A luta negra nas cidades
A abolição da escravidão e a proclamação da república não garantiram a criação de políticas públicas para a inclusão social das populações negras. O racismo, acordado em ideias pseudocientíficas e na defesa do embranquecimento da nação, contribuiu para a permanência de um quadro de segregação e pobreza desse segmento social.
Por isso, apesar de terem conquistado a liberdade, os negros tiveram que travar diversas lutas por inclusão, respeito e visibilidade, uma batalha que se estende até os dias atuais.
A Revolta da Chibata
Durante a Primeira República, o ingresso nas Forças Armadas podia ser voluntário, representando para os negros um caminho de inserção social e meio de sobrevivência, o involuntário, situação de muitos órfãos e criminosos que eram obrigados a se alistar no serviço militar.
Na marinha, especialmente, os marujos vinham de famílias pobres, e muitos deles eram ex-escravos ou descendentes de escravos. Do outro lado, os cargos oficiais eram ocupados por membros das camadas mais ricas da sociedade. Para os oficiais, a disciplina só podia ser mantida com a mesma violência aplicada antes nas fazendas. Por isso, era muito comum que eles usassem a violência física e psicológica contra seus subordinados.
Em 23 de novembro de 1910, um marinheiro foi castigado com 250 chibatadas na frente de seus colegas de trabalho. O acontecimento foi o ápice para que os marinheiros dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo tomassem posses das suas embarcações e se amotinassem. Eles exigiam o fim dos castigos físicos na marinha brasileira, especialmente as chibatadas, que eram estabelecidos pelos oficiais.
Liderada pelo marinheiro João Cândido, o Almirante Negro, a revolta se espalhou por outros navios de guerra. Inicialmente, com temor de que a cidade do Rio de Janeiro fosse bombardeada, o então presidente Hermes da Fonseca cedeu às exigências dos marinheiros, prometendo anistiar os amotinados. Porém, após a rendição, o governo prendeu e expulsou vários marinheiros da corporação.