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III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 103 lesteoeste alinhamentos de vulcânicas em crosta oceânica e em crosta continental e zonas de transferência de direção NW Na região de Cabo Frio observase um expressivo lineamento de direção NWSE estendendose para crosta oceânica caracterizando uma zona de cisalhamento designada Cruzeiro do Sul Souza et al 1993 Cainelli e Mohriak 1998 Ao sul da Bacia de Santos caracterizamse cadeias vulcânicas provavelmente relacionadas a altos vulcânicos pósrifte interpretados em crosta continental eg cadeia Avedis Demercian e Szatmari 1999 ou a propagadores oceânicos eg cadeia Abimael Mohriak 2001 interpretados como centros de espalhamento ativos durante a formação de crosta protooceânica e posteriormente abortados Kumar e Gamboa 1979 Mohriak 2001 Meisling et al 2001 O Platô de São Paulo apresenta em sua maior parte um substrato de crosta continental Kowsmann et al 1982 Guimarães et al 1982 Macedo 1989 Severino e Gomes 1991 Gomes et al 1993 Souza et al 1993 Entretanto a extensão das estruturas do rifte na região da província de diápiros e muralhas de sal em águas profundas não é calibrada por poços exploratórios Alguns estudos tectônicos na bacia têm questionado interpretações anteriores que prolongavam o rifte além do limite do sal até a Zona de Fratura de Rio Grande ou Lineamento de Florianópolis eg Kowsmann et al 1982 Macedo 1989 Dias 1993 Entretanto em trabalhos recentes Gladczenko et al 1997 Bassetto et al 2000 Mohriak 2001 a análise de linhas sísmicas regionais indica que o limite do sal e limite crustal podem ser caracterizados por um complexo extrusivo pósrifte relacionado à implantação de crosta proto oceânica Duas interpretações opcionais podem ser consideradas como modelos conceituais para a extensão do rifte na região de águas profundas da Bacia de Santos Fig III10 Macedo 1989 sugere que a margem sudeste brasileira teria sido afetada por uma pluma do manto que geraria uma anomalia térmica precedendo o rifteamento e portanto teria um comportamento mais dúctil durante o estiramento litosférico A Zona de Transferência de Florianópolis Fig III6 e Fig III10 terseia comportado como uma descontinuidade crustal que separaria regiões com taxas de extensão diferentes maior no sul e menor no norte próximo do pólo de rotação que estaria localizado na região nordeste Nesse modelo o rompimento da crosta se daria com implantação de centros de espalhamento inicialmente na Bacia de Pelotas enquanto na Bacia de Santos haveria a continuidade do regime distensivo Cande e Rabinowitz 1979 apresentaram mapas regionais Figura III10 Modelos opcionais para o rifte da Bacia de Santos em águas profundas a ocorrência de sedimentação do rifte desde a região de diápiros de sal até a região da Zona de Fratura de Florianópolis e b ocorrência de complexo vulcânico extrusivo associado à formação de crosta oceânica entre a província de diápiros de sal e a Zona de Fratura de Florianópolis Figure III10 Alternative models for the Santos Basin rift in the deep water region a presence of synrift sediments in the region extending from the salt diapir province towards the Florianópolis Fracture Zone and b presence of extrusive volcanic complex associated with the formation of oceanic crust between the salt diapir province and the Florianópolis Fracture Zone Parte I Geologia 104 magnéticos da margem sudeste brasileira e aventaram a possibilidade de um centro de espalhamento abortado localizado na zona axial do Platô de São Paulo com direção NNE Macedo 1989 Gomes 1992 e Dias 1993 entretanto interpretam que todo o Platô seria de natureza continental Trabalhos recentes de Karner 2000 Meisling et al 2001 e Mohriak 2001 contribuem com dados e interpretações que enfatizam a ocorrência de feições oceânicas na região anteriormente interpretada como crosta continental Observase na região sudeste brasileira uma grande anomalia gravimétrica triangular na porção sul da Bacia de Santos caracterizada por ausência de camadas de sal e aumento de batimetria e na porção norte por altos vulcânicos alinhados na direção NESW formando cadeias vulcânicas Demercian 1996 Demercian e Szatmari 1999 ou propagadores oceânicos Mohriak 2001 O modelo de implantação de centros de espalhamento por propagadores oceânicos Manighetti et al 1998 caracteriza uma evolução tectônica bem mais complexa que modelos baseados em estiramentos litosféricos diferenciais Leyden 1976 e afinamento da crosta com sedimentos sinrifte limitados pelas zonas de fraturas oceânicas Macedo 1989 Nessa interpretação várias anomalias gravimétricas e batimétricas podem ser associadas com intrusões ígneas puntiformes Bonatti 1985 que se estendem desde a Bacia de Pelotas até a parte sul da Bacia de Santos formando vários centros vulcânicos associados ao propagador oceânico da cadeia Abimael ativo na Bacia de Pelotas enquanto na Bacia de Santos a fase sinrifte ainda estava em desenvolvimento Mohriak 2001 Subseqüentemente os centros de espalhamento foram abortados e os propagadores avançaram em direção norte com deslocamentos dextrais enechelon Mohriak 2001 A leste dos centros de espalhamento oceânico as anomalias gravimétricas e os dados sísmicos indicam uma região de crosta protooceânica com difrações hiperbólicas no topo da camada 2 abaixo dos sedimentos sugerindo tratarse de derrames de basaltos Na porção centrosul da Bacia de Santos destacase também uma grande anomalia batimétrica e gravimétrica Fig III5 com uma geometria romboédrica que também tem expressão regional nos mapas de anomalias magnéticas Mohriak 2001 Essa feição está associada a um alto de embasamento onde sedimentos sinrifte diminuem de espessura ou estão aparentemente ausentes por nãodeposição ou por erosão e mesmo as seqüências póssal apresentam afinamento na direção do ápice estrutural indicando repetidas Figura III11 Alto externo na parte centrosul da Bacia de Santos com refletores divergentes no ápice de estrutura antiformal dômica Figure III11 Outer high in the centralsouthern region of the Santos Basin with divergent reflectors in the apex of an antiformal domic structure III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 105 Figura III12 Seção sísmica nãointerpretada e com interpretação esquemática na parte sul da Bacia de Santos norte de Pelotas mostrando últimos blocos de rifte rotacionados por falhas de baixo ângulo e transição para crosta oceânica por cunhas de refletores mergulhantes para o mar SDR Figure III12 Seismic section not interpreted and with a schematic interpretation in the southern part of the Santos Basin northern part of the Pelotas Basin showing the outermost rift blocks rotated by lowangle faults and the transition to oceanic crust by wedges of seawarddipping reflectors SDR reativações tectônicas afetando seqüências estratigráficas desde o Aptiano até o Cretáceo Superior Fig III11 Na direção da plataforma de Florianópolis estratos pré sal ficam com assinatura sísmica distinta da assinatura observada em depocentros