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CAPÍTULO 5 REFERÊNCIA E SENTIDO A Referência MANUAL DE SEMÂNTICA Portanto a referência pode ser estabelecida entre um sintagma nominal que busca um objeto no mundo em um sentido amplo do termo pois uma pessoa está incluída nessa categoria um indivíduo particular Também a referência pode ser estabelecida entre um sintagma verbal e uma classe de objetos no mundo ou seja o sintagma verbal ser brasileiro busca a classe de brasileiros no mundo Ainda a referência pode ser estabelecida entre uma sentença e seu valor de verdade ou seja para saber a que uma sentença se refere temos que saber se essa sentença é falsa ou verdadeira no mundo a referência de João da Silva é brasileiro é a verdade ou falsidade dessa sentença no mundo B Sintagmas Nominais Definidos NãoRefernciados Um sintagma nominal definido pode ocorrer como complemento do verbo ser podendo então ter uma função predicativa e não uma função de sintagma nominal referenciado Por exemplo 6 Lula é o presidente do Brasil Ser o presidente do Brasil pode se encaixar no tipo de referência estabelecida pelos sintagmas verbais e uma classe de indivíduos no mundo a dos presidentes do Brasil Entretanto existe uma segunda leitura da sentença em 6 que estabelece uma relação de identidade entre dois referentes e portanto os dois sintagmas nominais acima funcionam como sintagmas referenciais Nesse tipo de ocorrência podese inverter a ordem dos sintagmas 12 Problemas para uma teoria da referência De acordo com Kempson 1977 entre outros há várias razões para se acreditar que uma teoria do significado que tente explicar todos os aspectos do significado de palavras em termos de referência está equivocada Enumeremos esses problemas segundo a autora Uma primeira observação é que existem várias palavras que parecem não ter referentes no mundo como por exemplo os nomes abstratos Ainda que se possa dizer que a relação de referência se sustente entre uma palavra como imaginação e certa classe de objetos abstratos que constituem atos de imaginação não há sentido em afirmar que palavras como e não se referemse a alguma coisa Também as preposições apresentam problema semelhante a que se referem palavras como de em com etc Palavras como que como Ou seja a que se referem as palavras conhecidas como gramaticais ou funcionais Se essas palavras não têm referentes e os significados são dados a partir da referência podemos erroneamente concluir que essas palavras não têm significado Mas os falantes sabem que isso não ocorre e são perfeitamente capazes de atribuir uma significação de adição ao e por exemplo Conforme essa última interpretação não faria sentido perguntar a que objetos a palavra iguanas referese Esse problema apresentado pelos nomes referindose a conjuntos de objetos específicos também ocorre com vários complementos de verbos do tipo acreditar querer achar etc é o conhecido contexto indireto ou opaco estudado por Frege 1892 e posteriormente por Quine 1960 Estudaremos esses contextos à frente assim que abordarmos a noção de sentido IV Identifique os tipos de sintagmas nominais nas sentenças abaixo e as diferentes possibilidades de referências V Segundo Kempson há várias razões para se acreditar que uma teoria do significado que tente explicar todos os aspectos do significado de palavras em termos de referência estará errada Quais são essas razões Por exemplo o significado da expressão A estrela da manhã está em conhecer o sentido de A o conceito de estrela que é a última a desaparecer na manhã e achar no mundo a referência de A o planeta Vênus Vale aqui abrir parênteses para se esclarecer um pouco mais a noção de proposição Proposição é usada como sendo uma abstração que pode ser captada pela mente de uma pessoa Nesse sentido uma proposição é um objeto do pensamento O que não devemos é equacionar pensamento à proposição porque pensamentos são geralmente associados a processos mentais particulares pessoas enquanto que proposições são públicas no sentido de que a mesma proposição é acessível a diferentes pessoas Ainda mais uma proposição não é um processo enquanto que o pensamento pode ser visto como um processo ocorrendo na mente individual de cada um Assumo