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Miquelly
14 DE JUNHO ...Está chovendo. Eu não posso ir catar papel. O...
14 DE JUNHO ...Está chovendo. Eu não posso ir catar papel. O dia que
chove eu sou mendiga. Já ando mesmo trapuda e suja. Já uso o uniforme dosindigentes. E hoje é sabado. Os favelados são considerados mendigos. Vou
aproveitar a deixa. A Vera não vai sair comigo porque está chovendo. (...)
Ageitei um guarda-chuva velho que achei no lixo e saí. Fui no Frigorífico,
ganhei uns ossos. já serve. Faço uma sopa. Já que a barriga não fica vazia, tentei
viver com ar. Comecei desmaiar. Então eu resolvi trabalhar porque eu não quero
desistir da vida.
Quero ver como é que eu vou morrer. Ninguém deve alimentar a ideia de
suicídio. Mas hoje em dia os que vivem até chegar a hora da morte, é um heroi.
Porque quem não é forte desanima.
...Vi uma senhora reclamar que ganhou só ossos no Frigorífico e que os
ossos estavam limpos.
—E eu gosto tanto de carne.
Fiquei nervosa ouvindo a mulher lamentar-se porque é duro a gente vir
ao mundo e não poder nem comer. Pelo que observo, Deus é o rei dos sábios. Ele
pois os homens e os animais no mundo. Mas os animais quem lhes alimenta é a
Natureza porque se os animais fossem alimentados igual aos homens, havia de
sofrer muito. Eu penso isto, porque quando eu não tenho nada para comer, invejo
os animais.
...Enquanto eu esperava na fila para ganhar bolachas ia ouvindo as
mulheres lamentar-se. Outra mulher reclamava que passou numa casa e pediu
uma esmola. A dona da casa mandou esperar (...) A mulher continuou dizendo
que a dona da casa surgiu com um embrulho e deu-lhe. Ela não quiz abrir o
embrulho perto das colegas, com receio que elas pedissem. Começou pensar.
Será um pedaço de queijo? Será carne? Quando ela chegou em casa a primeira
coisa que fez, foi desfazer o embrulho porque a curiosidade é amiga das
mulheres. Quando desfez o embrulho viu que eram ratos mortos.
Tem pessoas que zombam dos que pedem.
Na fabrica de bolacha o homem disse que não ia dar mais bolacha. Mas
as mulheres continuaram quietas. E a fila estava aumentando. Quando chegava
alguém para comprar, ele explicava:
—O senhor desculpe o aspecto hediondo que este povo dá na porta da
fabrica. Mas por infelicidade minha todos os sábados é este inferno.
Eu ficava impaciente porque queria ouvir o que o dono da fabrica dizia.E queria ouvir o que as mulheres dizia. Que dilema triste para quem presencia.
As pobres querendo ganhar. E o rico não queria dar. Ele dá só os pedaços de
bolacha. E elas saem contentes como se fossem a Rainha Elisabethe da
Inglaterra quando recebeu os treze milhões em joias que o presidente Kubstchek
lhe enviou como presente de aniversário.
O dono da fabrica vendo que elas não iam embora, mandou dar. A
empregada nos dava e dizia:
—Quem ganhar deve ir-se embora.
Eles alegam que não estão em condições de dar esmola porque a farinha
de trigo subiu muito. Mas os mendigos já estão habituados a ganhar as bolachas
todos os sabados.
Não ganhei bolacha e fui na feira, catar verduras. Encontrei com a dona
Maria do José Bento e começamos a falar sobre o custo de vida.
14 DE JUNHO ...Está chovendo. Eu não posso ir catar papel. O dia que chove eu sou mendiga. Já ando mesmo trapuda e suja. Já uso o uniforme dosindigentes. E hoje é sabado. Os favelados são considerados mendigos. Vou aproveitar a deixa. A Vera não vai sair comigo porque está chovendo. (...) Ageitei um guarda-chuva velho que achei no lixo e saí. Fui no Frigorífico, ganhei uns ossos. já serve. Faço uma sopa. Já que a barriga não fica vazia, tentei viver com ar. Comecei desmaiar. Então eu resolvi trabalhar porque eu não quero desistir da vida. Quero ver como é que eu vou morrer. Ninguém deve alimentar a ideia de suicídio. Mas hoje em dia os que vivem até chegar a hora da morte, é um heroi. Porque quem não é forte desanima. ...Vi uma senhora reclamar que ganhou só ossos no Frigorífico e que os ossos estavam limpos. —E eu gosto tanto de carne. Fiquei nervosa ouvindo a mulher lamentar-se porque é duro a gente vir ao mundo e não poder nem comer. Pelo que observo, Deus é o rei dos sábios. Ele pois os homens e os animais no mundo. Mas os animais quem lhes alimenta é a Natureza porque se os animais fossem alimentados igual aos homens, havia de sofrer muito. Eu penso isto, porque quando eu não tenho nada para comer, invejo os animais. ...Enquanto eu esperava na fila para ganhar bolachas ia ouvindo as mulheres lamentar-se. Outra mulher reclamava que passou numa casa e pediu uma esmola. A dona da casa mandou esperar (...) A mulher continuou dizendo que a dona da casa surgiu com um embrulho e deu-lhe. Ela não quiz abrir o embrulho perto das colegas, com receio que elas pedissem. Começou pensar. Será um pedaço de queijo? Será carne? Quando ela chegou em casa a primeira coisa que fez, foi desfazer o embrulho porque a curiosidade é amiga das mulheres. Quando desfez o embrulho viu que eram ratos mortos. Tem pessoas que zombam dos que pedem. Na fabrica de bolacha o homem disse que não ia dar mais bolacha. Mas as mulheres continuaram quietas. E a fila estava aumentando. Quando chegava alguém para comprar, ele explicava: —O senhor desculpe o aspecto hediondo que este povo dá na porta da fabrica. Mas por infelicidade minha todos os sábados é este inferno. Eu ficava impaciente porque queria ouvir o que o dono da fabrica dizia.E queria ouvir o que as mulheres dizia. Que dilema triste para quem presencia. As pobres querendo ganhar. E o rico não queria dar. Ele dá só os pedaços de bolacha. E elas saem contentes como se fossem a Rainha Elisabethe da Inglaterra quando recebeu os treze milhões em joias que o presidente Kubstchek lhe enviou como presente de aniversário. O dono da fabrica vendo que elas não iam embora, mandou dar. A empregada nos dava e dizia: —Quem ganhar deve ir-se embora. Eles alegam que não estão em condições de dar esmola porque a farinha de trigo subiu muito. Mas os mendigos já estão habituados a ganhar as bolachas todos os sabados. Não ganhei bolacha e fui na feira, catar verduras. Encontrei com a dona Maria do José Bento e começamos a falar sobre o custo de vida.