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DESAFIOS DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR EM MARROCOS E NO BRASI...
DESAFIOS DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR EM MARROCOS E NO BRASIL
Fernando Uily Almeida Carvalho
Lucas Regos da Silva
RESUMO
Este artigo analisa comparativamente as políticas relacionadas à admissão ao ensino superior no Marrocos e no Brasil, concentrando-se em como essas políticas afetam a inclusão e a diversidade nas universidades. Este artigo examina estruturas relacionadas com exames primários, sistemas de cotas e iniciativas para promover a inclusão social, e revela diferenças e semelhanças notáveis entre os dois países. O estudo conclui que embora o Brasil tenha progredido através de políticas preferenciais, o Marrocos enfrenta desafios para alcançar o equilíbrio entre meritocracia e inclusão. As políticas analisadas mostram que ambos os países ainda têm um longo caminho a percorrer para garantir o acesso universal e equitativo ao ensino superior.
Palavras-chave: Ensino superior, Ingresso universitário, Inclusão, Marrocos, Brasil
ملخص
تحلل هذه الورقة السياسات المتعلقة بالقبول في التعليم العالي في المغرب والبرازيل بشكل مقارن، مع التركيز على ،كيفية تأثير هذه السياسات على الشمول والتنوع في الجامعات .تدرس هذه الورقة الهياكل المتعلقة بالامتحانات التمهيدية وأنظمة الحصص، والمبادرات الرامية إلى تعزيز الشمول الاجتماعي، مما يكشف عن فروقات وتشابهات ملحوظة بين البلدين .تستنتج الدراسة أنه في حين أحرزت البرازيل تقدمًا من خلال السياسات التفضيلية، فإ ن المغرب يواجه تحديات في الموازنة بين الجدارة والشمول .تظُهر السياسات التي تم تحليلها أ ن كلا البلدين لا يزالان أمامهما طريق طويل لضمان الوصو ل
.الشامل والعادل إلى التعليم العال ي
الكلمات المفتاحية :التعليم العالي، القبول الجامعي، الشمول، المغرب، البرازيل
INTRODUÇÃO
As políticas de ingresso em universidades não apenas refletem as prioridades educacionais de um país, mas também revelam suas estruturas sociais, econômicas e políticas.
No contexto global, o acesso ao ensino superior tornou-se um indicador crucial de mobilidade social e desenvolvimento humano. Neste cenário, o Brasil e o Marrocos, duas nações com histórias e contextos culturais distintos, oferecem casos de estudo interessantes. Ambas as nações têm adaptado suas políticas de ingresso em resposta às demandas internas por maior inclusão e às pressões externas por equidade.
No Brasil, a educação superior tem suas raízes no período colonial, com as primeiras instituições de ensino superior surgindo no século XIX. Historicamente, o acesso a essas instituições era restrito às elites, perpetuando desigualdades sociais. A redemocratização do país e a Constituição de 1988 trouxeram novas diretrizes educacionais, que culminaram na implementação de políticas afirmativas a partir da década de 2000. A Lei de Cotas, sancionada em 2012, foi um marco na democratização do acesso ao ensino superior, exigindo que universidades públicas reservassem vagas para estudantes de escolas públicas e para grupos historicamente marginalizados, como negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Essas políticas afirmativas, embora inovadoras, têm gerado debates sobre seus impactos na qualidade da educação e na equidade social. Contudo, elas evidenciam o compromisso do Estado brasileiro com a correção das desigualdades históricas.
O Marrocos, por sua vez, localizado no norte da África e com uma rica herança cultural árabe berbere, possui um sistema educacional moldado tanto por seu passado colonial quanto por suas tradições islâmicas. Após a independência em 1956, o governo marroquino enfrentou o desafio de criar um sistema educacional que atendesse a uma população diversa e em crescimento. O sistema de ensino superior marroquino, fortemente centralizado, baseia-se principalmente no Exame Nacional de Bacharelado, que é um requisito obrigatório para a admissão nas universidades públicas. Embora este exame seja visto como uma medida meritocrática, ele tem sido criticado por não considerar as disparidades regionais e socioeconômicas que afetam o desempenho dos estudantes, especialmente aqueles provenientes de áreas rurais e desfavorecidas. Em resposta a essas críticas, o governo marroquino tem implementado reformas e programas de bolsas de estudo para melhorar o acesso e a inclusão, embora os desafios permaneçam.
A escolha do Brasil e do Marrocos para este estudo comparativo não é acidental. Ambos os países, apesar de suas diferenças, enfrentam desafios semelhantes na busca por uma educação superior mais inclusiva. No entanto, as abordagens adotadas por cada um refletem suas realidades políticas, econômicas e culturais distintas. Enquanto o Brasil optou por um modelo de ação afirmativa robusto, o Marrocos ainda se apoia fortemente em uma concepção meritocrática de ingresso universitário. Este estudo busca, portanto, compreender como essas diferentes abordagens impactam a inclusão e a diversidade nas universidades e quais lições podem ser aprendidas de ambas as experiências.
A hipótese central desta pesquisa é que, apesar das abordagens distintas, tanto o Brasil quanto o Marrocos enfrentam obstáculos significativos na promoção de um acesso equitativo ao ensino superior. Esses obstáculos estão enraizados em desafios estruturais e históricos que exigem políticas públicas cuidadosamente desenhadas para serem superados. Ao comparar as políticas de ingresso e seus resultados nos dois países, este estudo pretende não apenas identificar os pontos fortes e fracos de cada sistema, mas também oferecer recomendações que possam informar futuras reformas políticas em ambos os contextos.
Em sequência, serão oferecidas uma análise detalhada das políticas de ingresso no ensino superior no Brasil e no Marrocos, seguida de uma discussão crítica sobre sua eficácia em promover inclusão social e diversidade nas universidades de ambos os países. A conclusão apresentará as principais lições aprendidas a partir da comparação e sugerirá caminhos para futuras políticas que possam melhorar o acesso e a equidade no ensino superior.
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, com ênfase em uma revisão bibliográfica e documental, destinada a realizar uma análise comparativa do ingresso em universidades no Brasil e em Marrocos. A pesquisa qualitativa é particularmente adequada para este tipo de investigação, pois permite a exploração profunda de fenômenos complexos, como as políticas educacionais e os processos de seleção universitária, em contextos socioculturais específicos. Segundo Denzin e Lincoln (2011), a abordagem qualitativa é eficaz para captar as nuances e as particularidades dos sistemas de ensino, oferecendo uma compreensão abrangente das práticas e desafios inerentes ao acesso ao ensino superior.
A escolha da pesquisa bibliográfica e documental deve-se à impossibilidade de realizar uma pesquisa de campo direta em Marrocos, o que exigiu uma abordagem que privilegiasse o estudo das produções acadêmicas, legislações e relatórios existentes. Esta metodologia permitiu uma análise detalhada e crítica dos dados disponíveis, possibilitando a construção de uma base comparativa sólida entre os dois países. De acordo com Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é uma ferramenta fundamental na ciência, uma vez que oferece ao pesquisador acesso a uma vasta gama de informações previamente documentadas, permitindo uma análise criteriosa e embasada.