pois que processos mentais são pensamentos que entidades semânticas abstratas são proposições que entidades lingüísticas são sentenças e que proferimentos são ações Podemos pensar em um tipo de relação em que uma simples proposição pode ser expressa por várias sentenças e cada uma dessas sentenças pode ser proferida um número infinito de vezes Primeiramente façamos uma análise das expressões em 20 utilizando somente a ideia de que significado é a relação de referência A sentença 20a terá x como um valor para a expressão referencial a estrela da manhã que é a mesma para o sujeito e para o complemento da sentença então teremos x x pois o verbo ser nesse contexto tem a função de equivaler as duas expressões Em 20b como as duas expressões estrela da manhã e estrela da tarde têm a mesma referência no mundo o planeta Vênus associamos às duas expressões um mesmo valor x e teremos x x Concluindo não teremos diferença de significado para as duas sentenças em 20 pois teremos a equação x x para ambas Entretanto qualquer falante do português sabe afirmar com certeza que as duas sentenças acima são diferentes em relação à sua significação A sentença 20b passa uma informação sobre o mundo enquanto a 20a não traz nenhuma informação nova a respeito do mundo apesar de sua sentença boa gramaticalmente Dizse que a sentença 20a é uma sentença analítica ou tautológica pois é uma verdade óbvia já que afirma que um objeto é idêntico a si mesmo o que é sempre verdade nem precisamos ir ao mundo para constatar a sua verdade Nesse tipo de sentença a verdade é exclusivamente um fato lingüístico Já a sentença 20b é a chamada sentença sintética pois seu valor de verdade depende do que sabemos sobre o mundo É fácil constatar que pode existir alguém que não saiba se a sentença em 20b é falsa ou verdadeira dependendo de seu conhecimento sobre estrelas e planetas Entretanto a sentença em 20a será aceita como verdadeira por qualquer falante do português independentemente do seu conhecimento sobre estrelas e planetas Portanto se imaginarmos que uma pessoa que não conhece a verdade da sentença 20b escutea necessariamente ela passará a ter um novo conhecimento sobre o planeta Vênus pois agora a pessoa conhece dois sentidos diferentes para alcançar a referência Vênus isto é dois caminhos diferentes de se alcançar o mesmo objeto no mundo Portanto concluímos que como conhecedora da língua sabemos discernir que a sentença 20a é diferente da sentença 20b porque a segunda passa uma informação e a primeira não Resta portanto ao semanticista explicar essa diferença pois em termos de referência vimos que isso não é possível O segundo argumento de Frege está relacionado ao que ele chamou de contexto indireto e Quine 1960 de contexto opaco Antes de entrarmos nessa questão propriamente fazse necessário falar rapidamente sobre o Princípio de Composicionalidade de Frege O autor afirma que em determinados contextos o valor de verdade de uma sentença complexa é função exclusiva dos valores de verdade das partes que a compõem Esse tipo de operação é totalmente cego para o sentido da sentença dadas as referências das sentenças simples calculase mecanicamente o valor de verdade de qualquer sentença complexa que contenha essas sentenças simples Se 21a tem como referência a verdade no mundo ou seja é uma sentença verdadeira e 21b também tem a mesma referência no mundo ou seja é uma sentença verdadeira podemos afirmar que 21c é verdadeira sem que saibamos nada sobre o sentido das sentenças a e b Isso se deve ao fato de que 21a e b são sentenças simples que compõem a sentença complexa 21c Esse tipo de substituição possibilita criar uma linguagem extensional isto é uma linguagem em que somente é levada em conta a referência Portanto sentenças formadas pelo operador e outros operadores como ou se somente e são as chamadas sentenças extensionais em que se pode aplicar o Princípio de Composicionalidade de Frege Entretanto há inúmeros casos a que esse princípio não se aplica Por exemplo as sentenças encadeadas após verbos que exprimem crenças não apresentam esse comportamento são as chamadas sentenças de contexto indireto ou opaco Usando esses casos Frege mostra outro argumento a favor da utilização