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João
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ATIVIDADES PROPOSTAS 1. (IME-RJ) Das vantagens de ser bobo O...
ATIVIDADES PROPOSTAS
- (IME-RJ)
Das vantagens de ser bobo
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos se lembrem de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneidade lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas, que esquecem detalhes que descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoiévski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um refrigerador de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea, onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que vem.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada que menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. Certa terminando dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto, não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que fazem passar por bobos. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, é importante saber que eles sabem.
Bobo é Chagall, que pôs vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo. É só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor é bobo.
LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/
(Texto originalmente publicado no Jornal do Brasil, em 12 de setembro de 1970).
Na frase "[...] só o bobo é capaz de excesso de amor", a semântica da palavra só, neste contexto, (a) estabelece comparação entre bobos e espertos e funciona como adjetivo.
(b) evidencia a solidez dos que são bobos em um mundo em que a palavra é das pessoas às espertas. Funciona como adjetivo.
(c) modifica o sentido do substantivo amor, sendo, por isso, um adjetivo.
(d) é um adjetivo capaz, intensificando essa capacidade que apenas os bobos têm. Funciona, portanto, como adjetivo.
O termo restritivo quanto ao bobo capta excessos de amor e funciona como um advérbio que se refere à palavra bobo.
ATIVIDADES PROPOSTAS
- (IME-RJ) Das vantagens de ser bobo O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos se lembrem de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneidade lhe vem a ideia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas, que esquecem detalhes que descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoiévski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um refrigerador de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea, onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo, enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que vem. Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada que menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. Certa terminando dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?" Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto, não teria morrido na cruz. O bobo é sempre tão simpático que há espertos que fazem passar por bobos. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, é importante saber que eles sabem. Bobo é Chagall, que pôs vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo. É só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor é bobo. LISPECTOR, Clarice. Das vantagens de ser bobo. Disponível em: http://www.revistapazes.com/das-vantagens-de-ser-bobo/ (Texto originalmente publicado no Jornal do Brasil, em 12 de setembro de 1970). Na frase "[...] só o bobo é capaz de excesso de amor", a semântica da palavra só, neste contexto, (a) estabelece comparação entre bobos e espertos e funciona como adjetivo. (b) evidencia a solidez dos que são bobos em um mundo em que a palavra é das pessoas às espertas. Funciona como adjetivo. (c) modifica o sentido do substantivo amor, sendo, por isso, um adjetivo. (d) é um adjetivo capaz, intensificando essa capacidade que apenas os bobos têm. Funciona, portanto, como adjetivo.
O termo restritivo quanto ao bobo capta excessos de amor e funciona como um advérbio que se refere à palavra bobo.