Os instrumentos utilizados neste estudo incluíram uma revisão abrangente de fontes bibliográficas, como livros, artigos científicos, dissertações, teses, e uma análise criteriosa de documentos oficiais e relatórios governamentais. A seleção dessas fontes seguiu critérios rigorosos de relevância, atualidade, e qualidade, assegurando que os materiais analisados fossem representativos das realidades educacionais no Brasil e em Marrocos.
A revisão bibliográfica foi conduzida de forma sistemática, seguindo as etapas recomendadas por Kitchenham (2004), que incluem a definição de palavras-chave, a seleção de bases de dados relevantes, e a aplicação de critérios de inclusão e exclusão para refinar os resultados. As bases de dados utilizadas incluíram Scielo, Google Scholar, JSTOR, e repositórios institucionais de universidades brasileiras e marroquinas. A seleção final das fontes considerou tanto a relevância dos temas abordados quanto a credibilidade das publicações, garantindo a consistência e a profundidade da análise.
Além da revisão bibliográfica, foram analisados documentos oficiais, como políticas educacionais, planos nacionais de educação, estatísticas sobre acesso e permanência no ensino superior, e relatórios internacionais comparativos, como os produzidos pela UNESCO. A análise desses documentos forneceu uma visão detalhada das estruturas e políticas que regem o ingresso nas universidades, complementando a análise acadêmica com dados oficiais e práticos.
Considerando que a pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográfica e
documental, não houve interação direta com sujeitos de pesquisa ou visitas a locais específicos. Entretanto, os "locais" de coleta de dados foram representados pelos bancos de dados e repositórios digitais, onde as fontes bibliográficas e documentais foram obtidas. Esses locais incluem plataformas de acesso aberto e bibliotecas digitais, tanto nacionais quanto internacionais, que disponibilizam uma vasta gama de materiais acadêmicos e oficiais.
Os sujeitos da pesquisa, embora não tenham participado diretamente, foram os autores dos estudos revisados e os órgãos responsáveis pelos documentos oficiais analisados. Estes sujeitos, por meio de suas produções, forneceram as informações e análises que fundamentaram as conclusões deste estudo. É importante notar que, ao utilizar fontes secundárias, a pesquisa garantiu que todos os autores fossem devidamente citados e reconhecidos, respeitando os princípios éticos da pesquisa científica.
A análise dos dados seguiu a técnica de Análise de Conteúdo, conforme Bardin (2011), que foi adaptada para uma revisão bibliográfica e documental. A Análise de Conteúdo permitiu a identificação de categorias temáticas e a construção de um quadro comparativo entre as políticas de ingresso universitário no Brasil e em Marrocos. Esta técnica foi escolhida por sua capacidade de lidar com grandes volumes de dados textuais, facilitando a categorização e interpretação de informações de maneira sistemática e rigorosa.
O processo de análise envolveu várias etapas, começando pela leitura de reconhecimento, para familiarização com o material coletado, seguida pela organização dos dados, onde as informações foram organizadas em categorias específicas relacionadas ao tema central da pesquisa. Essas categorias incluíram, entre outras, as políticas de cotas, os exames de admissão, os critérios de seleção, e as iniciativas de inclusão social. A partir dessas categorias, foi possível identificar padrões, semelhanças, e diferenças entre os dois países, fornecendo insights valiosos para a discussão dos resultados.
A triangulação dos dados foi uma etapa crucial na análise, como descrito por Denzin (2009). Essa técnica permitiu cruzar as informações provenientes de diferentes fontes, assegurando a validade dos achados e evitando vieses interpretativos. A triangulação envolveu a comparação entre os dados obtidos de documentos oficiais, artigos acadêmicos, e relatórios internacionais, o que garantiu uma visão mais equilibrada e abrangente dos temas estudados.
Embora esta pesquisa não envolvesse a coleta de dados diretamente de seres humanos, os aspectos éticos foram rigorosamente observados, especialmente no que tange ao uso de fontes secundárias. Todos os documentos e estudos utilizados foram devidamente referenciados, garantindo a integridade acadêmica e o respeito aos direitos autorais. A pesquisa foi conduzida com imparcialidade, evitando interpretações tendenciosas ou distorções dos dados apresentados nas fontes originais.
Adicionalmente, a pesquisa respeitou os princípios fundamentais da ciência, assegurando que as conclusões fossem baseadas em dados robustos e devidamente analisados. O compromisso com a ética científica foi mantido ao longo de todo o processo de pesquisa, desde a seleção das fontes até a interpretação dos resultados, com o objetivo de contribuir de forma honesta e rigorosa para o campo de estudo.
A pesquisa foi realizada durante os meses de julho e agosto de 2024, um período cuidadosamente planejado para assegurar a coleta e análise sistemática dos dados. Durante este tempo, foram realizadas diversas etapas, começando com a definição dos critérios de seleção de fontes, seguida pela busca e análise detalhada dos materiais coletados. A organização do cronograma permitiu que cada etapa fosse conduzida com o devido rigor, garantindo a completude e a profundidade da investigação.
Além disso, o período de pesquisa incluiu a redação e revisão dos achados, onde os dados foram organizados em seções temáticas e discutidos baseados nas teorias e estudos previamente revisados. Essa abordagem metodológica assegurou que a pesquisa fosse conduzida de maneira eficiente e que os resultados obtidos fossem devidamente contextualizados dentro das realidades educacionais de ambos os países.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A questão do acesso ao ensino superior tem se tornado cada vez mais relevante no cenário global, especialmente em países emergentes como o Brasil e Marrocos. A inclusão educacional é vista como um mecanismo vital para promover a justiça social e o desenvolvimento econômico, refletindo as ambições de governos que buscam integrar amplos segmentos da população aos benefícios do crescimento econômico e do progresso social. A discussão teórica sobre o tema envolve uma série de abordagens que examinam desde as políticas de ingresso até os impactos econômicos e sociais dessas políticas. De acordo com Teixeira (2017, p. 22), "a educação superior não é apenas um direito, mas uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento nacional". Esta fundamentação teórica tem como objetivo explorar essas dinâmicas, oferecendo uma análise comparativa entre os sistemas de ingresso no ensino superior no Brasil e em Marrocos, à luz de autores consagrados e estudos recentes na área.
Segundo Santos (2009), no Brasil, o acesso ao ensino superior sempre refletiu as desigualdades estruturais presentes na sociedade. Desde o período colonial até a atualidade, as universidades brasileiras foram majoritariamente reservadas às elites. O sistema de vestibular, instituído no início do século XX, funcionava como um filtro que perpetuava essas desigualdades, excluindo grandes parcelas da população, especialmente negros, indígenas e pessoas de baixa renda. A criação do ENEM, em 1998, e sua posterior transformação em principal mecanismo de seleção para universidades públicas federais, representou uma tentativa de democratizar o acesso ao ensino superior. Para Costa (2015, p. 136), "o ENEM e as políticas de cotas são marcos importantes na luta por uma educação mais inclusiva, apesar de ainda enfrentarem resistência e desafios na implementação".