do sentido no estudo do significado Vemos que em 23 a verdade das sentenças a e b acarreta necessariamente a verdade de c Isso se dá porque as sentenças em 23 são exemplos de sentenças extensionais e seguem o Princípio de Composicionalidade de Frege permitindo a substituição de expressões que tenham o mesmo referente Tentemos verificar a mesma relação para sentenças intensionais 24 a Um exoperário da classe trabalhadora é o presidente do Brasil b O João acredita que o presidente do Brasil está ajudando o país c O João acredita que um exoperário da classe trabalhadora está ajudando o país Se é verdade a sentença a e a sentença b não podemos concluir necessariamente a verdade de c pois João pode não saber que exoperário da classe trabalhadora e o presidente do Brasil têm a mesma referência no mundo ou seja com sentenças intensionais não podemos fazer a substituição de expressões que tenham a mesma referência no mundo como é possível com as sentenças extensionais sem que se altere o valor de verdade das sentenças Portanto não se aplica o Princípio da Composicionalidade Frege não propõe um tratamento formal para esse tipo de sentença mas observa que existe uma referência indireta em todas as sentenças intensionais e que a substituição nesses casos será possível se mantivermos o sentido da expressão Nas sentenças intensionais a verdade não é uma função dos valores das partes e o Princípio da Composicionalidade não se aplica Entretanto pode haver uma substituição desde que se mantenha o mesmo sentido Para Frege a referência das sentenças em contextos opacos ou indiretos não é a referência ordinária o objeto no mundo A referência nesse tipo de sentença é uma referência indireta e se refere ao sentido da sentença Vejamos como pode ser feito esse tipo de substituição 25 a A professora de semântica é a mãe de Federico b João acha que a professora de semântica é otimista c João acha que a mãe de Federico é otimista d João acha que a pessoa que ensina semântica é otimista Veja que se eu substituir as expressões que têm a mesma referência 25b e 25c eu não posso afirmar que a verdade da segunda decorre da verdade da primeira pois João pode não saber que a mãe de Federico e a professora de semântica são a mesma pessoa Entretanto se eu substituir 25b por 25d a verdade da sentença não se altera pois a expressão só professor de semântica tem o mesmo sentido ou seja é sinônimo de a pessoa que ensina semântica e necessariamente a verdade de 25d decorre da verdade de 25b Constatamos com mais esses exemplos que uma teoria exclusivamente da referência não é adequada para explicar o significado das expressões Também a noção de sentido fazse necessária para a explicação do significado Portanto uma teoria semântica que lide com a noção de referência deve incluir necessariamente o conceito de sentido ao tentar explicar o significado das expressões de uma língua Para concluir a Parte 2 deste livro sobre valores de verdade referência e sentido gostaria de fazer algumas observações Lembremonos das três questões básicas que uma teoria semântica em princípio deve abordar a expressividade e composicionalidade da língua a referencialidade e representação da língua e as relações semânticas das sentenças Uma teoria que use a abordagem referencial provavelmente explicará em parte a questão da expressividade e criatividade da língua o Princípio da Composicionalidade de Frege trata da composicionalidade do significado de unidades simples em unidades mais complexas Um segundo ponto é a capacidade dessas teorias em explicar a referencialidade da língua pois trabalham com a noção da relação língua e mundo Também algumas propriedades semânticas entre sentenças são explicadas em termos de verdade mas especificamente a noção de acarreitamento de ambiguidades de contradições etc Para isso utilizei essa abordagem para mostrar as noções até aqui estudadas Porém como foi esboçado no capítulo 1 existem várias outras questões sobre o conhecimento semântico de um falante que a abordagem referencial não contempla a representação mental as metáforas os papéis temáticos o uso da língua a intenção do falante etc Serão pois algumas dessas noções que as próximas partes do livro irão apresentar usando para isso abordagens mentalistas e abordagens pragmáticas Não espero com isso esgotar as questões sobre significado evidentemente mas espero conseguir percorrer de uma maneira não direcionada teoricamente alguns temas mais estudados na literatura semântica Em português CHIERCHIA 2003 cap 1 e 8 PIRES DE OLIVEIRA 2001 cap 3 LYONS 1977 cap 7 e KEMPSON 1977 cap 2 Em inglês SAEED 1997 cap 1 e 2 CHIERCHIA McCONNELLGINET 1990 cap 2 e HURFORD HEASLEY 1983 cap 1 2 e 3
