porque estava inconsciente, o que esse fato sugere sobre esse encontro das personagens