Acrobata da dor
Gargalha, ri, num riso de tormenta, Como um palhaço, que desengonçado, Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado De uma ironia e de uma dor violenta.
Da gargalhada atroz, sanguinolenta, Agita os guizos, e convulsionado Salta, gavroche, salta clown, varado Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-se bis e um bis não se despreza! Vamos! retesa os músculos, retesa Nessas macabras piruetas d’aço...
E embora caias sobre o chão, fremente, Afogado em teu sangue estuoso e quente, Ri!Coração, tristíssimo palhaço.*gavroche: S.m. 1. Garoto esperto e travesso.
SOUSA, C. Acrobata da dor. In: Melhores poemas – Cruz e Sousa. São Paulo: Global Editora, 1998.
No soneto de Cruz e Sousa, a metáfora que intitula o poema refere-se ao
coração, colocando-o como representante simbólico da experienciação de emoções.
sangue, pautando a violência dos sentimentos a partir da construção de uma hipérbole.
riso, personificando-o para indicar uma obrigação imposta diante do sofrimento humano.
gavroche, relacionando o martírio da vida a uma percepção infantilizada dos sentimentos.
palhaço, reiterando o elemento circense através do paradoxo entre a figura cômica e o sofrer.