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CAPÍTULO 5 REFERÊNCIA E SENTIDO A Referência MANUAL DE SEMÂNTICA Portanto a referência pode ser estabelecida entre um sintagma nominal que busca um objeto no mundo em um sentido amplo do termo pois uma pessoa está incluída nessa categoria um indivíduo particular Também a referência pode ser estabelecida entre um sintagma verbal e uma classe de objetos no mundo ou seja o sintagma verbal ser brasileiro busca a classe de brasileiros no mundo Ainda a referência pode ser estabelecida entre uma sentença e seu valor de verdade ou seja para saber a que uma sentença se refere temos que saber se essa sentença é falsa ou verdadeira no mundo a referência de João da Silva é brasileiro é a verdade ou falsidade dessa sentença no mundo B Sintagmas Nominais Definidos NãoRefernciados Um sintagma nominal definido pode ocorrer como complemento do verbo ser podendo então ter uma função predicativa e não uma função de sintagma nominal referenciado Por exemplo 6 Lula é o presidente do Brasil Ser o presidente do Brasil pode se encaixar no tipo de referência estabelecida pelos sintagmas verbais e uma classe de indivíduos no mundo a dos presidentes do Brasil Entretanto existe uma segunda leitura da sentença em 6 que estabelece uma relação de identidade entre dois referentes e portanto os dois sintagmas nominais acima funcionam como sintagmas referenciais Nesse tipo de ocorrência podese inverter a ordem dos sintagmas 12 Problemas para uma teoria da referência De acordo com Kempson 1977 entre outros há várias razões para se acreditar que uma teoria do significado que tente explicar todos os aspectos do significado de palavras em termos de referência está equivocada Enumeremos esses problemas segundo a autora Uma primeira observação é que existem várias palavras que parecem não ter referentes no mundo como por exemplo os nomes abstratos Ainda que se possa dizer que a relação de referência se sustente entre uma palavra como imaginação e certa classe de objetos abstratos que constituem atos de imaginação não há sentido em afirmar que palavras como e não se referemse a alguma coisa Também as preposições apresentam problema semelhante a que se referem palavras como de em com etc Palavras como que como Ou seja a que se referem as palavras conhecidas como gramaticais ou funcionais Se essas palavras não têm referentes e os significados são dados a partir da referência podemos erroneamente concluir que essas palavras não têm significado Mas os falantes sabem que isso não ocorre e são perfeitamente capazes de atribuir uma significação de adição ao e por exemplo Conforme essa última interpretação não faria sentido perguntar a que objetos a palavra iguanas referese Esse problema apresentado pelos nomes referindose a conjuntos de objetos específicos também ocorre com vários complementos de verbos do tipo acreditar querer achar etc é o conhecido contexto indireto ou opaco estudado por Frege 1892 e posteriormente por Quine 1960 Estudaremos esses contextos à frente assim que abordarmos a noção de sentido IV Identifique os tipos de sintagmas nominais nas sentenças abaixo e as diferentes possibilidades de referências V Segundo Kempson há várias razões para se acreditar que uma teoria do significado que tente explicar todos os aspectos do significado de palavras em termos de referência estará errada Quais são essas razões Por exemplo o significado da expressão A estrela da manhã está em conhecer o sentido de A o conceito de estrela que é a última a desaparecer na manhã e achar no mundo a referência de A o planeta Vênus Vale aqui abrir parênteses para se esclarecer um pouco mais a noção de proposição Proposição é usada como sendo uma abstração que pode ser captada