como na região norte da Bacia de Santos ou na parte central da Bacia de Campos Williams e Hubbard 1984 interpretaram que os estratos subsal seriam predominantemente vulcânicos devido à proximidade da pluma de Tristão da Cunha A caracterização de uma transição de crosta continental para crosta oceânica a sul da zona de fratura de Florianópolis está relacionada a um importante baixo estrutural tanto a nível de batimetria atual quanto a nível de embasamento e também corresponde ao término da bacia evaporítica Kowsmann et al 1982 Severino et al 1991 A Fig III12 apresenta um segmento de uma linha sísmica na margem sudestesul brasileira mostrando assinatura das feições vulcânicas associadas à transição entre crosta continental para crosta oceânica Formação de crosta protooceânica e estruturas em crosta oceânica O vulcanismo Serra Geral precede o vulcanismo associado às cunhas de refletores mergulhantes para o mar que estão associadas à incepção de crosta protooceânica e desenvolveramse no intervalo 120110 Ma englobando o intervalo anterior e subseqüente à deposição dos evaporitos aptianos Cainelli e Mohriak 1998 Essas cunhas de refletores mergulhantes para o mar SDR são associados aos complexos vulcânicos relacionados à ruptura do Gondwana e formação do centro de espalhamento mesoatlântico e são imageados por levantamentos sísmicos tanto na margem continental Parte I Geologia 106 brasileira quanto na margem africana Hinz 1981 Mutter 1985 Gladczenko et al 1997 Mohriak et al 1998b Talwani e Abreu 2000 Mohriak 2001 Dessa forma esses dois eventos magmáticos relacionados à ruptura do Gondwana formaram rochas vulcânicas com diferentes expressões sísmicas e significados tectônicos distintos Mohriak et al 1995b Cainelli e Mohriak 1998 Bassetto et al 2000 O rompimento da crosta continental e formação de crosta oceânica foi um processo com notáveis assimetrias no Atlântico Sul A inserção do centro de espalhamento mesoatlântico na região sudeste foi bem mais próxima do limite do rifte na margem africana do que na margem brasileira resultando ampla extensão do rifte e da bacia evaporítica no lado brasileiro particularmente no Platô de São Paulo onde a Bacia de Santos comporta a maior parte do sal aptiano em detrimento da margem conjugada africana Leyden 1976 Szatmari et al 1985 Macedo 1989 Chang et al 1992 Szatmari 2000 A formação de crosta oceânica está relacionada à ocorrência de cunhas de refletores mergulhantes para o mar que marcam um estágio inicial da abertura do Atlântico e a fraturas e zonas de falhas transformantes que separam segmentos do centro de espalhamento notadamente na margem equatorial brasileira A Fig III12 mostra a expressão dessas feições interpretadas como cunhas de refletores mergulhantes para o mar SDR caracterizando crosta protooceânica ao sul da zona de Fratura de Florianópolis A transição da região de SDRs para uma crosta oceânica pura é ilustrada na Fig III13 na Bacia do Espírito Santo caracterizando a típica assinatura sísmica de feições intraembasamento oceânico em que se observa o forte contraste de impedância na Moho marcando a transição da base da crosta para o manto superior Zonas de transferência nos riftes da margem continental Zonas de transferência separando depocentros de riftes são reconhecidas em várias bacias sedimentares e baseandose Figura III13 Seção sísmica na região sudeste brasileira mostrando língua de sal e transição para crosta oceânica na qual claramente se caracteriza a descontinuidade de Mohorovicic limite entre a crosta e o manto superior Figure III13 Seismic section in the southeastern Brazilian region showing salt tongue and the transition to oceanic crust where the Mohorovicic discontinuity is clearly recognized at the upper mantle crust boundary III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 107 no estudo do sistema de riftes do leste africano Rosendahl 1987 propõe que essas zonas são aproximadamente paralelas ao vetor principal da extensão horizontal modelo também proposto por Gibbs 1984 para os riftes do Mar do Norte Falhas de transferência envolvendo o embasamento são geralmente associadas a processos de rifteamento ortogonal ou oblíquo No caso da margem continental brasileira essas feições podem resultar em altos síncronos de focalização para a migração de hidrocarbonetos gerados na seqüência présal Cobbold et al 2001 Meisling et al 2001 As zonas de transferência podemse estender na direção de crosta oceânica formando alinhamentos com zonas de fraturas e falhas transformantes Meisling et al 2001 propõem que a mudança de depocentros dos riftes de Campos e Santos podem ser interpretados como um escalonamento dextral de falhas extensionais enechelon ao longo do lineamento do Rio de Janeiro que foram afetadas pelo Alto de Cabo Frio este de direção NW e se propagando na direção de crosta oceânica através do Lineamento Cruzeiro do Sul Souza et al 1993 Cainelli e Mohriak 1998 Várias zonas de transferência são interpretadas na região a nordeste e a sudoeste da saliência de Campos sendo marcadas por traços sigmoidais das falhas extensionais quando cruzadas pelas zonas de transferência Meisling et al 2001 Essas zonas também podem controlar a inversão de polaridade das falhas afetando e rotacionando as camadas sinrifte mecanismo flipflop de Rosendahl 1987 A expressão sísmica das zonas de transferência corresponde a falhas normais de alto ângulo ou estruturas em flor algumas das quais mostrando separação reversa flores positivas como evidenciado na região de Cabo Frio Mohriak et al 1995b Meisling et al 2001 Também na Bacia de Santos são caracterizadas zonas de transferência freqüentemente com direção NW que também controlam a tectônica de sal Demercian e Szatmari 1999 destacandose a zona de transferência de Tubarão que separa a parte sudoeste da Bacia de Santos da plataforma de Florianópolis a zona de transferência de Merluza que separa a província SW da província central e a zona de transferência de Cabo Frio que separa a parte norte da bacia de Santos da parte sul da Bacia de Campos Cainelli e Mohriak 1998 Demercian e Szatmari 1999 Algumas das falhas transformantes ao longo da margem são associadas a zonas de fraturas e lineamentos que penetram em crosta continental como falhas ou descontinuidades sugerindo uma continuação de fraquezas anteriores na crosta continental que foram reativadas durante a formação de zonas de fraturas oceânicas Asmus e Ferrari 1978 Milani 1989 Mohriak et al 1995b Como exemplo dessas estruturas pretéritas utilizadas durante a fase rifte e aproveitadas durante a deriva continental podese sugerir que o limite préaptiano que limita a borda do rifte da Bacia de Santos continua como um lineamento na direção lesteoeste Lineamento do Rio de Janeiro e adentra a região oceânica Cainelli e Mohriak 1998 Destacase também a zona de falha de VazaBarrisItaporanga que se estende desde a Bacia de Tucano Alto de VazaBarris até a Bacia SergipeAlagoas Milani 1989 Esta zona de falha separa o Cráton São Francisco da faixa de dobramentos sergipana e se estende até a Bacia