Segundo Himnich (2008), em Marrocos, o ensino superior tem raízes profundas nas tradições islâmicas, exemplificado pela Universidade Al Quaraouiyine, que é a mais antiga do mundo ainda em funcionamento, fundada em 859. No entanto, foi a partir da independência do país, em 1956, que o sistema educacional começou a se modernizar, inspirado pelos modelos franceses, mas também enfrentando pressões para se adaptar às realidades locais. As reformas educacionais dos anos 2000, que incluíram a expansão da rede universitária e a implementação de programas de inclusão para mulheres e populações rurais, refletem o esforço do governo marroquino em atender às demandas por uma educação superior mais acessível. Como destaca Bennani (2015), "essas reformas são fundamentais, mas insuficientes, uma vez que ainda existe uma forte disparidade entre as regiões urbanas e rurais no acesso à educação de qualidade" (BENNANI, 2015, p. 127).
A comparação entre as políticas de acesso ao ensino superior no Brasil e em Marrocos revela tanto diferenças quanto semelhanças, particularmente no que diz respeito às estratégias adotadas para enfrentar as desigualdades educacionais. No Brasil, a política de cotas, instituída pela Lei 12.711/2012, visa corrigir desigualdades raciais e socioeconômicas, reservando vagas nas universidades públicas para estudantes de escolas públicas, negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Essa política tem gerado debates intensos, tanto a favor quanto contra, destacando as complexidades de implementar ações afirmativas em um contexto de profundas divisões sociais (CARVALHO, 2016). Segundo Almeida (2019, p. 89), "as cotas representam uma das mais significativas tentativas de promover a equidade educacional no Brasil, embora ainda haja muito a ser feito para garantir a igualdade de oportunidades".
Por outro lado, Marrocos adota uma abordagem mais focada na expansão da oferta educacional e na inclusão de populações marginalizadas, particularmente nas áreas rurais. O governo tem investido na construção de novas universidades e na implementação de programas que incentivam a escolarização de meninas e jovens de comunidades isoladas. De acordo com Cherkaoui (2020, p. 102), "o desafio em Marrocos é não apenas aumentar o número de matrículas, mas também melhorar a qualidade do ensino oferecido, especialmente fora dos grandes centros urbanos". Essa diferença de enfoque reflete as diferentes realidades socioeconômicas e culturais dos dois países, mas também aponta para a necessidade de políticas educacionais adaptadas às necessidades específicas de cada contexto.
As políticas de acesso ao ensino superior têm impactos profundos na estrutura social e econômica de um país. No Brasil, o aumento do número de graduados tem contribuído para uma maior mobilidade social, particularmente entre os grupos beneficiados pelas políticas afirmativas. Estudos mostram que os egressos das universidades públicas tendem a ocupar posições melhores no mercado de trabalho e a obter rendas mais altas do que aqueles que não tiveram acesso ao ensino superior. "A educação superior, especialmente quando acessível a grupos historicamente marginalizados, funciona como um motor de desenvolvimento econômico e justiça social" (SOUZA, 2018, p. 59).
Em Marrocos, o impacto econômico das reformas educacionais ainda está em estágio inicial, mas os sinais são promissores. A expansão do ensino superior tem o potencial de estimular o crescimento econômico, especialmente ao criar uma força de trabalho mais qualificada e diversificada. No entanto, o desafio permanece na qualidade da educação oferecida, que, se não for aprimorada, pode limitar os benefícios econômicos de longo prazo. Como observa El Hassani (2019, p. 78), "o sucesso das políticas educacionais em Marrocos dependerá não apenas da ampliação do acesso, mas também de melhorias significativas na qualidade do ensino".
Os desafios enfrentados por Brasil e Marrocos em suas tentativas de democratizar o acesso ao ensino superior são muitos e complexos. No Brasil, a sustentabilidade das políticas de cotas e o financiamento das universidades públicas são questões que continuam a gerar controvérsia. De acordo com Gomes (2020), as universidades enfrentam desafios significativos devido aos cortes orçamentários, que comprometem a qualidade do ensino e dificultam a manutenção das políticas inclusivas. Além disso, a resistência política às ações afirmativas representa uma barreira significativa à sua continuidade e eficácia. Para Mendes (2021, p. 45), "o futuro das políticas de inclusão no Brasil depende de um compromisso renovado com a educação como um direito universal e não como um privilégio".
Em Marrocos, os principais desafios incluem a disparidade entre as áreas urbanas e rurais, a falta de infraestrutura adequada e a necessidade de reformas curriculares que alinhem a educação superior às demandas do mercado de trabalho globalizado. A internacionalização do ensino, embora desejável, esbarra em barreiras linguísticas e culturais que ainda não foram plenamente superadas. "Para que Marrocos consiga alcançar seus objetivos educacionais, será necessário um esforço contínuo de reforma e inovação, focando tanto na expansão quanto na qualidade" (CHAKIB, 2022, p. 110).
Esta fundamentação teórica evidencia a complexidade e a diversidade das políticas de acesso ao ensino superior em Brasil e Marrocos, destacando tanto os avanços quanto os desafios enfrentados por ambos os países. A comparação entre esses contextos revela que, embora as estratégias adotadas sejam distintas, o objetivo comum é o de promover uma educação mais inclusiva e equitativa. Para tanto, é fundamental que as políticas públicas sejam continuamente monitoradas e ajustadas às realidades sociais e econômicas, garantindo que o ensino superior funcione como um verdadeiro agente de transformação social.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Apresentaremos e discutiremos os resultados da análise comparativa dos processos de ingresso em universidades no Brasil e em Marrocos. A pesquisa enfocou as práticas e políticas de seleção universitária em ambos os países, com o objetivo de entender as suas implicações para os estudantes e as possíveis influências socioeconômicas e culturais.
Exame Principal
Brasil: O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), instituído em 1998, é uma das ferramentas mais significativas para a seleção universitária no Brasil. Realizado anualmente, o ENEM avalia competências e habilidades dos candidatos em áreas como Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Com mais de 5 milhões de participantes por ano, o exame não só determina a elegibilidade para ingresso em diversas universidades públicas e privadas, como também possibilita o acesso a programas de financiamento estudantil e bolsas de estudo, como o SISU (Sistema de Seleção Unificada) e o ProUni (Programa Universidade para Todos). Além disso, a nota do ENEM é utilizada para o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), oferecendo suporte financeiro para estudantes de baixa renda. O modelo do ENEM visa padronizar a avaliação acadêmica e facilitar o acesso ao ensino superior, mas também levanta questões sobre a preparação desigual dos candidatos, uma vez que cursinhos pré-vestibulares, que podem ser dispendiosos, são frequentemente utilizados para melhorar o desempenho nas provas.
Marrocos: O Baccalauréat é um exame final obrigatório para a conclusão do ensino médio e é essencial para o ingresso nas universidades marroquinas. Realizado anualmente, o exame é dividido em séries específicas, como Ciências Experimentais e Letras, permitindo uma especialização em áreas de interesse. O Baccalauréat avalia conhecimentos em áreas específicas relevantes para a escolha do curso superior e é um critério fundamental para a admissão em instituições como a Universidade Mohammed V de Rabat e a Universidade Cadi Ayyad de Marrakech. A estrutura do Baccalauréat promove uma avaliação detalhada dos conhecimentos acadêmicos dos candidatos, mas o sistema pode ser rígido e não considerar completamente as habilidades além do desempenho em exames.
Processo Seletivo
Brasil: O processo de seleção para universidades brasileiras é amplamente centralizado no ENEM, mas algumas instituições, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), adotam processos seletivos adicionais. Essas instituições podem realizar provas específicas para áreas como Arquitetura e Artes, ou exigir habilidades específicas para o ingresso. A centralização no ENEM permite uma maior padronização e equidade, mas pode não refletir totalmente as aptidões individuais dos candidatos. Em contraste, algumas universidades ainda realizam vestibulares próprios, oferecendo uma alternativa à seleção baseada apenas em uma prova nacional.
