4. Agora, leia este trecho do livro Cem anos de solidão, de ...
Agora, leia este trecho do livro Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, e considere a relação com o leitor estabelecida no fragmento.
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Choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias. Houve épocas de garoa em que todo mundo vestiu suas roupas de ver o bispo e armou uma cara de convalescente para celebrar a estiagem, mas logo se acostumaram a interpretar as pausas como anúncios de recrudescimento. O céu desabava numas tempestades de estropício, e o norte mandava uns furacões que destrambelhavam tetos e derrubavam paredes, e desenterraram pela raiz os últimos pés das plantações. [...] A atmosfera era tão úmida que os peixes teriam podido entrar pelas portas e sair pelas janelas, navegando no ar dos aposentos. [...] Foi preciso escavar canais para desaguar a casa e livrá-la de sapos e caracóis, para que pudessem secar o chão, tirar os tijolos dos pés das camas e caminhar outra vez com sapatos. […]
MÁRQUEZ, G. G. Cem anos de solidão.
Tradução de Eric Nepomuceno.
ed. Rio de Janeiro: Record, 2016.
p. 339−340.
convalescente: aquele que está
se recuperando, melhorando.
recrudescimento: agravamento.
estropício: maldade, prejuízo.
destrambelhar: destruir.
a) O trecho se refere a um estranho acontecimento que ocorre em Macondo, aldeia fictícia onde se passa a história do livro. O que é estranho nesse trecho?
b) Releia o trecho e perceba atentamente como são descritos os detaThes desse acontecimento. Que frase, palavra ou trecho chamou sua atenção? Explique.
c) Que pacto é preciso ser estabelecido entre autor, texto e leitor para que este se envolva com a história?
d) Leia o boxe #saibamais ao lado a respeito do Realismo Fantástico e compare o texto de García Márquez com a crônica de Antonio Prata. De que maneira o estranho ou o incomum estão presentes nos temas dessas duas produções e se manifestam no pacto que estabelecem com o leitor?