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Giorgio Agamben O que é o contemporâneo? e outros ensaios Tradução Vinícius Nicastro Honesko ARGOS Chapecó, 2009 ABEU Associação Brasileira das Editoras Universitárias © 2008 n-ontropoesel Título original: Che cos’è il contemporaneo? e altri saggi Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro, sem apresentação por qualquer meio sem gasta escrita. Direitos exclusivos da edição brasileira: Editora Argos. Impresso no Brasil, 2009 Agamben, Giorgio O que é o contemporâneo e outros ensaios / Giorgio Título original: Che cos’è il contemporaneo? / Vinícius Nicastro Honesko]. Argos, 2009. Tradução de: Che cos’è il contemporaneo? ISBN 978-85-7897-069-5 SUMÁRIO Apresentação | 7 O que é um dispositivo? | 25 O que é o contemporâneo? | 55 O amigo | 77 DOI 1. Crítica política - Filosofia. 2. Filosofia italiana. I. Título. Edited by Magali Marino ISBN 978-85-7897-068 Argos Biblioteca Central Unochapecó CONSELHO EDITORIAL DA ARGOS Representação em Estudos Johnny Dalle Pereira, Lucia Cordula, Edinaldo Benevides! Consultores: Benjamin Panciera, Felipe de Ornelas, Mario Cumprindo mais uma exigência de sua própria obra, Giorgio Agamben aprofunda nestes ensaios, ora reunidos, a investigação sobre o problema do tempo. Já em Infância e história, seu terceiro livro lançado de 1978, o filósofo italiano sublinhava que uma au- têntica revolução não visa apenas a mudar o mundo, mas, antes, a mudar a experiência do tempo. A autêntica revolução de que fala Agamben em 1978 não é por ele esquecida, tampouco obliterada de seu projeto filosófico. Todo seu pensamento é, em 1 Cf. a tradução brasileira AGAMBEN, Giorgio, Infância e história: Des- truição da experiência e origem da historia. Tradução Henrique Burigo. Belo Horizonte: UFMG, 2006, p. 111. maior ou menor medida, a tentativa reiterada de uma revolução. No entanto, não se trata de um plano (projeto) revolucionário cujos fins sejam determinados para as escolhas dos meios de consecução da revolução, isso é, de um ajuste – que inclusive pode ser violento – do mundo. Pelo contrário, longe de determinações cronológico-causais, a revolução que Agamben pretende pode ser entendida como a constante interrupção da cronologia por um tempo outro, que Walter Benjamin chamava, na esteira de Paulo, kairos, ou tempo messiânico. Ou seja, uma autêntica revolução é sempre uma revolução messiânica, uma revolução que – como para a parábola sobre o reino messiânico contado por Scholem a Benjamin1 – não é a entrada forçada pela porta de um novo e eterno mural do mundo pós-histórico), mas mantém as coisas exatamente como elas são, apenas um pouco fora do lugar. É justamente nessa ligeira diferença, nesse mínimo deslocamento das coisas entre o mundo profano e o mundo messiânico que Agamben pensa. Os três textos aqui reunidos são também frutos recentes dessa tentativa revolucionária de Agamben e podem ser compreendidos por meio de um eixo, cujas gradações principais não estiveram assim formuladas connosco, nos nossos dias (na dita pós-história da humanidade), justamente porque nossa máquina de produção vive com a insígnia da catástrofe2. Como pensar uma nova época e uma nova política montadas para além das dimensões consensuais-democráticas que a filosofia e o pensamento político comprometem em falar como ciência do último estágio evolucionário da humanidade? Ou, ainda, de como tornar não só o erro mas a máquina econômica, concebida de maneira técnico-transformadora, uma área de conflito cujos traços possam pensar a singularidade, radicalidade, acaso até mesmo a experiência do tempo e capaz de nos expor as exigências de compartilhamento da existência cujas ações não podemos nos exprimir? É a tentativa de responder, ou ao menos de sondar, essas perguntas que O que é o contemporâneo?, O que é um dispositivo? e O Amigo traçam, em menor ou maior medida, seus objetivos. Em O que é um dispositivo?, por meio de um trabalho filológico revelador, Agamben sucintamente descreve todo o procedimento com o qual oikonomia – termo grego para gestão do oikos, da casa – passa ser traduzido para o rispido latim dos padres da alta idade Média como dispositio. A partir desse levantamento, Agamben propõe uma chave de leitura do termo dispositivo em Michel Foucault. Confessando-se tributário de Foucault, Agamben, entretanto, toma o termo dispositivo do pensamento do filósofo francês para ampliá-lo e elevá-lo à categoria