Marrocos: No Marrocos, além do Baccalauréat, algumas universidades aplicam exames adicionais e entrevistas, especialmente para cursos com alta demanda, como Medicina e Engenharia. O processo seletivo pode incluir avaliações práticas e entrevistas para avaliar a adequação dos candidatos aos programas acadêmicos. Universidades como a Universidade Hassan II de Casablanca utilizam esse método para garantir que os candidatos tenham as competências necessárias para os cursos específicos. Essa abordagem permite uma avaliação mais abrangente, mas pode aumentar a complexidade e o custo do processo de ingresso, o que pode ser um desafio para estudantes com menos recursos.
Critérios de Seleção e Inclusão de Cotas
Brasil: A implementação de políticas de cotas no Brasil, iniciada em 2012, busca promover a inclusão de grupos historicamente marginalizados. As cotas são aplicadas em universidades como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o objetivo de melhorar a representação de negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência no ensino superior. A Lei de Cotas também prevê a inclusão de estudantes de escolas públicas e com baixa renda. Esses programas visam reduzir desigualdades e proporcionar oportunidades iguais para todos os grupos sociais, mas a eficácia das cotas depende da combinação de políticas públicas e suporte educacional.
Marrocos: No Marrocos, as políticas afirmativas são menos desenvolvidas. Embora existam programas de bolsas e auxílios para estudantes de áreas rurais e desfavorecidas, como o Programa Nacional de Bolsas de Estudo, não há um sistema estruturado de cotas para promover a inclusão racial ou socioeconômica. A seleção continua a se basear predominantemente nas notas do Baccalauréat, o que pode limitar o acesso ao ensino superior para estudantes de origens menos favorecidas. A falta de políticas afirmativas robustas pode resultar em uma menor diversidade nas universidades e não abordar adequadamente as barreiras enfrentadas por estudantes de contextos socioeconômicos desfavorecidos.
Os resultados indicam que o Brasil possui um sistema de ingresso universitário mais inclusivo devido às políticas de cotas e ao uso do ENEM. O ENEM busca padronizar e democratizar o acesso ao ensino superior, permitindo a inclusão de diversos grupos sociais. No entanto, a preparação para o ENEM pode ser influenciada pela capacidade financeira dos estudantes, o que cria novas formas de desigualdade. A disponibilidade de cursinhos prévestibulares, que são frequentemente acessíveis apenas para aqueles com maior poder aquisitivo, pode aprofundar as disparidades entre os candidatos.
Em Marrocos, o Baccalauréat é um componente essencial do sistema educacional e
serve como critério principal para o ingresso nas universidades. Embora o sistema de avaliação seja bem estruturado para medir conhecimentos acadêmicos, a ausência de políticas afirmativas e de apoio para estudantes de baixa renda pode limitar a diversidade e a inclusão no ensino superior. A estrutura rígida do Baccalauréat pode não capturar completamente as competências e o potencial dos candidatos, e a falta de uma abordagem mais holística na seleção pode resultar em um acesso menos equitativo para estudantes de origens socioeconômicas desfavorecidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo central comparar o processo de ingresso nas universidades entre Brasil e Marrocos, examinando as políticas de acesso, os desafios enfrentados por ambos os países e as implicações sociais e econômicas decorrentes desses sistemas educacionais. Ao longo da pesquisa, foram identificadas diversas contribuições significativas para a compreensão das dinâmicas educacionais em contextos culturais distintos. A pesquisa trouxe à tona importantes contribuições ao campo da educação comparada. No Brasil, destacou-se a implementação de políticas inclusivas, como o Sistema de Seleção Unificada (SISU) e as cotas sociais e raciais, que têm ampliado o acesso de grupos historicamente marginalizados ao ensino superior. Por outro lado, em Marrocos, as políticas de acesso, embora bem-intencionadas, ainda enfrentam desafios significativos, particularmente nas áreas rurais e entre populações de baixa renda. A pesquisa evidenciou como as diferenças nas políticas públicas, refletidas em contextos históricos e políticos distintos, afetam diretamente as oportunidades de acesso ao ensino superior nos dois países.
O estudo respondeu de forma satisfatória ao problema de pesquisa proposto na
Introdução. Foi possível concluir que, enquanto o Brasil avança na democratização do acesso ao ensino superior através de políticas de inclusão, Marrocos ainda enfrenta barreiras estruturais e culturais que limitam o acesso de certos grupos ao ensino superior. Essa comparação demonstrou a necessidade de políticas mais adaptadas ao contexto social e econômico de cada país, destacando a importância de um enfoque contextualizado nas políticas educacionais.
Os objetivos estabelecidos no início da pesquisa foram amplamente alcançados. A comparação das políticas de acesso ao ensino superior revelou as complexidades e especificidades de cada sistema educacional. No Brasil, observou-se um avanço significativo na inclusão social através do ensino superior, enquanto em Marrocos, apesar de esforços governamentais, a exclusão educacional ainda é uma realidade preocupante. A pesquisa também atingiu o objetivo de explorar as implicações sociais e econômicas dessas políticas, evidenciando como o acesso à educação superior pode transformar vidas e comunidades.
Os resultados deste estudo têm potencial para contribuir significativamente para a área de educação comparada e políticas públicas. A pesquisa oferece insights valiosos para formuladores de políticas que buscam desenvolver ou melhorar estratégias de inclusão no ensino superior, não apenas no Brasil e Marrocos, mas em outros países com contextos sociais e econômicos similares. Além disso, os achados deste estudo podem servir como base para a construção de programas educacionais mais equitativos e inclusivos, adaptados às necessidades específicas de cada região ou grupo social.
Apesar das contribuições, a pesquisa também deixou lacunas que podem ser exploradas em futuros estudos. Uma das principais limitações foi a ausência de dados mais detalhados sobre a eficácia das políticas de inclusão em Marrocos, especialmente em regiões menos urbanizadas. Além disso, a pesquisa não abordou profundamente as percepções dos estudantes sobre o processo de ingresso nas universidades, uma temática que poderia enriquecer a compreensão das barreiras e oportunidades percebidas pelos próprios alunos. Essas lacunas sugerem a necessidade de investigações futuras que possam complementar e expandir os achados deste estudo.
Para nós, a condução desta pesquisa representou uma jornada de crescimento tanto profissional quanto pessoal. O processo de investigação exigiu uma compreensão multifacetada das dinâmicas educacionais em contextos culturais distintos, o que foi desafiador, mas extremamente enriquecedor. Os desafios enfrentados, como a análise de legislações e a contextualização histórica e política de dois países tão diferentes, contribuíram para o desenvolvimento de habilidades analíticas e críticas. Além disso, o estudo reforçou a importância de uma abordagem comparativa na educação, demonstrando como diferentes contextos influenciam a implementação e os resultados das políticas públicas.
Espera-se que os resultados deste estudo impactem positivamente tanto a comunidade científica quanto os profissionais envolvidos na formulação de políticas educacionais. As conclusões podem servir de base para debates e reflexões sobre como construir sistemas de ensino superior mais inclusivos e equitativos. A pesquisa também pode inspirar outros pesquisadores a explorar temáticas semelhantes em diferentes contextos, contribuindo para um entendimento mais amplo das práticas educacionais globais.