SergipeAlagoas formando a falha principal do Baixo de Mosqueiro e depois inflete na direção lesteoeste alinhandose com a zona de fratura de Sergipe Mohriak et al 2000 Na região da margem equatorial destacase a ocorrência do Lineamento Transbrasiliano que atravessa a Bacia do Parnaíba e se estende até a Bacia do Ceará onde separa segmentos extensionais e compressionais na margem continental Fig III1 Também é notável o alinhamento das falhas que controlam os riftes continentais abortados como os grábens de São Luís e BragançaViseu com o prolongamento de zonas de fraturas oceânicas Fig III3 Evolução estrutural e estratigráfica da margem continental O conhecimento do arcabouço estratigráfico da margem continental brasileira tem evoluído significativamente desde o início da década de 70 com o advento da Tectônica de Placas que relaciona a formação das bacias sedimentares da margem atlântica à separação da placa sulamericana da placa africana Utilizando paradigmas desse modelo as megasseqüências sedimentares normalmente separadas por discordâncias angulares e erosivas são intrinsecamente relacionadas às fases evolutivas prérifte sinrifte transicional e margem continental passiva O arcabouço estratigráfico adotado para as bacias da margem continental acomoda fases tectônicas com princípios estratigráficos hierarquicamente agrupados em megasse qüências deposicionais superseqüências e seqüências Cainelli e Mohriak 1998 São definidas 4 megasseqüências a pré rifte a sinrifte a transicional e a pósrifte Asmus e Ponte 1973 Asmus 1982 Megasseqüência PréRifte Esta megasseqüência representa a fase intracratônica do Supercontinente Gondwana precedendo o rifte do Atlântico Sul e formando amplas e suaves depressões que foram preenchidas por sedimentos de águas rasas A superseqüência paleozóica é notavelmente desenvolvida nas bacias intracra tônicas do Solimões Amazonas Parnaíba e Paraná eg Zalán et al 1990 Milani e Zalán 1999 e Cap II deste volume A espessura de sedimentos paleozóicos pode atingir alguns milhares de metros nessas bacias intracratônicas mas na margem nordeste brasileira a seqüência expressase apenas Parte I Geologia 108 por remanescentes de rochas do Permiano e Carbonífero que ocorrem nas bacias SergipeAlagoas nos riftes de Recôncavo TucanoJatobá e nas bacias da margem continental da Bahia onde podem atingir algumas centenas de metros Cainelli e Mohriak 1998 Também ocorrem sedimentos paleozóicos nas bacias da margem equatorial notadamente em Barreirinhas e em alguns grábens abortados eg Marajó e São Luís A Superseqüência do Jurássico é separada da seqüência do Paleozóico por um hiato que envolve todo o Triássico Um novo pulso de subsidência resultou no desenvolvimento de depressões regionais relacionadas ao estiramento litosférico inicial que precedeu a fase principal de rifteamento e formou uma grande bacia que é designada como depressão afro brasileira Garcia 1991 Essa área de sedimentação pode atingir 100 a 300 m de espessura na Bacia SergipeAlagoas cobrindo remanescentes de rochas paleozóicas ou pré cambrianas Feijó 1994c e atinge espessuras ainda maiores na Bacia do Recôncavo Na margem sudeste e sul as seqüências paleozóicas ocorrem com grande espessura na Bacia do Paraná atingindo a margem continental na região do sinclinal de Torres Dias et al 1994b As rochas prérifte na margem continental sudeste podem ser associadas ao derrame de lavas do Jurássico Superior Cretáceo Inferior da Formação Serra Geral que se estende da Bacia do Paraná até a região da plataforma continental constituindo o embasamento econômico das bacias de Pelotas até Espírito Santo Cainelli e Mohriak 1998 Megasseqüência Sinrifte Esta megasseqüência foi depositada em ambiente continental fluvial e lacustrino durante o rifteamento crustal associado à movimentação divergente entre as placas sulamericana e africana principalmente no Jurássico Superior a Cretáceo Inferior Cainelli e Mohriak 1998 O rifte da margem leste brasileira estendese por cerca de 3500 km sendo em geral limitado a oeste por falhas normais sintéticas com rejeitos variáveis chegando a 2000 m nas bacias de Campos e Sergipe Alagoas ou por linhas de charneira que apresentam pequenos rejeitos nas bacias de Santos e Pelotas Dias 1993 Na margem divergente brasileira o limite oeste da megasseqüência sinrifte também designada de megasse qüência continental em geral é controlado por um flexura no embasamento ou por um sistema de falhas normais com mergulho predominante para leste falhas sintéticas como na Bacia do Espírito Santo ou Campos ou para oeste falhas antitéticas como na Bacia de Pelotas Na margem divergente esse limite apresenta uma direção geral NS a NNESSW exceto na região entre Cabo Frio e Ilha de São Sebastião onde ocorre uma inflexão lesteoeste Nas bacias de Pelotas Santos e Campos sedimentos sinrifte estão ausentes na região emersa uma vez que o limite oeste do rifte encontrase na plataforma continental exceto nas proximidades do Cabo de São Tomé na Bacia de Campos onde o limite préaptiano aproximase da linha de costa Fig III6 Nessa região ocorre também uma conspícua subida do manto litosférico marcandose um alto da Moho em linhas sísmicas de resolução profunda Mohriak 1989 Mohriak et al 1990b que coincide com o início dos falhamentos que controlaram a sedimentação do rifte Fig III9 Feições crustais semelhantes também ocorrem na região do Alto de Vitória e na Bacia SergipeAlagoas onde linhas regionais também mostram a subida da Moho bastante abrupta na plataforma e uma suavização da topografia do manto superior na região de águas profundas Mohriak et al 1990b Chang et al 1992 Mohriak et al 1995b O limite leste da megasseqüência sinrifte é de extrema importância por condicionar a área de ocorrência de rochas lacustrinas potencialmente geradoras de hidrocarbonetos Essa interpretação é baseada na integração de métodos sísmicos e potenciais Mohriak et al 1995b A delimitação da ocorrência de rochas do rifte na direção de águas profundas é prejudicada pela degradação do sinal sísmico na província de muralhas de sal e junto ao limite transicional entre crosta continental e crosta oceânica A identificação deste limite cuja análise é baseada na integração de dados gravimétricos e magneto métricos apresenta importantes implicações para exploração de petróleo em águas profundas Mohriak et al 1990b Mohriak et al 1995b Bassetto et al 1996 Mohriak et al 1998b Bassetto et al 2000 Rodarte 2001 A Fig III14 mostra a imagem da fácies lacustrina sinrifte Neocomiano a Barremiano na parte central da Bacia de Campos que é caracterizada por refletores fortes contínuos e subparalelos que correspondem a intercalações de folhelhos pretos e carbonáticos com coquinas da Formação Lagoa Feia Guardado et al 1989 Mohriak et al 1990a Abrahão e Warme 1990 Mello et al 1988 Essa fácies pode ser identificada com algumas variações na região de águas profundas da Bacia de Campos Fig III15 e também nas bacias de Santos e Espírito Santo Na parte sul da Bacia de Santos as fácies lacustrinas présal são menos contínuas