Biodiversidade e saúde ambiental

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Biodiversidade e Saúde Ambiental
Biodiversidade e Saúde Ambiental.

A biodiversidade brasileira é reconhecida como uma das mais expressivas da biosfera terrestre e tem um papel importante na saúde do homem, ao prover produtos básicos e serviços ecossistêmicos.

Os produtos ou bens oriundos do sistema natural incluem fármacos, alimentos, madeira e muitos outros. Os sistemas naturais também proveem serviços que dão suporte à vida, como purificação do ar e da água, regulação do clima, hábitats reprodutivos e alimentares para extrativismo.

Alterações ambientais estão afetando os ecossistemas, com acelerada perda da biodiversidade, por meio da modificação e perda de hábitats naturais e pela ocupação não sustentável do solo.

Biodiversidade o que é?

O termo biodiversidade, refere-se à diversidade biológica para designar a variedade de formas de vida em todos os níveis. Contudo, essa variedade de seres vivos não deve ser visualizada individualmente, mas sim em seu conjunto estrutural e funcional, na visão ecológica do sistema natural.

Em países considerados detentores de alta biodiversidade a questão da biodiversidade tem enorme relevância, de importância estratégica, incluindo o destaque político no contexto global. Em consequência, o uso e a ocupação do solo, com avanço em áreas naturais, têm forte implicação com a saúde e o bem-estar humano.

A biotecnologia tem procurado também novos meios de cura com base em novos componentes químicos ou princípios ativos de produtos da biodiversidade. A importância da biodiversidade para o bem-estar e a saúde humana só ganhou destaque quando a perda da diversidade biológica alertou para a necessidade da conservação e do uso racional dos recursos vivos. Diante dos impactos na biosfera e do reconhecimento da valoração dos ecossistemas e do imenso potencial que as espécies têm para a economia.

Ecossistema e a biodiversidade

A compreensão do contexto da biodiversidade no conceito de ecossistema consiste na complexa interação entre os seres vivos com as entidades não vivas, isto é, abióticas, onde as espécies ocorrem. A biodiversidade é parte importante desse sistema natural dinâmico em estrutura e função. O entendimento do ecossistema implica um enfoque interdisciplinar, com ênfase holística, já que é um sistema natural complexo.

O sistema é dinâmico, porque se relaciona ao movimento de energia dentro dele, sendo as plantas a fonte primária de energia para os animais. Essas plantas são consumidas por herbívoros, que são predados por carnívoros, que são consumidos por outros carnívoros. Os organismos decompositores consomem as partes mortas do sistema vivo, incluindo os excrementos ou mesmo os resíduos metabólicos de outros decompositores.

A decomposição fraciona os compostos de tal modo que dióxido de carbono, água e outros produtos inorgânicos fracionados por detritívoros e outros organismos podem agora ser reabsorvidos pelas plantas. O sistema é complexo, porque envolve múltiplas partes interconectadas: espécies, seus hábitats e nichos, além de outras variáveis.

São, em geral, três os grandes impactos negativos da ação do homem no ambiente natural:

  • Perda e alteração de hábitats e da biodiversidade;
  • Exploração predatória de recursos; e
  • Introdução de espécies exóticas nos ecossistemas. Acrescem atualmente mais três grandes impactos negativos:
  • Aumento de patógenos;
  • Aumento de tóxicos ambientais; e
  • Mudanças climáticas.

Tudo isso envolve problemas importantes sobre a degradação da biodiversidade pela ação do homem, pela poluição, pela explosão demográfica humana associada ao uso múltiplo dos recursos naturais. A definição de ecossistema em razão de sua estrutura e de seus processos ecológicos é importante para esta abordagem.

Estrutura ecossitêmica

A estrutura ecossistêmica compreende a heterogeneidade da cobertura vegetal e a fauna associados ao hábitat, enquanto a função ecossistêmica engloba os processos do ecossistema. As interações entre os elementos do sistema natural, com destaque para a biodiversidade.

Os serviços dos ecossistemas são definidos, então, como os benefícios humanos derivados da função ecossistêmica e de seus processos. Consequentemente, função do ecossistema é a capacidade do processo natural de prover bens e serviços para as necessidades humanas. Os serviços ecossistêmicos são, portanto, atributos da função e do processo do ecossistema natural que têm valor para o homem.

Essa distinção é feita para separar o que é a função do ecossistema que ocorre naturalmente, sem a conotação de serviços para o homem. Assim as interações físico-químicas e biológicas próprias de cada ecossistema natural.