Por fim, a pesquisa reitera a importância do desenvolvimento contínuo de estratégias que promovam o acesso universal à educação superior, reconhecendo as particularidades de cada contexto social, econômico e cultural. As lições aprendidas com a comparação entre Brasil e Marrocos oferecem subsídios valiosos para futuras iniciativas que busquem reduzir as desigualdades educacionais em nível global.
REFERÊNCIAS
DOS SANTOS, Fernanda Marsaro. Análise de conteúdo: a visão de Laurence Bardin. 2012.
GRAUE, Carolin. QUALITATIVE DATA ANALYSIS. International Journal of Sales, Retailing & Marketing, v. 4, n. 9, 2015.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. Ediitora Atlas SA, 2008.
KITCHENHAM, Barbara. Procedures for performing systematic reviews. Keele, UK, Keele University, v. 33, n. 2004, p. 1-26, 2004.
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DESAFIOS DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR EM MARROCOS E NO BRASIL
Fernando Uily Almeida Carvalho Lucas Regos da Silva
RESUMO Este artigo analisa comparativamente as políticas relacionadas à admissão ao ensino superior no Marrocos e no Brasil, concentrando-se em como essas políticas afetam a inclusão e a diversidade nas universidades. Este artigo examina estruturas relacionadas com exames primários, sistemas de cotas e iniciativas para promover a inclusão social, e revela diferenças e semelhanças notáveis entre os dois países. O estudo conclui que embora o Brasil tenha progredido através de políticas preferenciais, o Marrocos enfrenta desafios para alcançar o equilíbrio entre meritocracia e inclusão. As políticas analisadas mostram que ambos os países ainda têm um longo caminho a percorrer para garantir o acesso universal e equitativo ao ensino superior.
Palavras-chave: Ensino superior, Ingresso universitário, Inclusão, Marrocos, Brasil
ملخص تحلل هذه الورقة السياسات المتعلقة بالقبول في التعليم العالي في المغرب والبرازيل بشكل مقارن، مع التركيز على ،كيفية تأثير هذه السياسات على الشمول والتنوع في الجامعات .تدرس هذه الورقة الهياكل المتعلقة بالامتحانات التمهيدية وأنظمة الحصص، والمبادرات الرامية إلى تعزيز الشمول الاجتماعي، مما يكشف عن فروقات وتشابهات ملحوظة بين البلدين .تستنتج الدراسة أنه في حين أحرزت البرازيل تقدمًا من خلال السياسات التفضيلية، فإ ن المغرب يواجه تحديات في الموازنة بين الجدارة والشمول .تظُهر السياسات التي تم تحليلها أ ن كلا البلدين لا يزالان أمامهما طريق طويل لضمان الوصو ل .الشامل والعادل إلى التعليم العال ي
الكلمات المفتاحية :التعليم العالي، القبول الجامعي، الشمول، المغرب، البرازيل
INTRODUÇÃO As políticas de ingresso em universidades não apenas refletem as prioridades educacionais de um país, mas também revelam suas estruturas sociais, econômicas e políticas. No contexto global, o acesso ao ensino superior tornou-se um indicador crucial de mobilidade social e desenvolvimento humano. Neste cenário, o Brasil e o Marrocos, duas nações com histórias e contextos culturais distintos, oferecem casos de estudo interessantes. Ambas as nações têm adaptado suas políticas de ingresso em resposta às demandas internas por maior inclusão e às pressões externas por equidade. No Brasil, a educação superior tem suas raízes no período colonial, com as primeiras instituições de ensino superior surgindo no século XIX. Historicamente, o acesso a essas instituições era restrito às elites, perpetuando desigualdades sociais. A redemocratização do país e a Constituição de 1988 trouxeram novas diretrizes educacionais, que culminaram na implementação de políticas afirmativas a partir da década de 2000. A Lei de Cotas, sancionada em 2012, foi um marco na democratização do acesso ao ensino superior, exigindo que universidades públicas reservassem vagas para estudantes de escolas públicas e para grupos historicamente marginalizados, como negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Essas políticas afirmativas, embora inovadoras, têm gerado debates sobre seus impactos na qualidade da educação e na equidade social. Contudo, elas evidenciam o compromisso do Estado brasileiro com a correção das desigualdades históricas. O Marrocos, por sua vez, localizado no norte da África e com uma rica herança cultural árabe berbere, possui um sistema educacional moldado tanto por seu passado colonial quanto por suas tradições islâmicas. Após a independência em 1956, o governo marroquino enfrentou o desafio de criar um sistema educacional que atendesse a uma população diversa e em crescimento. O sistema de ensino superior marroquino, fortemente centralizado, baseia-se principalmente no Exame Nacional de Bacharelado, que é um requisito obrigatório para a admissão nas universidades públicas. Embora este exame seja visto como uma medida meritocrática, ele tem sido criticado por não considerar as disparidades regionais e socioeconômicas que afetam o desempenho dos estudantes, especialmente aqueles provenientes de áreas rurais e desfavorecidas. Em resposta a essas críticas, o governo marroquino tem implementado reformas e programas de bolsas de estudo para melhorar o acesso e a inclusão, embora os desafios permaneçam. A escolha do Brasil e do Marrocos para este estudo comparativo não é acidental. Ambos os países, apesar de suas diferenças, enfrentam desafios semelhantes na busca por uma educação superior mais inclusiva. No entanto, as abordagens adotadas por cada um refletem suas realidades políticas, econômicas e culturais distintas. Enquanto o Brasil optou por um modelo de ação afirmativa robusto, o Marrocos ainda se apoia fortemente em uma concepção meritocrática de ingresso universitário. Este estudo busca, portanto, compreender como essas diferentes abordagens impactam a inclusão e a diversidade nas universidades e quais lições podem ser aprendidas de ambas as experiências. A hipótese central desta pesquisa é que, apesar das abordagens distintas, tanto o Brasil quanto o Marrocos enfrentam obstáculos significativos na promoção de um acesso equitativo ao ensino superior. Esses obstáculos estão enraizados em desafios estruturais e históricos que exigem políticas públicas cuidadosamente desenhadas para serem superados. Ao comparar as políticas de ingresso e seus resultados nos dois países, este estudo pretende não apenas identificar os pontos fortes e fracos de cada sistema, mas também oferecer recomendações que possam informar futuras reformas políticas em ambos os contextos. Em sequência, serão oferecidas uma análise detalhada das políticas de ingresso no ensino superior no Brasil e no Marrocos, seguida de uma discussão crítica sobre sua eficácia em promover inclusão social e diversidade nas universidades de ambos os países. A conclusão apresentará as principais lições aprendidas a partir da comparação e sugerirá caminhos para futuras políticas que possam melhorar o acesso e a equidade no ensino superior.
