Aniversário
5.
- Amanhã faço dez anos. Vou aproveitar bem este meu último dia de nove anos.
Clarice Lispector
Pausa, tristeza.
- Mamãe, minha alma não tem dez anos.
- Quanto tem?
- Acho que só uns oito.
- Não faz mal, é assim mesmo.
- Mas eu acho que deviam contar os anos pela alma. A gente dizia: aquele cara morreu com 20 anos de alma. E o cara tinha morrido mas era com 70 anos de corpo.
Mais tarde começou a cantar, interrompeu-se e disse:
- Estou cantando em minha homenagem. Mas, mamãe, eu não aproveitei bem os meus dez anos de vida.
- Aproveitou muito bem.
- Não, não quero dizer aproveitar fazendo coisas, fazendo isso e fazendo aquilo. Quero dizer que não fui contente o suficiente. O que é? Você ficou triste?
- Não. Vem cá para eu te beijar.
- Viu? Eu não disse que você ficou triste?! Viu quantas vezes me beijou?! Quando uma pessoa beija tanto outra é porque está triste.
LISPECTOR, C. Para não esquecer. 5. ed. São Paulo: Siciliano, 1992.
Estando próximo o seu aniversário, a criança conversa a respeito do evento com a mãe e esta demonstra, segundo a própria criança, certa tristeza. O motivo da emoção da mãe advém
A) da negação do filho com relação à própria idade, uma vez que se considera mais jovem.
B) da impossibilidade de se ter aproveitado os dez anos de vida fazendo coisas interessantes.
C) do excesso de tarefas que a impede de dar atenção ao filho no momento em que este precisa dela.
(8. da estranheza do menino, preocupado mais com a idade da alma do que com a sua idade real.
E) da insatisfação que o filho demonstra com a própria vida, algo próprio da condição humana.
AVALIAÇĀO DIAGNÓSTICA - 1∘ SEMESTRE
−4−