CONSOLO NA PRAIA
Vamos, não chores
A infância está perdida.
A mocidade já não se perdeu.
Mas o velho não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, nem cão.
Algumas lavadeiras duras,
en vês mais, te suplicaram.
Nunca, nunca cicatrizaram.
Mas, e o humor?
A injustiça não se resolve.
A sombra do errado
murmura um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dormes, meu filho.
ANDRADE, Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
O poema de Carlos Drummond de Andrade aborda a infância e a juventude. A conjunção "mas", ao fim de cada estrofe.
(A) submete a passagem do tempo e da vida.
(B) caracteriza por estar envelhecendo muito rápido.
(C) revela como os amores passaram e continuam vivos.
(D) revolta com o passar do tempo fugindo do momento presente em que está.
(E)
- Rotina (Bruna Mitrano)
pela manhã empurrar lama com rodo
enxugar os panos enfios nos pós para desimpilhar os móveis
e colocar-los de cabeça pra cima toalhas escaladas
trazem a voz
atando temporais depois
de desenhar com uma lasca de tijolo sóis na calçada.
MITRANO, Bruna. Ninguém Quis Ver. São Paulo: Companhia das Letras, 2023.
"desenhar com uma lasca de tijolo sóis na calçada" (v. 8)
No poema "Rotina", a expressão destacada pode ser interpretada como
(A) um ato de resistência e de esperança em meio às dificuldades.
(B) uma atividade lúdica de uma criança despreocupada enquanto brinca.
(C) um hábito antigo que se perdeu com o tempo devido à tecnologia.
(D) uma tentativa de registrar dias felizes e ensolarados na infância.