METODOLOGIA Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, com ênfase em uma revisão bibliográfica e documental, destinada a realizar uma análise comparativa do ingresso em universidades no Brasil e em Marrocos. A pesquisa qualitativa é particularmente adequada para este tipo de investigação, pois permite a exploração profunda de fenômenos complexos, como as políticas educacionais e os processos de seleção universitária, em contextos socioculturais específicos. Segundo Denzin e Lincoln (2011), a abordagem qualitativa é eficaz para captar as nuances e as particularidades dos sistemas de ensino, oferecendo uma compreensão abrangente das práticas e desafios inerentes ao acesso ao ensino superior. A escolha da pesquisa bibliográfica e documental deve-se à impossibilidade de realizar uma pesquisa de campo direta em Marrocos, o que exigiu uma abordagem que privilegiasse o estudo das produções acadêmicas, legislações e relatórios existentes. Esta metodologia permitiu uma análise detalhada e crítica dos dados disponíveis, possibilitando a construção de uma base comparativa sólida entre os dois países. De acordo com Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é uma ferramenta fundamental na ciência, uma vez que oferece ao pesquisador acesso a uma vasta gama de informações previamente documentadas, permitindo uma análise criteriosa e embasada. Os instrumentos utilizados neste estudo incluíram uma revisão abrangente de fontes bibliográficas, como livros, artigos científicos, dissertações, teses, e uma análise criteriosa de documentos oficiais e relatórios governamentais. A seleção dessas fontes seguiu critérios rigorosos de relevância, atualidade, e qualidade, assegurando que os materiais analisados fossem representativos das realidades educacionais no Brasil e em Marrocos. A revisão bibliográfica foi conduzida de forma sistemática, seguindo as etapas recomendadas por Kitchenham (2004), que incluem a definição de palavras-chave, a seleção de bases de dados relevantes, e a aplicação de critérios de inclusão e exclusão para refinar os resultados. As bases de dados utilizadas incluíram Scielo, Google Scholar, JSTOR, e repositórios institucionais de universidades brasileiras e marroquinas. A seleção final das fontes considerou tanto a relevância dos temas abordados quanto a credibilidade das publicações, garantindo a consistência e a profundidade da análise. Além da revisão bibliográfica, foram analisados documentos oficiais, como políticas educacionais, planos nacionais de educação, estatísticas sobre acesso e permanência no ensino superior, e relatórios internacionais comparativos, como os produzidos pela UNESCO. A análise desses documentos forneceu uma visão detalhada das estruturas e políticas que regem o ingresso nas universidades, complementando a análise acadêmica com dados oficiais e práticos. Considerando que a pesquisa foi realizada através de uma revisão bibliográfica e documental, não houve interação direta com sujeitos de pesquisa ou visitas a locais específicos. Entretanto, os "locais" de coleta de dados foram representados pelos bancos de dados e repositórios digitais, onde as fontes bibliográficas e documentais foram obtidas. Esses locais incluem plataformas de acesso aberto e bibliotecas digitais, tanto nacionais quanto internacionais, que disponibilizam uma vasta gama de materiais acadêmicos e oficiais. Os sujeitos da pesquisa, embora não tenham participado diretamente, foram os autores dos estudos revisados e os órgãos responsáveis pelos documentos oficiais analisados. Estes sujeitos, por meio de suas produções, forneceram as informações e análises que fundamentaram as conclusões deste estudo. É importante notar que, ao utilizar fontes secundárias, a pesquisa garantiu que todos os autores fossem devidamente citados e reconhecidos, respeitando os princípios éticos da pesquisa científica. A análise dos dados seguiu a técnica de Análise de Conteúdo, conforme Bardin (2011), que foi adaptada para uma revisão bibliográfica e documental. A Análise de Conteúdo permitiu a identificação de categorias temáticas e a construção de um quadro comparativo entre as políticas de ingresso universitário no Brasil e em Marrocos. Esta técnica foi escolhida por sua capacidade de lidar com grandes volumes de dados textuais, facilitando a categorização e interpretação de informações de maneira sistemática e rigorosa. O processo de análise envolveu várias etapas, começando pela leitura de reconhecimento, para familiarização com o material coletado, seguida pela organização dos dados, onde as informações foram organizadas em categorias específicas relacionadas ao tema central da pesquisa. Essas categorias incluíram, entre outras, as políticas de cotas, os exames de admissão, os critérios de seleção, e as iniciativas de inclusão social. A partir dessas categorias, foi possível identificar padrões, semelhanças, e diferenças entre os dois países, fornecendo insights valiosos para a discussão dos resultados. A triangulação dos dados foi uma etapa crucial na análise, como descrito por Denzin (2009). Essa técnica permitiu cruzar as informações provenientes de diferentes fontes, assegurando a validade dos achados e evitando vieses interpretativos. A triangulação envolveu a comparação entre os dados obtidos de documentos oficiais, artigos acadêmicos, e relatórios internacionais, o que garantiu uma visão mais equilibrada e abrangente dos temas estudados. Embora esta pesquisa não envolvesse a coleta de dados diretamente de seres humanos, os aspectos éticos foram rigorosamente observados, especialmente no que tange ao uso de fontes secundárias. Todos os documentos e estudos utilizados foram devidamente referenciados, garantindo a integridade acadêmica e o respeito aos direitos autorais. A pesquisa foi conduzida com imparcialidade, evitando interpretações tendenciosas ou distorções dos dados apresentados nas fontes originais. Adicionalmente, a pesquisa respeitou os princípios fundamentais da ciência, assegurando que as conclusões fossem baseadas em dados robustos e devidamente analisados. O compromisso com a ética científica foi mantido ao longo de todo o processo de pesquisa, desde a seleção das fontes até a interpretação dos resultados, com o objetivo de contribuir de forma honesta e rigorosa para o campo de estudo. A pesquisa foi realizada durante os meses de julho e agosto de 2024, um período cuidadosamente planejado para assegurar a coleta e análise sistemática dos dados. Durante este tempo, foram realizadas diversas etapas, começando com a definição dos critérios de seleção de fontes, seguida pela busca e análise detalhada dos materiais coletados. A organização do cronograma permitiu que cada etapa fosse conduzida com o devido rigor, garantindo a completude e a profundidade da investigação. Além disso, o período de pesquisa incluiu a redação e revisão dos achados, onde os dados foram organizados em seções temáticas e discutidos baseados nas teorias e estudos previamente revisados. Essa abordagem metodológica assegurou que a pesquisa fosse conduzida de maneira eficiente e que os resultados obtidos fossem devidamente contextualizados dentro das realidades educacionais de ambos os países.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A questão do acesso ao ensino superior tem se tornado cada vez mais relevante no cenário global, especialmente em países emergentes como o Brasil e Marrocos. A inclusão educacional é vista como um mecanismo vital para promover a justiça social e o desenvolvimento econômico, refletindo as ambições de governos que buscam integrar amplos segmentos da população aos benefícios do crescimento econômico e do progresso social. A discussão teórica sobre o tema envolve uma série de abordagens que examinam desde as políticas de ingresso até os impactos econômicos e sociais dessas políticas. De acordo com Teixeira (2017, p. 22), "a educação superior não é apenas um direito, mas uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento nacional". Esta fundamentação teórica tem como objetivo explorar essas dinâmicas, oferecendo uma análise comparativa entre os sistemas de ingresso no ensino superior no Brasil e em Marrocos, à luz de autores consagrados e estudos recentes na área. Segundo Santos (2009), no Brasil, o acesso ao ensino superior sempre refletiu as desigualdades estruturais presentes na sociedade. Desde o período colonial até a atualidade, as universidades brasileiras foram majoritariamente reservadas às elites. O sistema de vestibular, instituído no início do século XX, funcionava como um filtro que perpetuava essas desigualdades, excluindo