provavelmente devido ao preenchimento sinrifte fortemente influenciado por material vulcânico Williams e Hubbard 1984 Na Bacia do Espírito Santo uma grande espessura de sedimentos présal correspondendo ao estágio denominado sag basin Henry e Brumbaugh 1995 cobre os blocos de rifte rotacionados Esses blocos basculados são separados da bacia de subsidência termal por uma discordância angular breakup unconformity que aplainou a topografia residual do rifte Cainelli e Mohriak 1998 A megasseqüência sinrifte é normalmente coberta por rochas do Cretáceo e do Terciário aflorando apenas na região nordeste do Brasil Bahia e SergipeAlagoas Ao norte do Alto de Vitória o trend NNE deflete para uma direção quase III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 109 Figura III14 Seção sísmica na Bacia de Campos mostrando a assinatura sísmica da megasseqüência sinrifte Neocomiano Barremiano da megasseqüência transicional Aptiano e da megasseqüência pósrifte ou marinha AlbianoRecente Figure III14 Seismic section in the Campos Basin showing the seismic signature of the synrift megasequence NeocomianBarremian the transitional megasequence Aptian and the postrift or marine megasequence AlbianRecent Figura III15 Perfil geosísmico A e seção geológica B na Bacia de Campos mostrando as principais seqüências estratigráficas das megasseqüências sinrifte transicional e pósrifte ou marinha Figure III15 Geoseismic profile A and geological section B in the Campos Basin showing the main stratigraphic sequences of the syn rift transitional and postrift or marine megasequences Parte I Geologia 110 NS enquanto a linha de costa continua com a direção anterior Tal situação resulta na ocorrência de rochas sinrifte na região continental da Bacia do Espírito Santo formando um corredor estreito que marca a única província petrolífera no continente na região sudeste do Brasil Cainelli e Mohriak 1998 A sedimentação inicial dessa megasseqüência deuse em depocentros alongados controlados por falhas com preenchimento por espesso pacote de rochas siliciclásticas nas bacias entre SergipeAlagoas e Espírito Santo enquanto nas Bacias de Santos e Pelotas a seqüência mais antiga do rifte poderia incluir rochas vulcânicas derrames de lavas tholeiíticas Esse evento vulcânico datado entre 130 e 120 Ma é equivalente à grande extrusão de basaltos da Formação Serra Geral na Bacia do Paraná Mizusaki et al 1988 Zalán et al 1990 A megasseqüência sinrifte é composta por três principais associações de fácies sedimentares e litológicas Figueiredo 1985 Dias et al 1988 Cainelli e Mohriak 1998 i leque aluvialleque deltaico e depósitos transicionais ii folhelhos e margas lacustrinos e iii carbonatos com pelecípodas lacustrinos coquinas As fácies proximais das bordas dos riftes nas bacias da margem sudeste são dominadas por conglomerados e arenitos comumente com fragmentos de vulcânicas Litologias de fácies mais distais com granulometrias mais finas foram depositadas nos depocentros dos lagos onde condições anóxicas extremas permitiram a deposição e a conservação de folhelhos pretos carbonáticos ricos em matéria orgânica que constituem a principal rocha mãe para os hidrocarbonetos da bacia de Campos Guardado et al 1989 Mohriak et al 1990a Mello et al 1994 Acumulações de coquinas conchas de pelecípodes desenvolveramse em flancos e cristas ao longo dos altos internos do rifte longe das áreas fontes de sedimentos terrígenos Bertani e Carozzi 1984 Bertaini e Carozzi 1985 Abrahão e Warme 1990 Essas coquinas além de basaltos fraturados constituem os únicos reservatórios produtores de hidrocarbonetos na seção rifte da Bacia de Campos Guardado et al 1989 Mohriak et al 1990b Nas bacias do nordeste eg SergipeAlagoas e Potiguar a produção de hidrocarbonetos concentrase nos reservatórios siliciclásticos arenitos e conglomerados Na Bacia de Santos a megasseqüência sinrifte aprofundase rapidamente na direção da plataforma continental onde atinge profundidades maiores que 5000 m em grande parte da área e conseqüentemente não tem sido penetrada por poços exploratórios na região além do talude O limite do rifte ainda não é bem conhecido na região do Complexo Vulcânico de Abrolhos assim como na plataforma de Florianópolis regiões afetadas por intenso vulcanismo pós rifte Megasseqüência Transicional Esta megasseqüência marca a transição da megasseqüência sinrifte continental para a megasseqüência pósrifte ou drifte fase de deriva continental marinha A sucessão litológica iniciase com siliciclásticos do Aptiano Inferior e termina com sedimentos evaporíticos predominantemente halita com anidrita subordinada e localmente com deposição de sais de potássio em Sergipe depositados no Aptiano Superior a Albiano Inferior Esta megasseqüência desempenha importante papel como a principal camada selante para a movimentação de fluídos gerados na megasseqüência sinrifte Além disso a tectônica salífera controla a migração e distribuição de hidrocarbonetos para os reservatórios superiores por meio de falhas lístricas as fácies sedimentares dos carbonatos albianos e eventualmente dos siliciclásticos do Cretáceo Superior Figueiredo e Mohriak 1984 Esses reservatórios estão estruturados pela movimentação do sal subjacente almofadas de sal diápiros penetrantes grábens de evacuação mini bacias etc resultando numa série de trapas combinadas estratigráficas e estruturais onde estão localizados vários campos de hidrocarbonetos Figueiredo e Mohriak 1984 A megasseqüência transicional é marcada pelo término da fase de estiramento litosférico e rifteamento da crosta continental cessando a atividade de grande parte das falhas envolvendo o embasamento Um período de peneplanização das cristas dos blocos rifte rotacionados prevaleceu até que as primeiras ingressões marinhas cobrissem os sedimentos depositados no Neocomiano deixando apenas uma suave topografia residual Fig III15 Esse evento erosivo resultou na formação de clásticos grosseiros arenitos e conglomerados depositados sobre a discordância angular breakup unconformity nas regiões proximais e de carbonatos e siliciclásticos finos nas regiões mais distais Ainda no Aptiano as primeiras ingressões marinhas do Oceano Atlântico em fase inicial de formação por meio de um golfo alongado que separava a placa sulamericana da placa africana Asmus 1984 culminaram com a deposição da seqüência de evaporitos notadamente na região entre as bacias de Santos e SergipeAlagoas O limite sul da bacia evaporítica corresponde à Zona de Fratura do Rio Grande Lineamento de Florianópolis e o limite norte ao lineamento de Pernambuco Cainelli e Mohriak 1998 A movimentação do sal iniciouse no Aptiano Superior Albiano Inferior criando uma série de falhas lístricas que se propagam para a seção sedimentar mais nova criando uma estruturação complexa associada à tectônica salífera com almofadas de sal casco de tartaruga diápiros de sal muralhas de sal falhas extensionais e compressionais também controlando a deposição sedimentar em calhas associadas à evacuação do sal Figueiredo e Mohriak 1984 A bacia
