Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
DRUMMOND DE ANDRADE, C. Nova Reunião: 23 livros de poesia - 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Entre muitas temáticas, os poemas de Drummond discutem concepções a respeito do homem e de seus aspectos existenciais. Em Congresso Internacional do Medo, o eu lírico convida o leitor a refletir sobre
o desalento irremediável e perpétuo, que se prolonga mesmo após a morte.
o estado provisório em que o medo se sobrepõe ao amor, em um período curto de tempo.
a propagação do medo em todas as esferas sociais e localidades geográficas.
a capacidade do medo ser vencido pelo amor, cujo símbolo é a flor.
o despertar do sentimento do medo na população por parte dos ditadores nazi-fascistas