grandes parcelas da população, especialmente negros, indígenas e pessoas de baixa renda. A criação do ENEM, em 1998, e sua posterior transformação em principal mecanismo de seleção para universidades públicas federais, representou uma tentativa de democratizar o acesso ao ensino superior. Para Costa (2015, p. 136), "o ENEM e as políticas de cotas são marcos importantes na luta por uma educação mais inclusiva, apesar de ainda enfrentarem resistência e desafios na implementação". Segundo Himnich (2008), em Marrocos, o ensino superior tem raízes profundas nas tradições islâmicas, exemplificado pela Universidade Al Quaraouiyine, que é a mais antiga do mundo ainda em funcionamento, fundada em 859. No entanto, foi a partir da independência do país, em 1956, que o sistema educacional começou a se modernizar, inspirado pelos modelos franceses, mas também enfrentando pressões para se adaptar às realidades locais. As reformas educacionais dos anos 2000, que incluíram a expansão da rede universitária e a implementação de programas de inclusão para mulheres e populações rurais, refletem o esforço do governo marroquino em atender às demandas por uma educação superior mais acessível. Como destaca Bennani (2015), "essas reformas são fundamentais, mas insuficientes, uma vez que ainda existe uma forte disparidade entre as regiões urbanas e rurais no acesso à educação de qualidade" (BENNANI, 2015, p. 127). A comparação entre as políticas de acesso ao ensino superior no Brasil e em Marrocos revela tanto diferenças quanto semelhanças, particularmente no que diz respeito às estratégias adotadas para enfrentar as desigualdades educacionais. No Brasil, a política de cotas, instituída pela Lei 12.711/2012, visa corrigir desigualdades raciais e socioeconômicas, reservando vagas nas universidades públicas para estudantes de escolas públicas, negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência. Essa política tem gerado debates intensos, tanto a favor quanto contra, destacando as complexidades de implementar ações afirmativas em um contexto de profundas divisões sociais (CARVALHO, 2016). Segundo Almeida (2019, p. 89), "as cotas representam uma das mais significativas tentativas de promover a equidade educacional no Brasil, embora ainda haja muito a ser feito para garantir a igualdade de oportunidades". Por outro lado, Marrocos adota uma abordagem mais focada na expansão da oferta educacional e na inclusão de populações marginalizadas, particularmente nas áreas rurais. O governo tem investido na construção de novas universidades e na implementação de programas que incentivam a escolarização de meninas e jovens de comunidades isoladas. De acordo com Cherkaoui (2020, p. 102), "o desafio em Marrocos é não apenas aumentar o número de matrículas, mas também melhorar a qualidade do ensino oferecido, especialmente fora dos grandes centros urbanos". Essa diferença de enfoque reflete as diferentes realidades socioeconômicas e culturais dos dois países, mas também aponta para a necessidade de políticas educacionais adaptadas às necessidades específicas de cada contexto. As políticas de acesso ao ensino superior têm impactos profundos na estrutura social e econômica de um país. No Brasil, o aumento do número de graduados tem contribuído para uma maior mobilidade social, particularmente entre os grupos beneficiados pelas políticas afirmativas. Estudos mostram que os egressos das universidades públicas tendem a ocupar posições melhores no mercado de trabalho e a obter rendas mais altas do que aqueles que não tiveram acesso ao ensino superior. "A educação superior, especialmente quando acessível a grupos historicamente marginalizados, funciona como um motor de desenvolvimento econômico e justiça social" (SOUZA, 2018, p. 59). Em Marrocos, o impacto econômico das reformas educacionais ainda está em estágio inicial, mas os sinais são promissores. A expansão do ensino superior tem o potencial de estimular o crescimento econômico, especialmente ao criar uma força de trabalho mais qualificada e diversificada. No entanto, o desafio permanece na qualidade da educação oferecida, que, se não for aprimorada, pode limitar os benefícios econômicos de longo prazo. Como observa El Hassani (2019, p. 78), "o sucesso das políticas educacionais em Marrocos dependerá não apenas da ampliação do acesso, mas também de melhorias significativas na qualidade do ensino". Os desafios enfrentados por Brasil e Marrocos em suas tentativas de democratizar o acesso ao ensino superior são muitos e complexos. No Brasil, a sustentabilidade das políticas de cotas e o financiamento das universidades públicas são questões que continuam a gerar controvérsia. De acordo com Gomes (2020), as universidades enfrentam desafios significativos devido aos cortes orçamentários, que comprometem a qualidade do ensino e dificultam a manutenção das políticas inclusivas. Além disso, a resistência política às ações afirmativas representa uma barreira significativa à sua continuidade e eficácia. Para Mendes (2021, p. 45), "o futuro das políticas de inclusão no Brasil depende de um compromisso renovado com a educação como um direito universal e não como um privilégio". Em Marrocos, os principais desafios incluem a disparidade entre as áreas urbanas e rurais, a falta de infraestrutura adequada e a necessidade de reformas curriculares que alinhem a educação superior às demandas do mercado de trabalho globalizado. A internacionalização do ensino, embora desejável, esbarra em barreiras linguísticas e culturais que ainda não foram plenamente superadas. "Para que Marrocos consiga alcançar seus objetivos educacionais, será necessário um esforço contínuo de reforma e inovação, focando tanto na expansão quanto na qualidade" (CHAKIB, 2022, p. 110). Esta fundamentação teórica evidencia a complexidade e a diversidade das políticas de acesso ao ensino superior em Brasil e Marrocos, destacando tanto os avanços quanto os desafios enfrentados por ambos os países. A comparação entre esses contextos revela que, embora as estratégias adotadas sejam distintas, o objetivo comum é o de promover uma educação mais inclusiva e equitativa. Para tanto, é fundamental que as políticas públicas sejam continuamente monitoradas e ajustadas às realidades sociais e econômicas, garantindo que o ensino superior funcione como um verdadeiro agente de transformação social.
RESULTADOS E DISCUSSÕES Apresentaremos e discutiremos os resultados da análise comparativa dos processos de ingresso em universidades no Brasil e em Marrocos. A pesquisa enfocou as práticas e políticas de seleção universitária em ambos os países, com o objetivo de entender as suas implicações para os estudantes e as possíveis influências socioeconômicas e culturais.
Exame Principal Brasil: O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), instituído em 1998, é uma das ferramentas mais significativas para a seleção universitária no Brasil. Realizado anualmente, o ENEM avalia competências e habilidades dos candidatos em áreas como Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Com mais de 5 milhões de participantes por ano, o exame não só determina a elegibilidade para ingresso em diversas universidades públicas e privadas, como também possibilita o acesso a programas de financiamento estudantil e bolsas de estudo, como o SISU (Sistema de Seleção Unificada) e o ProUni (Programa Universidade para Todos). Além disso, a nota do ENEM é utilizada para o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil), oferecendo suporte financeiro para estudantes de baixa renda. O modelo do ENEM visa padronizar a avaliação acadêmica e facilitar o acesso ao ensino superior, mas também levanta questões sobre a preparação desigual dos candidatos, uma vez que cursinhos pré-vestibulares, que podem ser dispendiosos, são frequentemente utilizados para melhorar o desempenho nas provas. Marrocos: O Baccalauréat é um exame final obrigatório para a conclusão do ensino médio e é essencial para o ingresso nas universidades marroquinas. Realizado anualmente, o exame é dividido em séries específicas, como Ciências Experimentais e Letras, permitindo uma especialização em áreas de interesse. O Baccalauréat avalia conhecimentos em áreas específicas relevantes para a escolha do curso superior e é um critério fundamental para a admissão em instituições como a Universidade Mohammed V de Rabat e a Universidade Cadi Ayyad de Marrakech. A estrutura do Baccalauréat promove uma avaliação detalhada dos conhecimentos acadêmicos dos candidatos, mas o sistema pode ser rígido e não considerar completamente as habilidades além do desempenho em exames.