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III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 103 lesteoeste alinhamentos de vulcânicas em crosta oceânica e em crosta continental e zonas de transferência de direção NW Na região de Cabo Frio observase um expressivo lineamento de direção NWSE estendendose para crosta oceânica caracterizando uma zona de cisalhamento designada Cruzeiro do Sul Souza et al 1993 Cainelli e Mohriak 1998 Ao sul da Bacia de Santos caracterizamse cadeias vulcânicas provavelmente relacionadas a altos vulcânicos pósrifte interpretados em crosta continental eg cadeia Avedis Demercian e Szatmari 1999 ou a propagadores oceânicos eg cadeia Abimael Mohriak 2001 interpretados como centros de espalhamento ativos durante a formação de crosta protooceânica e posteriormente abortados Kumar e Gamboa 1979 Mohriak 2001 Meisling et al 2001 O Platô de São Paulo apresenta em sua maior parte um substrato de crosta continental Kowsmann et al 1982 Guimarães et al 1982 Macedo 1989 Severino e Gomes 1991 Gomes et al 1993 Souza et al 1993 Entretanto a extensão das estruturas do rifte na região da província de diápiros e muralhas de sal em águas profundas não é calibrada por poços exploratórios Alguns estudos tectônicos na bacia têm questionado interpretações anteriores que prolongavam o rifte além do limite do sal até a Zona de Fratura de Rio Grande ou Lineamento de Florianópolis eg Kowsmann et al 1982 Macedo 1989 Dias 1993 Entretanto em trabalhos recentes Gladczenko et al 1997 Bassetto et al 2000 Mohriak 2001 a análise de linhas sísmicas regionais indica que o limite do sal e limite crustal podem ser caracterizados por um complexo extrusivo pósrifte relacionado à implantação de crosta proto oceânica Duas interpretações opcionais podem ser consideradas como modelos conceituais para a extensão do rifte na região de águas profundas da Bacia de Santos Fig III10 Macedo 1989 sugere que a margem sudeste brasileira teria sido afetada por uma pluma do manto que geraria uma anomalia térmica precedendo o rifteamento e portanto teria um comportamento mais dúctil durante o estiramento litosférico A Zona de Transferência de Florianópolis Fig III6 e Fig III10 terseia comportado como uma descontinuidade crustal que separaria regiões com taxas de extensão diferentes maior no sul e menor no norte próximo do pólo de rotação que estaria localizado na região nordeste Nesse modelo o rompimento da crosta se daria com implantação de centros de espalhamento inicialmente na Bacia de Pelotas enquanto na Bacia de Santos haveria a continuidade do regime distensivo Cande e Rabinowitz 1979 apresentaram mapas regionais Figura III10 Modelos opcionais para o rifte da Bacia de Santos em águas profundas a ocorrência de sedimentação do rifte desde a região de diápiros de sal até a região da Zona de Fratura de Florianópolis e b ocorrência de complexo vulcânico extrusivo associado à formação de crosta oceânica entre a província de diápiros de sal e a Zona de Fratura de Florianópolis Figure III10 Alternative models for the Santos Basin rift in the deep water region a presence of synrift sediments in the region extending from the salt diapir province towards the Florianópolis Fracture Zone and b presence of extrusive volcanic complex associated with the formation of oceanic crust between the salt diapir province and the Florianópolis Fracture Zone Parte I Geologia 104 magnéticos da margem sudeste brasileira e aventaram a possibilidade de um centro de espalhamento abortado localizado na zona axial do Platô de São Paulo com direção NNE Macedo 1989 Gomes 1992 e Dias 1993 entretanto interpretam que todo o Platô seria de natureza continental Trabalhos recentes de Karner 2000 Meisling et al 2001 e Mohriak 2001 contribuem com dados e interpretações que enfatizam a ocorrência de feições oceânicas na região anteriormente interpretada como crosta continental Observase na região sudeste brasileira uma grande anomalia gravimétrica triangular na porção sul da Bacia de Santos caracterizada por ausência de camadas de sal e aumento de batimetria e na porção norte por altos vulcânicos alinhados na direção NESW formando cadeias vulcânicas Demercian 1996 Demercian e Szatmari 1999 ou propagadores oceânicos Mohriak 2001 O modelo de implantação de centros de espalhamento por propagadores oceânicos Manighetti et al 1998 caracteriza uma evolução tectônica bem mais complexa que modelos baseados em estiramentos litosféricos diferenciais Leyden 1976 e afinamento da crosta com sedimentos sinrifte limitados pelas zonas de fraturas oceânicas Macedo 1989 Nessa interpretação várias anomalias gravimétricas e batimétricas podem ser associadas com intrusões ígneas puntiformes Bonatti 1985 que se estendem desde a Bacia de Pelotas até a parte sul da Bacia de Santos formando vários centros vulcânicos associados ao propagador oceânico da cadeia Abimael ativo na Bacia de Pelotas enquanto na Bacia de Santos a fase sinrifte ainda estava em desenvolvimento Mohriak 2001 Subseqüentemente os centros de espalhamento foram abortados e os propagadores avançaram em direção norte com deslocamentos dextrais enechelon Mohriak 2001 A leste dos centros de espalhamento oceânico as anomalias gravimétricas e os dados sísmicos indicam uma região de crosta protooceânica com difrações hiperbólicas no topo da camada 2 abaixo dos sedimentos sugerindo tratarse de derrames de basaltos Na porção centrosul da Bacia de Santos destacase também uma grande anomalia batimétrica e gravimétrica Fig III5 com uma geometria romboédrica que também tem expressão regional nos mapas de anomalias magnéticas Mohriak 2001 Essa feição está associada a um alto de embasamento onde sedimentos sinrifte diminuem de espessura ou estão aparentemente ausentes por nãodeposição ou por erosão e mesmo as seqüências póssal apresentam afinamento na direção do ápice estrutural indicando repetidas Figura III11 Alto externo na parte centrosul da Bacia de Santos com refletores divergentes no ápice de estrutura antiformal dômica Figure III11 Outer high in the centralsouthern region of the Santos Basin with divergent reflectors in the apex of an antiformal domic structure III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 105 Figura III12 Seção sísmica nãointerpretada e com interpretação esquemática na parte sul da Bacia de Santos norte de Pelotas mostrando últimos blocos de rifte rotacionados por falhas de baixo ângulo e transição para crosta oceânica por cunhas de refletores mergulhantes para o mar SDR Figure III12 Seismic section not interpreted and with a schematic interpretation in the southern part of the Santos Basin northern part of the Pelotas Basin showing the outermost rift blocks rotated by lowangle faults and the transition to oceanic crust by wedges of seawarddipping reflectors SDR reativações tectônicas afetando seqüências estratigráficas desde o Aptiano até o Cretáceo Superior Fig III11 Na direção da plataforma de Florianópolis estratos pré sal ficam com assinatura sísmica distinta da assinatura observada em depocentros