ao senhor 903
Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclama contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. [...]
BRAGA, Rubem. Recado ao Sr. 903. Manchete. Rio de Janeiro, 1954. Fragmento. Disponível em: https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/11526/recado-ao-sr-903. Acesso em: 27 dez. 2023.
Apesar do fragmento de texto ser uma crônica, percebe-se que ele
segue a estrutura de uma carta de reclamação, mas com um pedido de desculpas.
está baseado na estrutura de um artigo de opinião, defendendo o ponto de vista de um morador.
parece um resumo, no entanto, descreve os fatos ocorridos com riqueza de detalhes.
é semelhante a um resumo, sintetizando acontecimentos de dias anteriores de modo objetivo.