fundamental para a compreensão do mecanismo político contemporâneo. Dispositivo passa a ser “qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes”.4 Dividindo tudo do existente em duas grandes categorias, os viventes e os dispositivos, Agamben trata de revelar como o dispositivo atua naquilo que denomina processo de subjetivação: “Chamo sujeito o que resulta da relação e, por assim dizer, do corpo a corpo entre os viventes e os dispositivos”.5 Como máquina que no contato com os viventes produz sujeitos, o dispositivo é também uma máquina de governo (os sujeitos, livres, são sempre sujeitados a um poder). No entanto, diferentemente do que acontece com os dispositivos ditos tradicionais (a confissão, a prisão, as escolas etc.), isto é, com o completo de subjetivação (um novo sujeito que se constitui a partir da negação de um velho), nos dispositivos hodiernos (a internet, os telefones celulares, a televisão, as câmaras de vigilância etc.), não é mais possível constatar a produção de um sujeito real, uma mais reciproca interdefinição entre subjetivação e dessubjetivação, da qual não surge se não um sujeito espectral. Eis que Agamben constata um paradoxo latente nessa situação, capaz de expor então o irreversível eclipse do papel atuante da política: quanto menos subjetividades são forma- das no corpo a corpo dos indivíduos com os dispositivos tanto mais dispositivos são criados como tentativa inevitável de sujeição dos indivíduos às diretrizes de poder. Ou seja, uma vez que para o funcionamento do mecanismo operativo da política seria necessária a configuração de sujeitos reais que nunca se configuram, a política parece girar não mais que uma forma que gira no vazio (um mecanismo oikonomico de autorreprodução) e, desse modo, caminha-se à catástrofe. Ainda que algumas correntes do pensamento contemporâneo postulem meios de reprodução e manutenção do mecanismo político, sugerindo a ocultação dessa situação e aceitação de uma humanidade que no encontro outras tarefas históricas acabam em sua autogestão (seja por meio dos ditos consensos democráticos, ou ainda que renegadas, pela via dos novos fundamentalismos religiosos e pela violência ditatorial muitas vezes travestida), Agamben propõe uma outra saída: a profanação6 dos dispositivos de governo e a assunção de um ingovernável como ponto de fuga e início de uma nova política. Podemos tomar como uma tentativa de compreensão e exposição desse ingovernável justamente o ensaio O Amigo. A partir de trechos dos livros oitavo e nono da Ética a Nicômacos de Aristóteles, especificamente 1170a 28 até 1171b 35, Agamben propõe uma leitura que assinala de modo premente o estatuto ontológico e ao mesmo tempo político da amizade. Ele anota que o texto aristotélico fala da equivalência, para assim dizer, sensitivista entre viver e sentir-se existir: e experimentar estar-viver. Com uma leitura e tradução própria, Agamben afirma que: “Nessa sensação de existir insiste uma outra sensação, especificamente humana, que toma a forma de um com-sentir (synaisthanesthai) a existência do amigo. A amizade é a instância desse com-sentimento da existência do amigo no sentimento da existência própria. Mas isso significa que a amizade tem um estatuto ontológico e, ao mesmo tempo, político. A sensação mascaramento que sempre acompanhou toda iden- tidade pessoal.”14 Diante disso, não nos resta outra saida senão pensar para além do sujeito, ou seja, nas palavras de Agamben, pensar uma singularidade qual- quer (um quidditer, uma forma-de-vida,15 um modo de amizade). Do sujeito vitalmente, espectral, deve emergir então entre o sujeiro “no entanto, o gesto, a ação que reduz esse sujeito a uma suspensão, o sobreviver, em que todas as matérias é una grande regra de viver com êxito.\n\nAssim, a filosofia de Agamben se desenvolve co um modo não qual ontologia, política e poesia se en- control] tramadas pela estratégia da filosofia. Deixe o que não se pode falar em retorno aos conceitos perdi- dos na história, mas que somente nos é possível en- trever em meio às luzes do presenle o escuro que lhe é imanente, uma origem que não está fora da história,\n\n\n14 Meira, p. 41-42.\n15 Nesse sentido ver demos sobre a lógica modal de: AGAMBEN, Giorgio.\nHomo sacer: o poder: Botin: Edibrasgo, 1995, p. 13-19.; AGAMBEN,\nÐñéçõüên ótimo modo-friendly, Rondonópolis - Hammerbox hortências\nBrun mas Hab esse onde,: Õsëöräk Kr (2005),12.