pela mente de uma pessoa Nesse sentido uma proposição é um objeto do pensamento O que não devemos é equacionar pensamento à proposição porque pensamentos são geralmente associados a processos mentais particulares pessoas enquanto que proposições são públicas no sentido de que a mesma proposição é acessível a diferentes pessoas Ainda mais uma proposição não é um processo enquanto que o pensamento pode ser visto como um processo ocorrendo na mente individual de cada um Assumo pois que processos mentais são pensamentos que entidades semânticas abstratas são proposições que entidades lingüísticas são sentenças e que proferimentos são ações Podemos pensar em um tipo de relação em que uma simples proposição pode ser expressa por várias sentenças e cada uma dessas sentenças pode ser proferida um número infinito de vezes Primeiramente façamos uma análise das expressões em 20 utilizando somente a ideia de que significado é a relação de referência A sentença 20a terá x como um valor para a expressão referencial a estrela da manhã que é a mesma para o sujeito e para o complemento da sentença então teremos x x pois o verbo ser nesse contexto tem a função de equivaler as duas expressões Em 20b como as duas expressões estrela da manhã e estrela da tarde têm a mesma referência no mundo o planeta Vênus associamos às duas expressões um mesmo valor x e teremos x x Concluindo não teremos diferença de significado para as duas sentenças em 20 pois teremos a equação x x para ambas Entretanto qualquer falante do português sabe afirmar com certeza que as duas sentenças acima são diferentes em relação à sua significação A sentença 20b passa uma informação sobre o mundo enquanto a 20a não traz nenhuma informação nova a respeito do mundo apesar de sua sentença boa gramaticalmente Dizse que a sentença 20a é uma sentença analítica ou tautológica pois é uma verdade óbvia já que afirma que um objeto é idêntico a si mesmo o que é sempre verdade nem precisamos ir ao mundo para constatar a sua verdade Nesse tipo de sentença a verdade é exclusivamente um fato lingüístico Já a sentença 20b é a chamada sentença sintética pois seu valor de verdade depende do que sabemos sobre o mundo É fácil constatar que pode existir alguém que não saiba se a sentença em 20b é falsa ou verdadeira dependendo de seu conhecimento sobre estrelas e planetas Entretanto a sentença em 20a será aceita como verdadeira por qualquer falante do português independentemente do seu conhecimento sobre estrelas e planetas Portanto se imaginarmos que uma pessoa que não conhece a verdade da sentença 20b escutea necessariamente ela passará a ter um novo conhecimento sobre o planeta Vênus pois agora a pessoa conhece dois sentidos diferentes para alcançar a referência Vênus isto é dois caminhos diferentes de se alcançar o mesmo objeto no mundo Portanto concluímos que como conhecedora da língua sabemos discernir que a sentença 20a é diferente da sentença 20b porque a segunda passa uma informação e a primeira não Resta portanto ao semanticista explicar essa diferença pois em termos de referência vimos que isso não é possível O segundo argumento de Frege está relacionado ao que ele chamou de contexto indireto e Quine 1960 de contexto opaco Antes de entrarmos nessa questão propriamente fazse necessário falar rapidamente 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chamadas sentenças extensionais em que se pode aplicar o Princípio de Composicionalidade de Frege Entretanto há inúmeros casos a que esse princípio não se aplica Por exemplo as sentenças encadeadas após verbos que exprimem crenças não apresentam esse comportamento são as chamadas sentenças de contexto indireto ou opaco Usando esses casos Frege mostra outro argumento a favor da utilização do sentido no estudo do significado Vemos que em 23 a verdade das sentenças a e b acarreta necessariamente a verdade de c Isso se dá porque as sentenças em 23 são exemplos de sentenças extensionais e seguem o Princípio de Composicionalidade de Frege permitindo a substituição de expressões que tenham o mesmo referente Tentemos verificar a mesma relação para sentenças intensionais 24 a Um exoperário da classe trabalhadora é o presidente do Brasil b O João acredita que