como na região norte da Bacia de Santos ou na parte central da Bacia de Campos Williams e Hubbard 1984 interpretaram que os estratos subsal seriam predominantemente vulcânicos devido à proximidade da pluma de Tristão da Cunha A caracterização de uma transição de crosta continental para crosta oceânica a sul da zona de fratura de Florianópolis está relacionada a um importante baixo estrutural tanto a nível de batimetria atual quanto a nível de embasamento e também corresponde ao término da bacia evaporítica Kowsmann et al 1982 Severino et al 1991 A Fig III12 apresenta um segmento de uma linha sísmica na margem sudestesul brasileira mostrando assinatura das feições vulcânicas associadas à transição entre crosta continental para crosta oceânica Formação de crosta protooceânica e estruturas em crosta oceânica O vulcanismo Serra Geral precede o vulcanismo associado às cunhas de refletores mergulhantes para o mar que estão associadas à incepção de crosta protooceânica e desenvolveramse no intervalo 120110 Ma englobando o intervalo anterior e subseqüente à deposição dos evaporitos aptianos Cainelli e Mohriak 1998 Essas cunhas de refletores mergulhantes para o mar SDR são associados aos complexos vulcânicos relacionados à ruptura do Gondwana e formação do centro de espalhamento mesoatlântico e são imageados por levantamentos sísmicos tanto na margem continental Parte I Geologia 106 brasileira quanto na margem africana Hinz 1981 Mutter 1985 Gladczenko et al 1997 Mohriak et al 1998b Talwani e Abreu 2000 Mohriak 2001 Dessa forma esses dois eventos magmáticos relacionados à ruptura do Gondwana formaram rochas vulcânicas com diferentes expressões sísmicas e significados tectônicos distintos Mohriak et al 1995b Cainelli e Mohriak 1998 Bassetto et al 2000 O rompimento da crosta continental e formação de crosta oceânica foi um processo com notáveis assimetrias no Atlântico Sul A inserção do centro de espalhamento mesoatlântico na região sudeste foi bem mais próxima do limite do rifte na margem africana do que na margem brasileira resultando ampla extensão do rifte e da bacia evaporítica no lado brasileiro particularmente no Platô de São Paulo onde a Bacia de Santos comporta a maior parte do sal aptiano em detrimento da margem conjugada africana Leyden 1976 Szatmari et al 1985 Macedo 1989 Chang et al 1992 Szatmari 2000 A formação de crosta oceânica está relacionada à ocorrência de cunhas de refletores mergulhantes para o mar que marcam um estágio inicial da abertura do Atlântico e a fraturas e zonas de falhas transformantes que separam segmentos do centro de espalhamento notadamente na margem equatorial brasileira A Fig III12 mostra a expressão dessas feições interpretadas como cunhas de refletores mergulhantes para o mar SDR caracterizando crosta protooceânica ao sul da zona de Fratura de Florianópolis A transição da região de SDRs para uma crosta oceânica pura é ilustrada na Fig III13 na Bacia do Espírito Santo caracterizando a típica assinatura sísmica de feições intraembasamento oceânico em que se observa o forte contraste de impedância na Moho marcando a transição da base da crosta para o manto superior Zonas de transferência nos riftes da margem continental Zonas de transferência separando depocentros de riftes são reconhecidas em várias bacias sedimentares e baseandose Figura III13 Seção sísmica na região sudeste brasileira mostrando língua de sal e transição para crosta oceânica na qual claramente se caracteriza a descontinuidade de Mohorovicic limite entre a crosta e o manto superior Figure III13 Seismic section in the southeastern Brazilian region showing salt tongue and the transition to oceanic crust where the Mohorovicic discontinuity is clearly recognized at the upper mantle crust boundary III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 107 no estudo do sistema de riftes do leste africano Rosendahl 1987 propõe que essas zonas são aproximadamente paralelas ao vetor principal da extensão horizontal modelo também proposto por Gibbs 1984 para os riftes do Mar do Norte Falhas de transferência envolvendo o embasamento são geralmente associadas a processos de rifteamento ortogonal ou oblíquo No caso da margem continental brasileira essas feições podem resultar em altos síncronos de focalização para a migração de hidrocarbonetos gerados na seqüência présal Cobbold et al 2001 Meisling et al 2001 As zonas de transferência podemse estender na direção de crosta oceânica formando alinhamentos com zonas de fraturas e falhas transformantes Meisling et al 2001 propõem que a mudança de depocentros dos riftes de Campos e Santos podem ser interpretados como um escalonamento dextral de falhas extensionais enechelon ao longo do lineamento do Rio de Janeiro que foram afetadas pelo Alto de Cabo Frio este de direção NW e se propagando na direção de crosta oceânica através do Lineamento Cruzeiro do Sul Souza et al 1993 Cainelli e Mohriak 1998 Várias zonas de transferência são interpretadas na região a nordeste e a sudoeste da saliência de Campos sendo marcadas por traços sigmoidais das falhas extensionais quando cruzadas pelas zonas de transferência Meisling et al 2001 Essas zonas também podem controlar a inversão de polaridade das falhas afetando e rotacionando as camadas sinrifte mecanismo flipflop de Rosendahl 1987 A expressão sísmica das zonas de transferência corresponde a falhas normais de alto ângulo ou estruturas em flor algumas das quais mostrando separação reversa flores positivas como evidenciado na região de Cabo Frio Mohriak et al 1995b Meisling et al 2001 Também na Bacia de Santos são caracterizadas zonas de transferência freqüentemente com direção NW que também controlam a tectônica de sal Demercian e Szatmari 1999 destacandose a zona de transferência de Tubarão que separa a parte sudoeste da Bacia de Santos da plataforma de Florianópolis a zona de transferência de Merluza que separa a província SW da província central e a zona de transferência de Cabo Frio que separa a parte norte da bacia de Santos da parte sul da Bacia de Campos Cainelli e Mohriak 1998 Demercian e Szatmari 1999 Algumas das falhas transformantes ao longo da margem são associadas a zonas de fraturas e lineamentos que penetram em crosta continental como falhas ou descontinuidades sugerindo uma continuação de fraquezas anteriores na crosta continental que foram reativadas durante a formação de zonas de fraturas oceânicas Asmus e Ferrari 1978 Milani 1989 Mohriak et al 1995b Como exemplo dessas estruturas pretéritas utilizadas durante a fase rifte e aproveitadas durante a deriva continental podese sugerir que o limite préaptiano que limita a borda do rifte da Bacia de Santos continua como um lineamento na direção lesteoeste Lineamento do Rio de Janeiro e adentra a região oceânica Cainelli e Mohriak 1998 Destacase também a zona de falha de VazaBarrisItaporanga que se estende desde a Bacia de Tucano Alto de VazaBarris até a Bacia SergipeAlagoas Milani 1989 Esta zona de falha separa o Cráton São Francisco da faixa de dobramentos sergipana e se estende até a Bacia