\nPers Boa placert \negond América gergo. LG, Q\nMun tentrous – Math Egiz. em Podhems Galat’ Uns Nerms’ Bover\nTravçerceidade Belo quite fest\n\nbraziluual min posica com AGAMBEN, Ensso respekt 43-61. AMAMBEN,\nAgamben da corte por AGAMBEN, Giorgio, Notas … de tão humana – as\ndo-diace Vinices, Nomenii. Aemificalof, A, n. 4 e, 2008. Como\nPresEect Textmentar, 2009, p. 9-13.\n21\n do ser é, de fato, já sempre dividida e com-dividida, e a amizade não será condivisão.”10\n\nA amizade não está atrelada à intersubjetividade; não é uma relação entre sujeitos – capazes de contratar entre si e, por meio disso, delimitarem uma identidade e a fundação de uma sociedade –, mas uma “des-subjetivação no coração mismo da expansão mais íntima de si.16 Isto é, mais do que um espaço categorial, para o qual se predicaria a qualidade de ser amigo, a amizade se atém ao próprio fato da existência. Porém, tal existir, no com-sentir a existência do amigo, é sempre prenhe de uma potencial política: “a amizade é a condivision que precede toda divisão, porque aquilo que há para repartir é o próprio fato de existir, a própria vida. É é essa partilha, sem objeto, esse com-sentir originário que constitui a política.”\n\nNesse sentido, uma comunidade humana na qual a política possa estar radicada nessa com-divisão da própria existência – uma comunidade que vem, como\n\n16 Cf. CX. p. 39-48 o percepto eleito. Lembramos também que traduz-se na própria questão do presente ela que sempre nos espinhamento é questões o pensse bientôt, Chcoga\n\nque reflete o “retro Hagia ima Alnicidados idín nas quér Para\nhttp: IR N, p. 82.\nlembrava Agamben já em 1990 com livro homónimo”.1 – não é uma comunidade em cuja política esta a divi- são e a partilha de uma ou outra classe de fundação comunitária (um local de nascimento, uma lingua, uma cor etc.); tampouco uma comunidade que nos pauta deli pelas suficiente geração de condições de sua fundação (como una comunidade negativa), mas una comunidade do ser tal que é qualid], cuja única divisão é partilha sua partencial existential, isto é, uma comunidade em que a politica se asimalta.\n\nÉ preciso frisar, no entanto, que quando Agamben propõe um conceito que estruemos de um novo tem- po future imo quod sa: o e me vivo extensivo” – não se trata de um futuro. Alias, com uma espécie de linha subieação dos procedimientos cronolàgios da atuxul situação política. Agaben trata de abrir o que detemos nós no sombra do presente, no kairios inapreensível que nos é sempre contemporéaneos.\n\nNo pensamento barroco, Agambem afirma que a entrada\n\n11 Cf. AGAMBEN, Giorgio. l.a Comuniti di che viene. Toríate: Bollati\nBoringher, 1991. Cabe lembrarmos que: Pochamento doesiâ Biçade\nTestucos marial de L Q, dado mãng. CHata: Lumwiye, Lima: sch \nGiorgio, a Comunidade. W.a vera in Traducao e traseração. L2º:dat\nEditorial Precepto, 1995.\n17\n ver o escuro na luz, entrever um limiar inapreensível entre um ainda não e um não mais e compreender a modernidade como imemorial e pré-histórica são algumas das fraturas, das cisões no tempo com as quais o sujeito, o poeta, tem que lidar.\n\nSegundo Agamben, não basta mais evocar a ca- tegoria da subjetividade, como o faria a metafísica, para empreender esses agires em suspensão, sem os quais não há um passo em direção à revolução, à nova experiência do tempo. Já o ser o sujeito como resul- tado de processos de subjetivação, esse que são um corpo a corpo entre vivente e dispositivos, Agamben procura desativar a proposta metafísica que vê o su- jeito como uma essência (de certo modo, essa tam- bém é a ideia da filosofia moderna, de Descartes até Husserl). Como dissemos antes, a proliferação dos dispositivos é a questão mais atual de seja do capita- lismo não correspondem processos de subjetivação\ cujo resultados sejam sujeitos reis, mas do fenômeno de espectros de sujeitos. A partir da leitura de O\n\nespectral de sujeitos, podemos ter a impressão de que “a categoria da subjetividade no nosso tempo figura\n\n20 |\n mas que garante um olhar não saudosista para o pas-\nsado e um mirar o futuro sem esperanças outras que\nnão a própria capacidade de repensar o presente. As-\nsim, estes três ensaios agora publicados em língua por-\ntuguesa dão uma mostra da estratégia de ação traçada\npor Agamben: pensar uma práxis indiscidível de uma\nteoria; pensar uma política que recobre sua dimen-\nsão ontológica.\n\nSusana Scramin\ne Vinícius Nicastro Honesko\n\n22 |