o presidente do Brasil está ajudando o país c O João acredita que um exoperário da classe trabalhadora está ajudando o país Se é verdade a sentença a e a sentença b não podemos concluir necessariamente a verdade de c pois João pode não saber que exoperário da classe trabalhadora e o presidente do Brasil têm a mesma referência no mundo ou seja com sentenças intensionais não podemos fazer a substituição de expressões que tenham a mesma referência no mundo como é possível com as sentenças extensionais sem que se altere o valor de verdade das sentenças Portanto não se aplica o Princípio da Composicionalidade Frege não propõe um tratamento formal para esse tipo de sentença mas observa que existe uma referência indireta em todas as sentenças intensionais e que a substituição nesses casos será possível se mantivermos o sentido da expressão Nas sentenças intensionais a verdade não é uma função dos valores das partes e o Princípio da Composicionalidade não se aplica Entretanto pode haver uma substituição desde que se mantenha o mesmo sentido Para Frege a referência das sentenças em contextos opacos ou indiretos não é a referência ordinária o objeto no mundo A referência nesse tipo de sentença é uma referência indireta e se refere ao sentido da sentença Vejamos como pode ser feito esse tipo de substituição 25 a A professora de semântica é a mãe de Federico b João acha que a professora de semântica é otimista c João acha que a mãe de Federico é otimista d João acha que a pessoa que ensina semântica é otimista Veja que se eu substituir as expressões que têm a mesma referência 25b e 25c eu não posso afirmar que a verdade da segunda decorre da verdade da primeira pois João pode não saber que a mãe de Federico e a professora de semântica são a mesma pessoa Entretanto se eu substituir 25b por 25d a verdade da sentença não se altera pois a expressão só professor de semântica tem o mesmo sentido ou seja é sinônimo de a pessoa que ensina semântica e necessariamente a verdade de 25d decorre da verdade de 25b Constatamos com mais esses exemplos que uma teoria exclusivamente da referência não é adequada para explicar o significado das expressões Também a noção de sentido fazse necessária para a explicação do significado Portanto uma teoria semântica que lide com a noção de referência deve incluir necessariamente o conceito de sentido ao tentar explicar o significado das expressões de uma língua Para concluir a Parte 2 deste livro sobre valores de verdade referência e sentido gostaria de fazer algumas observações Lembremonos das três questões básicas que uma teoria semântica em princípio deve abordar a expressividade e composicionalidade da língua a referencialidade e representação da língua e as relações semânticas das sentenças Uma teoria que use a abordagem referencial provavelmente explicará em parte a questão da expressividade e criatividade da língua o Princípio da Composicionalidade de Frege trata da composicionalidade do significado de unidades simples em unidades mais complexas Um segundo ponto é a capacidade dessas teorias em explicar a referencialidade da língua pois trabalham com a noção da relação língua e mundo Também algumas propriedades semânticas entre sentenças são explicadas em termos de verdade mas especificamente a noção de acarreitamento de ambiguidades de contradições etc Para isso utilizei essa abordagem para mostrar as noções até aqui estudadas Porém como foi esboçado no capítulo 1 existem várias outras questões sobre o conhecimento semântico de um falante que a abordagem referencial não contempla a representação mental as metáforas os papéis temáticos o uso da língua a intenção do falante etc Serão pois algumas dessas noções que as próximas partes do livro irão apresentar usando para isso abordagens mentalistas e abordagens pragmáticas Não espero com isso esgotar as questões sobre significado evidentemente mas espero conseguir percorrer de uma maneira não direcionada teoricamente alguns temas mais estudados na literatura semântica Em português CHIERCHIA 2003 cap 1 e 8 PIRES DE OLIVEIRA 2001 cap 3 LYONS 1977 cap 7 e KEMPSON 1977 cap 2 Em inglês SAEED 1997 cap 1 e 2 CHIERCHIA McCONNELLGINET 1990 cap 2 e HURFORD HEASLEY 1983 cap 1 2 e 3