(2) Na seção anterior, você leu o início do conto "O relógio de ouro", do escritor Machado de Assis. Agora, vai ler sua continuação e responder a algumas questőes sobre a leitura.
Clarinha não estava na alcova quando Luis Negreiros ali entrou. Deixou-se ficar na sala, a folhear um romance, sem compreender muito nem pouco aos ósculos com que o marido a curnprimentou logo à entrada. Era uma bonita moça esta Clarinha, ainda que um tanto pálida, ou por isso mesmo. Era pequena e delgada; de longe parecia uma criança; de perto, quem the examinasse os olhos, veria bem que era mulher como poucas. Estava molemente reclinada no sofá, com o livro aberto e, os olhos no livro, os olhos apenas, porque o pensamento, não tenho certeza se estava no livro, se em outra parte. Em todo o caso parecia alheia ao marido e ao relógio.
Luís Negreiros lançou mâo do relógio com uma expressão que eu não me atrevo a descrever. Nem o relógio, nem a corrente eram dele; também nâo eram das pessoas suas conhecidas. Tratava-se de uma charada. Luís Negreiros gostava de charadas, e passava por ser decifrador intrépido; mas gostava de charadas nas folhinhas ou nos jornais. Charadas palpáveis e sobretudo sem conceito, não as apreciava Luís Negreiros.
Por este motivo, e outros que são óbvios, compreenderá o leitor que o esposo de Clarinha se atirasse sobre uma cadeira, puxasse raivosamente os cabelos, batesse com o pé no chão, e lançasse o relógio e a corrente para cima da mesa. Terminada esta primeira manifestação de furor, Luis Negreiros pegou de novo nos fatais objetos, e de novo os examinou. Ficou na mesma. Cruzou os braços durante algum tempo e refletiu sobre o caso, interrogou todas as suas recordaçōes, e concluiu no fim de tudo que, sem uma explicação de Clarinha qualquer procedimento fora baldado ou precipitado.
Foi ter com ela. [...]
MACHADO DE ASSIS, Joaquim M. O relógio de ouro. In: ASSIS, Machado de. Histórias da meia-noite. São Paulo: LEL [s.d.]. p. 176-246. (Coleção obras ilustradas de Machado de Assis, v. 1).
JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS (1839-1908)
Escritor nascido no Rio de Janeiro, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira. Foi cronista, contista, romancista, jornalista, poeta e teatrólogo. É considerado, por muitos especialistas, o maior nome da Literatura brasileira em prosa.
De acordo com o contexto, escreva o que se pode compreender do trecho a seguir.
Deixou-se ficar na sala, a folhear um romance, sem compreender muito nem pouco aos ósculos com que o marido a cumprimentou logo à entrada.
Transcreva as características físicas de Clarinha.