Já o termo serviços do ecossistema denota a satisfação das necessidades humanas.

Como as interações beneficiam os serviços ecossistêmicos

Enquanto os serviços ecossistêmicos desempenham papel fundamental para a saúde e o bem-estar do homem, a perda da biodiversidade, tem afetado as mudanças climáticas globais.

  • ciclos biogeoquímicos e nutrientes para plantas e produção de alimento,
  • ciclo da água, ar, clima e
  • uso da biodiversidade para alimentos e fármacos (Millennium Ecosystem Assessment, 2005; Chivian & Bernstein, 2008).

Os serviços ecossistêmicos dão suporte à vida na biosfera. Esses chamados serviços ecossistêmicos incluem também a regulação do clima. Por exemplo, o papel da floresta Amazônica na evapotranspiração, no ciclo d’água, na relação com os fenômenos El Niño e La Niña no clima.

Agem na desintoxicação de poluentes, no controle de pragas da agricultura e vetores de doenças, no ciclo do carbono, do nitrogênio e de outros nutrientes fundamentais à vida.

Natureza e sociedade relação entre Ecossistema e a biodiversidade

Primeiramente, a escala de tempo evolutiva, o aparecimento do homem é recente, porém a função ecossistêmica vem evoluindo há muitos milhares de anos passados. A rápida evolução do homem permitiu a mudança para o ajuste cultural e tecnológico, o que favoreceu o rápido crescimento da população global. Contudo, no início, o homem conviveu com epidemias como pragas e pestes, relatadas na Bíblia e em documentos mais recentes.

Medicamentos e pesticidas

A fabricação de medicamentos e a produtividade agropecuária dependem das informações genéticas contidas em diferentes espécies de microrganismos, plantas e animais obtidas, por exemplo, pela transferência de genes de espécies silvestres resistentes a doenças para espécies domesticadas que servem de alimento para o homem. Ou ainda, por técnicas de biotecnologia, repetir em laboratório o princípio ativo contido na programação genética de espécies silvestres que podem levar à cura de enfermidades.

Há ainda a ligação entre a etnomedicina, utilizada pelos povos tradicionais do Brasil, e o uso técnico-científico e comercial da biodiversidade feito pela indústria farmacêutica. Outro aspecto é a chamada biopirataria, considerada o terceiro maior tráfico, atrás do comércio ilegal de drogas e do tráfico de armas.

A biopirataria envolve o comércio e a utilização ilegais de plantas e animais, muitos desses de estimação, como araras e papagaios, mas muitos outros também para a indústria farmacêutica. O conhecido açaí, que é fruto da palmeira amazônica Euterpe oleracea, teve seu nome registrado no Japão, em 2003. O Japão acabou cedendo e cancelando a patente, diante da pressão sofrida. Outra planta famosa da Amazônia, o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), teve sua patente registrada pela empresa Asahi Foods, do Japão, entre 2001 e 2002, e pela empresa inglesa de cosméticos “Body Shop”, em 1998. Outra planta amazônica, a copaíba (Copaifera sp.), teve sua patente registrada pela empresa francesa Technico-flor, em 1993.

Tem havido significativo esforço da comunidade científica brasileira em patentear os produtos da biodiversidade derivados de pesquisa para proteger seus resultados na aplicação para medicamentos e outros usos.

Como as perturbações ecossistêmicas influem na dinâmica de doenças

A destruição e a alteração dos ecossistemas naturais com perda da biodiversidade resultam da interferência do homem na natureza, incluindo expansão urbana, conversão da cobertura vegetal natural em pastos ou campos agrícolas, mudanças climáticas e grandes obras de infraestrutura como novas rodovias na Amazônia, usinas hidrelétricas, assentamentos humanos, introdução acidental ou não pelo homem de espécies exóticas invasoras e outras formas de transformações do ambiente natural.

Por exemplo, o vetor da dengue no Brasil, doença que tem acometido milhares de pessoas todos os anos, é o mosquito Aedes aegypti originário da África, provavelmente vindo da região etiópica, durante o tráfico de escravos. É também vetor da febre amarela urbana (WHO, 2007).

O desmatamento e a queimada da floresta amazônica contribuem para o aumento da emissão do gás dióxido de carbono na atmosfera. Ainda assim, os raios infravermelhos absorvidos pelos gases liberados pelas queimadas na atmosfera gerarão calor. É o chamado efeito estufa.