SergipeAlagoas formando a falha principal do Baixo de Mosqueiro e depois inflete na direção lesteoeste alinhandose com a zona de fratura de Sergipe Mohriak et al 2000 Na região da margem equatorial destacase a ocorrência do Lineamento Transbrasiliano que atravessa a Bacia do Parnaíba e se estende até a Bacia do Ceará onde separa segmentos extensionais e compressionais na margem continental Fig III1 Também é notável o alinhamento das falhas que controlam os riftes continentais abortados como os grábens de São Luís e BragançaViseu com o prolongamento de zonas de fraturas oceânicas Fig III3 Evolução estrutural e estratigráfica da margem continental O conhecimento do arcabouço estratigráfico da margem continental brasileira tem evoluído significativamente desde o início da década de 70 com o advento da Tectônica de Placas que relaciona a formação das bacias sedimentares da margem atlântica à separação da placa sulamericana da placa africana Utilizando paradigmas desse modelo as megasseqüências sedimentares normalmente separadas por discordâncias angulares e erosivas são intrinsecamente relacionadas às fases evolutivas prérifte sinrifte transicional e margem continental passiva O arcabouço estratigráfico adotado para as bacias da margem continental acomoda fases tectônicas com princípios estratigráficos hierarquicamente agrupados em megasse qüências deposicionais superseqüências e seqüências Cainelli e Mohriak 1998 São definidas 4 megasseqüências a pré rifte a sinrifte a transicional e a pósrifte Asmus e Ponte 1973 Asmus 1982 Megasseqüência PréRifte Esta megasseqüência representa a fase intracratônica do Supercontinente Gondwana precedendo o rifte do Atlântico Sul e formando amplas e suaves depressões que foram preenchidas por sedimentos de águas rasas A superseqüência paleozóica é notavelmente desenvolvida nas bacias intracra tônicas do Solimões Amazonas Parnaíba e Paraná eg Zalán et al 1990 Milani e Zalán 1999 e Cap II deste volume A espessura de sedimentos paleozóicos pode atingir alguns milhares de metros nessas bacias intracratônicas mas na margem nordeste brasileira a seqüência expressase apenas Parte I Geologia 108 por remanescentes de rochas do Permiano e Carbonífero que ocorrem nas bacias SergipeAlagoas nos riftes de Recôncavo TucanoJatobá e nas bacias da margem continental da Bahia onde podem atingir algumas centenas de metros Cainelli e Mohriak 1998 Também ocorrem sedimentos paleozóicos nas bacias da margem equatorial notadamente em Barreirinhas e em alguns grábens abortados eg Marajó e São Luís A Superseqüência do Jurássico é separada da seqüência do Paleozóico por um hiato que envolve todo o Triássico Um novo pulso de subsidência resultou no desenvolvimento de depressões regionais relacionadas ao estiramento litosférico inicial que precedeu a fase principal de rifteamento e formou uma grande bacia que é designada como depressão afro brasileira Garcia 1991 Essa área de sedimentação pode atingir 100 a 300 m de espessura na Bacia SergipeAlagoas cobrindo remanescentes de rochas paleozóicas ou pré cambrianas Feijó 1994c e atinge espessuras ainda maiores na Bacia do Recôncavo Na margem sudeste e sul as seqüências paleozóicas ocorrem com grande espessura na Bacia do Paraná atingindo a margem continental na região do sinclinal de Torres Dias et al 1994b As rochas prérifte na margem continental sudeste podem ser associadas ao derrame de lavas do Jurássico Superior Cretáceo Inferior da Formação Serra Geral que se estende da Bacia do Paraná até a região da plataforma continental constituindo o embasamento econômico das bacias de Pelotas até Espírito Santo Cainelli e Mohriak 1998 Megasseqüência Sinrifte Esta megasseqüência foi depositada em ambiente continental fluvial e lacustrino durante o rifteamento crustal associado à movimentação divergente entre as placas sulamericana e africana principalmente no Jurássico Superior a Cretáceo Inferior Cainelli e Mohriak 1998 O rifte da margem leste brasileira estendese por cerca de 3500 km sendo em geral limitado a oeste por falhas normais sintéticas com rejeitos variáveis chegando a 2000 m nas bacias de Campos e Sergipe Alagoas ou por linhas de charneira que apresentam pequenos rejeitos nas bacias de Santos e Pelotas Dias 1993 Na margem divergente brasileira o limite oeste da megasseqüência sinrifte também designada de megasse qüência continental em geral é controlado por um flexura no embasamento ou por um sistema de falhas normais com mergulho predominante para leste falhas sintéticas como na Bacia do Espírito Santo ou Campos ou para oeste falhas antitéticas como na Bacia de Pelotas Na margem divergente esse limite apresenta uma direção geral NS a NNESSW exceto na região entre Cabo Frio e Ilha de São Sebastião onde ocorre uma inflexão lesteoeste Nas bacias de Pelotas Santos e Campos sedimentos sinrifte estão ausentes na região emersa uma vez que o limite oeste do rifte encontrase na plataforma continental exceto nas proximidades do Cabo de São Tomé na Bacia de Campos onde o limite préaptiano aproximase da linha de costa Fig III6 Nessa região ocorre também uma conspícua subida do manto litosférico marcandose um alto da Moho em linhas sísmicas de resolução profunda Mohriak 1989 Mohriak et al 1990b que coincide com o início dos falhamentos que controlaram a sedimentação do rifte Fig III9 Feições crustais semelhantes também ocorrem na região do Alto de Vitória e na Bacia SergipeAlagoas onde linhas regionais também mostram a subida da Moho bastante abrupta na plataforma e uma suavização da topografia do manto superior na região de águas profundas Mohriak et al 1990b Chang et al 1992 Mohriak et al 1995b O limite leste da megasseqüência sinrifte é de extrema importância por condicionar a área de ocorrência de rochas lacustrinas potencialmente geradoras de hidrocarbonetos Essa interpretação é baseada na integração de métodos sísmicos e potenciais Mohriak et al 1995b A delimitação da ocorrência de rochas do rifte na direção de águas profundas é prejudicada pela degradação do sinal sísmico na província de muralhas de sal e junto ao limite transicional entre crosta continental e crosta oceânica A identificação deste limite cuja análise é baseada na integração de dados gravimétricos e magneto métricos apresenta importantes implicações para exploração de petróleo em águas profundas Mohriak et al 1990b Mohriak et al 1995b Bassetto et al 1996 Mohriak et al 1998b Bassetto et al 2000 Rodarte 2001 A Fig III14 mostra a imagem da fácies lacustrina sinrifte Neocomiano a Barremiano na parte central da Bacia de Campos que é caracterizada por refletores fortes contínuos e subparalelos que correspondem a intercalações de folhelhos pretos e carbonáticos com coquinas da Formação Lagoa Feia Guardado et al 1989 Mohriak et al 1990a Abrahão e Warme 1990 Mello et al 1988 Essa fácies pode ser identificada com algumas variações na região de águas profundas da Bacia de Campos Fig III15 e também nas bacias de Santos e Espírito Santo Na parte sul da Bacia de Santos as fácies lacustrinas présal são menos contínuas