A estranha passageira
- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de voo – e ri nervosinha, coitada.
Depois pediu que me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calma e isto iria fazer-lhe bem. L
se a oportunidade de ler romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspeitei e fiz o "banco" respondendo que estava à sua ordem.
Riso e riso no avião sobrecarregado com um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente. Gorda como uma vaca, tinha um ar de quem não se importava com as outras pessoas. Depois sabia como arremessar os olhos, para realizar essa operação em sua farta cintura.
Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu estado nervoso e ela se estabeleceu em suas poses íntimas. A risada foi ficando ridícula.
— Como é que a senhora usou em caso de necessidade – respondi baixinho.
— Tenho certeza de que: ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela
— As necessidades: o que é? – perguntou o comissário.
Alguns passageiros riram, outros – por finança – fingiram ignorar o lamentável equívoco da incomodada passageira em primeira viagem. Mas ela era tão persistente que não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia no cabelo e ficava batendo os pés para os lados. A mulher ao meu lado, que se encontrava em posição de decologem. Apresentou-me um olhar de desprezo e logo veio a pergunta:
— Quem é você?
Expliquei que emergência não era nenhuma, a não ser a de emergência, isto é, em caso de necessidade.
Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do "show". Mas não demorou muito e ela começou a se acomodar para tirar uma pestana.
— Fui quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ele pediria para o lado da janela para ver a paisagem) e gritou:
— Puxa vida!!
Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:
— Olha lá embaixo.
Eu olhei. E ela acrescentou:
— Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o pessoal lá embaixo até parece formiga.
Suspeitei e lasquei:
— Minha senhora, aqui só formigas mesmo. O avião ainda não levantou voo.
Preta, Stanislaw Ponte. Garoto linha dura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975
Estudo de Texto – RESPONDA EM SEU CADERNO
1) Qual o foco narrativo deste texto?
2) Quais adjetivos são usados no texto, para caracterizar a estranha passageira?
3) Por que a estranha passageira estava nervosa?
4) Escreva com suas palavras como foi a entrada da estranha passageira no avião, descrita pelo narrador no 3º parágrafo.
5) A mulher perguntou qual a finalidade do saquinho que o avião disponibiliza aos passageiros e o homem respondeu:
“É para a senhora usar em caso de necessidade”.
a) De que forma a mulher entendeu essa fala?
b) O que o homem quis dizer com “caso de necessidade”?
c) Que mancada a passageira deu com relação à saída de emergência?
d) Leia: “Fui quando madama deu o último vexame”. Qual foi o último vexame da estranha passageira?
e) Substitua os termos abaixo por sinônimos, reescrevendo as frases e fazendo as alterações necessárias.
a) “Eu suspeitei e fiz o banco”.
b) “Para me distrair na viagem.”
c) “Suspirei e fiz o favor.”
d) “Tirei e realizei essa operação em sua farta cintura.”