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Ezequiel
1. Leia a segunda parte do Sermão da Sexagésima, que o Padre...
- Leia a segunda parte do Sermão da Sexagésima, que o Padre Antônio Vieira pregou à nobreza de Portugal na Capela Real, em 1655, em Lisboa. A "sexagésima" é o penúltimo domingo antes da Quaresma (aproximadamente, o sexagésimo dia antes da Páscoa).
Semen est verbum Dei
O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embarcados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desdenham e ao desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina; e assim, em tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum.
A grande frutificação da palavra de Deus é o que renovo hoje; é em dúvida ou admiração que me traz suspense e confusão, depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Diz Cristo que a palavra de Deus frutifica cento por um, e já eu me contentara com que frutificassem um homem. Se com cada cem sermões se convertere e emendare um homem, já o Mundo fora santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos passados com os presentes. Lede as histórias eclesiásticas, e achá-las-eis todas cheias de admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reforma de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do Mundo; os reis renunciando os cetros e as coroas; as mocinhas e as gentilzas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? — Nada disto. Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que há um velho que se desengane. Que isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que antes era.
Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; e a palavra de Deus tem hoje tantos frutos, porque por não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta é a questão que importa dúvida, será a matéria do sermão. Quero dizer uma palavra importante, M. A mim mesma, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendiais a ouvir.
VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/vieira-antonio-sermao-sexagesima.html. Acesso em: 23 mar. 2020.
a) Identifique a analogia (relação de semelhança) contida no primeiro período do sermão e explique por que é irrefutável.
b) Como vimos no estudo do poema satírico de Gregório de Matos (página 43), é comum, no Barroco, o uso do recurso da disseminação e colheita. Transcreva o período em que Vieira faz a disseminação e identifique o recurso que emprega para fazer a colheita.
c) Qual o sentido de "reparar" em "Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje?"
d) É correto afirmar que Padre Vieira contesta a afirmação de Cristo de que a palavra divina "frutifica cento por um"? Justifique sua resposta com trechos do texto.
e) No segundo parágrafo, o pregador confessa um estranhamento. Qual?
f) O texto de Vieira não perde de vista seu interlocutor. Que marcas linguísticas sugerem essa interlocução permanente?
- Leia a segunda parte do Sermão da Sexagésima, que o Padre Antônio Vieira pregou à nobreza de Portugal na Capela Real, em 1655, em Lisboa. A "sexagésima" é o penúltimo domingo antes da Quaresma (aproximadamente, o sexagésimo dia antes da Páscoa).
Semen est verbum Dei
O trigo que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu são os diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embarcados com cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus, e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de Deus, porque a desdenham e ao desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a palavra divina; e assim, em tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um: Et fructum fecit centuplum.
A grande frutificação da palavra de Deus é o que renovo hoje; é em dúvida ou admiração que me traz suspense e confusão, depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e tão poderosa, como vemos tão pouco fruto da palavra de Deus? Diz Cristo que a palavra de Deus frutifica cento por um, e já eu me contentara com que frutificassem um homem. Se com cada cem sermões se convertere e emendare um homem, já o Mundo fora santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, se aperta ainda mais na experiência, comparando os tempos passados com os presentes. Lede as histórias eclesiásticas, e achá-las-eis todas cheias de admiráveis efeitos da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta reforma de costumes; os grandes desprezando as riquezas e vaidades do Mundo; os reis renunciando os cetros e as coroas; as mocinhas e as gentilzas metendo-se pelos desertos e pelas covas; e hoje? — Nada disto. Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não há um homem que há um velho que se desengane. Que isto? Assim como Deus não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que antes era.
Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; e a palavra de Deus tem hoje tantos frutos, porque por não vemos hoje nenhum fruto da palavra de Deus? Esta é a questão que importa dúvida, será a matéria do sermão. Quero dizer uma palavra importante, M. A mim mesma, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendiais a ouvir.
VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Sexagésima. Disponível em: http://bocc.ubi.pt/pag/vieira-antonio-sermao-sexagesima.html. Acesso em: 23 mar. 2020.
a) Identifique a analogia (relação de semelhança) contida no primeiro período do sermão e explique por que é irrefutável.
b) Como vimos no estudo do poema satírico de Gregório de Matos (página 43), é comum, no Barroco, o uso do recurso da disseminação e colheita. Transcreva o período em que Vieira faz a disseminação e identifique o recurso que emprega para fazer a colheita.
c) Qual o sentido de "reparar" em "Este grande frutificar da palavra de Deus é o em que reparo hoje?"
d) É correto afirmar que Padre Vieira contesta a afirmação de Cristo de que a palavra divina "frutifica cento por um"? Justifique sua resposta com trechos do texto.
e) No segundo parágrafo, o pregador confessa um estranhamento. Qual?
f) O texto de Vieira não perde de vista seu interlocutor. Que marcas linguísticas sugerem essa interlocução permanente?