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Delicinhas da língua Um breve compêndio do diminutivo no por...
Delicinhas da língua
Um breve compêndio do diminutivo no português
Gregorio Duvivier
O ano já está no finalzinho, disse. E pensei: finalzinho é quando termina o final. Começou, não. Comeci nho é quando começa o começo. Finalzinho é quando o final tá mais perto do final. Onde eu quero chegar com isso? Não faço ideia. Mas sei que você devagarinho.
Enquanto o ano está pertinho de estar perto, quem está longinho está menos longe. Enquanto a tardinha é no final da tarde, a noitinha fica no começo da noite.
Um minutinhos dura mais do que um minuto, talvez uns três ou quatro. Um segundinho pode durar até 30 segundos regularmente. Devagarinho é mais devagar. Rapidinho é mais rápido. Igualzinho é mais igual.
Pouquinho é mais pouco. Agorinha não é assim agora. Agorinha já foi agora, até passou. “Ele chegou agorinha” significa que não chegou agora, mas há dois minutos.
Moço é o jovem, mocinho é o contrário do vilão. Mocinha só existe na frase “já virou mocinha”, eufemismo pra um aumentativo: menstruação.
Todo o mundo gosta do engraçado, todo o mundo odeia o engraçadinho. O bonito dá inveja, o bonitinho dá pena. Todo o mundo quer ser bonzinho. Quando alguém está feliz. Quem está sozinho, nunca. A voz só se torna vozinha quando irrita. Ninguém diz: “adoro sua vozinha”, mas “para de fazer vozinha”.
Na contramão: um pássaro pode incomodar. Um passarinho, nunca. Ricardo Araújo Pereira foi quem me alertou: o quente incomoda ou não. Diz-se: “cuidado, está quente.” Não se diz: “cuidado, está quentinho.”
Diz-se ‘vou ficar no quentinho’. Não há delícia maior que a delícia. Nada é mais gostoso que o gostosinho.
A melhor culinária brasileira é toda diminutiva: escondidinho, empadinha, queijadinha. Não gosto muito de caldo, mas adoro um caldinho. Não gosto tanto de caju quanto de cajuzinho. Nunca comi? um picado, mas não resisto a um picadinho. Gosto de coxinha, mas prefiro a coxinha. Bol tem sua graça, mas bom mesmo é um bolinho.
Um é assado e doce, o outro é salgado e frito. Um serve na festinha, o outro na reunião.
Chamamos de soneca um som curto, como de soninho um sono gostoso. Sonequinha é um sono ao mesmo tempo curto e gostoso. “Quero estarzinho com ela”, diz Raul Bopp em “Cobra Norato”, e continua: “querzinho de ficar junto”.
A língua portuguesa tem uma palavra pros burquinhos que surgem no rosto quando se ri, e essa palavra também designa o lugar onde enterramos os mortos. Quando morrer, me enterrem numa covinha.
Folha de São Paulo, São Paulo, ilustrada, p. B12, 29 dez. 2021
- Considere a descrição de Margarida Basílio em Formação e classes de palavras no português do Brasil, e diga o valor discursivo, no texto, do emprego do diminutivo nas palavras em destaque em: (2 pontos)
a) “Um segundinho pode durar até 30 segundos regularmente.”
b) “Diz-se ‘vou ficar no quentinho’.”
Delicinhas da língua Um breve compêndio do diminutivo no português Gregorio Duvivier
O ano já está no finalzinho, disse. E pensei: finalzinho é quando termina o final. Começou, não. Comeci nho é quando começa o começo. Finalzinho é quando o final tá mais perto do final. Onde eu quero chegar com isso? Não faço ideia. Mas sei que você devagarinho.
Enquanto o ano está pertinho de estar perto, quem está longinho está menos longe. Enquanto a tardinha é no final da tarde, a noitinha fica no começo da noite.
Um minutinhos dura mais do que um minuto, talvez uns três ou quatro. Um segundinho pode durar até 30 segundos regularmente. Devagarinho é mais devagar. Rapidinho é mais rápido. Igualzinho é mais igual.
Pouquinho é mais pouco. Agorinha não é assim agora. Agorinha já foi agora, até passou. “Ele chegou agorinha” significa que não chegou agora, mas há dois minutos.
Moço é o jovem, mocinho é o contrário do vilão. Mocinha só existe na frase “já virou mocinha”, eufemismo pra um aumentativo: menstruação.
Todo o mundo gosta do engraçado, todo o mundo odeia o engraçadinho. O bonito dá inveja, o bonitinho dá pena. Todo o mundo quer ser bonzinho. Quando alguém está feliz. Quem está sozinho, nunca. A voz só se torna vozinha quando irrita. Ninguém diz: “adoro sua vozinha”, mas “para de fazer vozinha”.
Na contramão: um pássaro pode incomodar. Um passarinho, nunca. Ricardo Araújo Pereira foi quem me alertou: o quente incomoda ou não. Diz-se: “cuidado, está quente.” Não se diz: “cuidado, está quentinho.”
Diz-se ‘vou ficar no quentinho’. Não há delícia maior que a delícia. Nada é mais gostoso que o gostosinho.
A melhor culinária brasileira é toda diminutiva: escondidinho, empadinha, queijadinha. Não gosto muito de caldo, mas adoro um caldinho. Não gosto tanto de caju quanto de cajuzinho. Nunca comi? um picado, mas não resisto a um picadinho. Gosto de coxinha, mas prefiro a coxinha. Bol tem sua graça, mas bom mesmo é um bolinho.
Um é assado e doce, o outro é salgado e frito. Um serve na festinha, o outro na reunião.
Chamamos de soneca um som curto, como de soninho um sono gostoso. Sonequinha é um sono ao mesmo tempo curto e gostoso. “Quero estarzinho com ela”, diz Raul Bopp em “Cobra Norato”, e continua: “querzinho de ficar junto”.
A língua portuguesa tem uma palavra pros burquinhos que surgem no rosto quando se ri, e essa palavra também designa o lugar onde enterramos os mortos. Quando morrer, me enterrem numa covinha.
Folha de São Paulo, São Paulo, ilustrada, p. B12, 29 dez. 2021
- Considere a descrição de Margarida Basílio em Formação e classes de palavras no português do Brasil, e diga o valor discursivo, no texto, do emprego do diminutivo nas palavras em destaque em: (2 pontos) a) “Um segundinho pode durar até 30 segundos regularmente.”
b) “Diz-se ‘vou ficar no quentinho’.”
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