Deolindo chegou a ter um ímpeto; ela fé-lo parar só com a ação dos olhos. Em seguida disse que, se lhe abrirá a porta, é porque contava a verdade, então tudo, as saudações que curtia, as propostas do mascate, suas recusas, até que um dia, sem saber como, amanhecer gostando dele...
- Pode crer que pensei muito e muito em você. Sinhá Inácia que lhe diga se não chorei muito... Mas o coração mudou... Mudou... Conto-lhes a história do padre, concluiu sorrindo.
Não sorria de escárnio. A expressão das palavras é que era uma mistura de candura e cinismo, de insolência e simplicidade, que desdenhosamente, insolência e cinismo são mal aplicados. Genoveva não se defendia de um erro ou de um perjúrio; não se defendia de nada; faltava-lhe o padre; em resumo, é que era melhor não ter mudado, dava-se bem com a afeição de Deolindo, a prova é que quis fugir com ele: mas, uma vez dada a razão ao mascate, e cumpria declará-lo. Que resposta? O pobre marujo citava o juramento de despedida, como uma obrigação eterna, que esperou e embargou: "Juro por Deus que está no céu; a luz me falte na hora da morte." Se embarcou, foi porque ela lhe jurou isso. Com essa esperança, foram elas que lhe deram a força de viver, juro que não deu; a luz me falte na hora da morte...
[MACHADO DE ASSIS. Noite de Almirante]
Pode-se observar o uso do discurso indireto livre no seguinte trecho:
A - Pois, sim, Deolindo, era verdade. Quando jurei, era verdade.