provavelmente devido ao preenchimento sinrifte fortemente influenciado por material vulcânico Williams e Hubbard 1984 Na Bacia do Espírito Santo uma grande espessura de sedimentos présal correspondendo ao estágio denominado sag basin Henry e Brumbaugh 1995 cobre os blocos de rifte rotacionados Esses blocos basculados são separados da bacia de subsidência termal por uma discordância angular breakup unconformity que aplainou a topografia residual do rifte Cainelli e Mohriak 1998 A megasseqüência sinrifte é normalmente coberta por rochas do Cretáceo e do Terciário aflorando apenas na região nordeste do Brasil Bahia e SergipeAlagoas Ao norte do Alto de Vitória o trend NNE deflete para uma direção quase III Bacias Sedimentares da Margem Continental Brasileira 109 Figura III14 Seção sísmica na Bacia de Campos mostrando a assinatura sísmica da megasseqüência sinrifte Neocomiano Barremiano da megasseqüência transicional Aptiano e da megasseqüência pósrifte ou marinha AlbianoRecente Figure III14 Seismic section in the Campos Basin showing the seismic signature of the synrift megasequence NeocomianBarremian the transitional megasequence Aptian and the postrift or marine megasequence AlbianRecent Figura III15 Perfil geosísmico A e seção geológica B na Bacia de Campos mostrando as principais seqüências estratigráficas das megasseqüências sinrifte transicional e pósrifte ou marinha Figure III15 Geoseismic profile A and geological section B in the Campos Basin showing the main stratigraphic sequences of the syn rift transitional and postrift or marine megasequences Parte I Geologia 110 NS enquanto a linha de costa continua com a direção anterior Tal situação resulta na ocorrência de rochas sinrifte na região continental da Bacia do Espírito Santo formando um corredor estreito que marca a única província petrolífera no continente na região sudeste do Brasil Cainelli e Mohriak 1998 A sedimentação inicial dessa megasseqüência deuse em depocentros alongados controlados por falhas com preenchimento por espesso pacote de rochas siliciclásticas nas bacias entre SergipeAlagoas e Espírito Santo enquanto nas Bacias de Santos e Pelotas a seqüência mais antiga do rifte poderia incluir rochas vulcânicas derrames de lavas tholeiíticas Esse evento vulcânico datado entre 130 e 120 Ma é equivalente à grande extrusão de basaltos da Formação Serra Geral na Bacia do Paraná Mizusaki et al 1988 Zalán et al 1990 A megasseqüência sinrifte é composta por três principais associações de fácies sedimentares e litológicas Figueiredo 1985 Dias et al 1988 Cainelli e Mohriak 1998 i leque aluvialleque deltaico e depósitos transicionais ii folhelhos e margas lacustrinos e iii carbonatos com pelecípodas lacustrinos coquinas As fácies proximais das bordas dos riftes nas bacias da margem sudeste são dominadas por conglomerados e arenitos comumente com fragmentos de vulcânicas Litologias de fácies mais distais com granulometrias mais finas foram depositadas nos depocentros dos lagos onde condições anóxicas extremas permitiram a deposição e a conservação de folhelhos pretos carbonáticos ricos em matéria orgânica que constituem a principal rocha mãe para os hidrocarbonetos da bacia de Campos Guardado et al 1989 Mohriak et al 1990a Mello et al 1994 Acumulações de coquinas conchas de pelecípodes desenvolveramse em flancos e cristas ao longo dos altos internos do rifte longe das áreas fontes de sedimentos terrígenos Bertani e Carozzi 1984 Bertaini e Carozzi 1985 Abrahão e Warme 1990 Essas coquinas além de basaltos fraturados constituem os únicos reservatórios produtores de hidrocarbonetos na seção rifte da Bacia de Campos Guardado et al 1989 Mohriak et al 1990b Nas bacias do nordeste eg SergipeAlagoas e Potiguar a produção de hidrocarbonetos concentrase nos reservatórios siliciclásticos arenitos e conglomerados Na Bacia de Santos a megasseqüência sinrifte aprofundase rapidamente na direção da plataforma continental onde atinge profundidades maiores que 5000 m em grande parte da área e conseqüentemente não tem sido penetrada por poços exploratórios na região além do talude O limite do rifte ainda não é bem conhecido na região do Complexo Vulcânico de Abrolhos assim como na plataforma de Florianópolis regiões afetadas por intenso vulcanismo pós rifte Megasseqüência Transicional Esta megasseqüência marca a transição da megasseqüência sinrifte continental para a megasseqüência pósrifte ou drifte fase de deriva continental marinha A sucessão litológica iniciase com siliciclásticos do Aptiano Inferior e termina com sedimentos evaporíticos predominantemente halita com anidrita subordinada e localmente com deposição de sais de potássio em Sergipe depositados no Aptiano Superior a Albiano Inferior Esta megasseqüência desempenha importante papel como a principal camada selante para a movimentação de fluídos gerados na megasseqüência sinrifte Além disso a tectônica salífera controla a migração e distribuição de hidrocarbonetos para os reservatórios superiores por meio de falhas lístricas as fácies sedimentares dos carbonatos albianos e eventualmente dos siliciclásticos do Cretáceo Superior Figueiredo e Mohriak 1984 Esses reservatórios estão estruturados pela movimentação do sal subjacente almofadas de sal diápiros penetrantes grábens de evacuação mini bacias etc resultando numa série de trapas combinadas estratigráficas e estruturais onde estão localizados vários campos de hidrocarbonetos Figueiredo e Mohriak 1984 A megasseqüência transicional é marcada pelo término da fase de estiramento litosférico e rifteamento da crosta continental cessando a atividade de grande parte das falhas envolvendo o embasamento Um período de peneplanização das cristas dos blocos rifte rotacionados prevaleceu até que as primeiras ingressões marinhas cobrissem os sedimentos depositados no Neocomiano deixando apenas uma suave topografia residual Fig III15 Esse evento erosivo resultou na formação de clásticos grosseiros arenitos e conglomerados depositados sobre a discordância angular breakup unconformity nas regiões proximais e de carbonatos e siliciclásticos finos nas regiões mais distais Ainda no Aptiano as primeiras ingressões marinhas do Oceano Atlântico em fase inicial de formação por meio de um golfo alongado que separava a placa sulamericana da placa africana Asmus 1984 culminaram com a deposição da seqüência de evaporitos notadamente na região entre as bacias de Santos e SergipeAlagoas O limite sul da bacia evaporítica corresponde à Zona de Fratura do Rio Grande Lineamento de Florianópolis e o limite norte ao lineamento de Pernambuco Cainelli e Mohriak 1998 A movimentação do sal iniciouse no Aptiano Superior Albiano Inferior criando uma série de falhas lístricas que se propagam para a seção sedimentar mais nova criando uma estruturação complexa associada à tectônica salífera com almofadas de sal casco de tartaruga diápiros de sal muralhas de sal falhas extensionais e compressionais também controlando a deposição sedimentar em calhas associadas à evacuação do sal Figueiredo e Mohriak 1984 A bacia