As mudanças climáticas, discutidas durante a Conferência das Nações Unidas têm impactado a biodiversidade em muitos aspectos, inclusive com efeitos na proliferação de insetos vetores de doenças. Nesse sentido os estudos realizados por Shuman (2010) demonstram que, com o aumento gradual das temperaturas e dos padrões do regime de chuvas, pode-se esperar que essas mudanças climáticas exerçam efeito substancial sobre os surtos de doenças infecciosas que são transmitidas por insetos vetores e por meio da água contaminada. Dessa maneira os insetos vetores tendem a ser mais ativos em temperaturas mais elevadas.

Espécies invasoras e mudanças

As espécies exóticas ou invasivas são aquelas que ocorrem fora de sua área de distribuição, normalmente introduzidas pelo homem, de maneira intencional ou acidental, mas que causam problemas para os ecossistemas e para as outras espécies onde são introduzidas. A relação de animais domésticos com animais silvestres e com o homem tem ocasionado o aparecimento de doenças novas.

Outros exemplos foram ocorrências de gripe aviária e gripe A-H1N1. Os hábitats naturais têm desaparecido ou ficado extremamente modificados, reduzidos e fragmentados, o que influi na relação estoque silvestre versus estoque doméstico versus homem, facultando o aparecimento de doenças. Enfim, a modificação de ecossistemas naturais torna o ambiente mais suscetível para o aparecimento de doenças. E mais recente o SARS COV 2 (COVID 19).

O desmatamento provocado pelo avanço da ocupação humana resultando na conversão da cobertura vegetal natural em pasto ou campo agrícola, como já ocorreu na Mata Atlântica e vem ocorrendo de maneira acelerada no Cerrado, entorno do Pantanal e Amazônia, afeta a propagação de patógenos na fauna silvestre.

Aves são afetadas por patógenos virais, bacterianos e fungais, além de agirem como reservatórios de numerosos patógenos zoonóticos. Esse vírus tem alto potencial de se adaptar à mudança genética e se tornar patogênico para frangos domésticos e também para o homem.

Além de vírus, as aves podem hospedar bactérias e fungos, tais como Mycobacterium avium, que causa tuberculose aviária, Vibrio cholerae que causa a cólera. Protozoários causadores de doenças em aves, incluindo malária, como Plasmodium,Haemoproteus e Leucocytozoon, são transmitidos por mosquitos hematófagos do gênero Culex e outros. Em alguns países, o suprimento de amendoim como alimento para passarinhos de jardins tem acarretado a emergência de Salmonella typhimurium Escherichia coli.

Por fim…

A conservação da biodiversidade e a proteção dos ecossistemas naturais não implicam necessariamente confrontar o progresso do homem e o retorno da sociedade ao convívio primitivo com a natureza. As novas técnicas de produção da agropecuária, com o avanço da biotecnologia, têm permitido produtividade de alimentos e novos medicamentos para a humanidade.

O progresso social, científico e tecnológico da humanidade tem que ser celebrado. Contudo, a defesa da biodiversidade é também intrínseca ao homem, pela aplicação do princípio da biofilia, que postula que existe uma orientação psicológica do homem por uma atração pelas formas de vida na natureza.

É a conexão que nós inconscientemente procuramos manter com a natureza íntegra, suas plantas e seus animais. A biofilia implica a afiliação natural do homem pelas coisas vivas da natureza, ao contrário da fobia, ou aversão que sentimos diante da poluição, do amontoado de lixo, do mau cheiro no ar, da mortandade de peixes por contaminação de rios, dos desmatamentos criminosos, dos aglomerados humanos marginalizados, mal nutridos e doentes.

Além da defesa dos valores da biodiversidade pelos serviços ecossistêmicos que beneficiam o bem-estar e a saúde do homem, além do comprovado valor desse enorme acervo de diversidade genética que tem prestado relevantes usufrutos para a produção de fármacos, há os valores ético e estético da biodiversidade.

Dessa forma é ético reconhecer que o homem não é a única espécie viva que tem direito à vida, com o reconhecimento do valor intrínseco que a biodiversidade tem. E pelo reconhecimento do valor estético da biodiversidade, pela oportunidade de usufruir de sua beleza, de sua contemplação, hoje tão difundida pelo ecoturismo planejado e sustentável, pelo prazer da recreação na natureza íntegra.

Referências:

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