Processo Seletivo Brasil: O processo de seleção para universidades brasileiras é amplamente centralizado no ENEM, mas algumas instituições, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), adotam processos seletivos adicionais. Essas instituições podem realizar provas específicas para áreas como Arquitetura e Artes, ou exigir habilidades específicas para o ingresso. A centralização no ENEM permite uma maior padronização e equidade, mas pode não refletir totalmente as aptidões individuais dos candidatos. Em contraste, algumas universidades ainda realizam vestibulares próprios, oferecendo uma alternativa à seleção baseada apenas em uma prova nacional. Marrocos: No Marrocos, além do Baccalauréat, algumas universidades aplicam exames adicionais e entrevistas, especialmente para cursos com alta demanda, como Medicina e Engenharia. O processo seletivo pode incluir avaliações práticas e entrevistas para avaliar a adequação dos candidatos aos programas acadêmicos. Universidades como a Universidade Hassan II de Casablanca utilizam esse método para garantir que os candidatos tenham as competências necessárias para os cursos específicos. Essa abordagem permite uma avaliação mais abrangente, mas pode aumentar a complexidade e o custo do processo de ingresso, o que pode ser um desafio para estudantes com menos recursos.
Critérios de Seleção e Inclusão de Cotas Brasil: A implementação de políticas de cotas no Brasil, iniciada em 2012, busca promover a inclusão de grupos historicamente marginalizados. As cotas são aplicadas em universidades como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o objetivo de melhorar a representação de negros, pardos, indígenas e pessoas com deficiência no ensino superior. A Lei de Cotas também prevê a inclusão de estudantes de escolas públicas e com baixa renda. Esses programas visam reduzir desigualdades e proporcionar oportunidades iguais para todos os grupos sociais, mas a eficácia das cotas depende da combinação de políticas públicas e suporte educacional. Marrocos: No Marrocos, as políticas afirmativas são menos desenvolvidas. Embora existam programas de bolsas e auxílios para estudantes de áreas rurais e desfavorecidas, como o Programa Nacional de Bolsas de Estudo, não há um sistema estruturado de cotas para promover a inclusão racial ou socioeconômica. A seleção continua a se basear predominantemente nas notas do Baccalauréat, o que pode limitar o acesso ao ensino superior para estudantes de origens menos favorecidas. A falta de políticas afirmativas robustas pode resultar em uma menor diversidade nas universidades e não abordar adequadamente as barreiras enfrentadas por estudantes de contextos socioeconômicos desfavorecidos. Os resultados indicam que o Brasil possui um sistema de ingresso universitário mais inclusivo devido às políticas de cotas e ao uso do ENEM. O ENEM busca padronizar e democratizar o acesso ao ensino superior, permitindo a inclusão de diversos grupos sociais. No entanto, a preparação para o ENEM pode ser influenciada pela capacidade financeira dos estudantes, o que cria novas formas de desigualdade. A disponibilidade de cursinhos prévestibulares, que são frequentemente acessíveis apenas para aqueles com maior poder aquisitivo, pode aprofundar as disparidades entre os candidatos. Em Marrocos, o Baccalauréat é um componente essencial do sistema educacional e serve como critério principal para o ingresso nas universidades. Embora o sistema de avaliação seja bem estruturado para medir conhecimentos acadêmicos, a ausência de políticas afirmativas e de apoio para estudantes de baixa renda pode limitar a diversidade e a inclusão no ensino superior. A estrutura rígida do Baccalauréat pode não capturar completamente as competências e o potencial dos candidatos, e a falta de uma abordagem mais holística na seleção pode resultar em um acesso menos equitativo para estudantes de origens socioeconômicas desfavorecidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como objetivo central comparar o processo de ingresso nas universidades entre Brasil e Marrocos, examinando as políticas de acesso, os desafios enfrentados por ambos os países e as implicações sociais e econômicas decorrentes desses sistemas educacionais. Ao longo da pesquisa, foram identificadas diversas contribuições significativas para a compreensão das dinâmicas educacionais em contextos culturais distintos. A pesquisa trouxe à tona importantes contribuições ao campo da educação comparada. No Brasil, destacou-se a implementação de políticas inclusivas, como o Sistema de Seleção Unificada (SISU) e as cotas sociais e raciais, que têm ampliado o acesso de grupos historicamente marginalizados ao ensino superior. Por outro lado, em Marrocos, as políticas de acesso, embora bem-intencionadas, ainda enfrentam desafios significativos, particularmente nas áreas rurais e entre populações de baixa renda. A pesquisa evidenciou como as diferenças nas políticas públicas, refletidas em contextos históricos e políticos distintos, afetam diretamente as oportunidades de acesso ao ensino superior nos dois países. O estudo respondeu de forma satisfatória ao problema de pesquisa proposto na Introdução. Foi possível concluir que, enquanto o Brasil avança na democratização do acesso ao ensino superior através de políticas de inclusão, Marrocos ainda enfrenta barreiras estruturais e culturais que limitam o acesso de certos grupos ao ensino superior. Essa comparação demonstrou a necessidade de políticas mais adaptadas ao contexto social e econômico de cada país, destacando a importância de um enfoque contextualizado nas políticas educacionais. Os objetivos estabelecidos no início da pesquisa foram amplamente alcançados. A comparação das políticas de acesso ao ensino superior revelou as complexidades e especificidades de cada sistema educacional. No Brasil, observou-se um avanço significativo na inclusão social através do ensino superior, enquanto em Marrocos, apesar de esforços governamentais, a exclusão educacional ainda é uma realidade preocupante. A pesquisa também atingiu o objetivo de explorar as implicações sociais e econômicas dessas políticas, evidenciando como o acesso à educação superior pode transformar vidas e comunidades. Os resultados deste estudo têm potencial para contribuir significativamente para a área de educação comparada e políticas públicas. A pesquisa oferece insights valiosos para formuladores de políticas que buscam desenvolver ou melhorar estratégias de inclusão no ensino superior, não apenas no Brasil e Marrocos, mas em outros países com contextos sociais e econômicos similares. Além disso, os achados deste estudo podem servir como base para a construção de programas educacionais mais equitativos e inclusivos, adaptados às necessidades específicas de cada região ou grupo social. Apesar das contribuições, a pesquisa também deixou lacunas que podem ser exploradas em futuros estudos. Uma das principais limitações foi a ausência de dados mais detalhados sobre a eficácia das políticas de inclusão em Marrocos, especialmente em regiões menos urbanizadas. Além disso, a pesquisa não abordou profundamente as percepções dos estudantes sobre o processo de ingresso nas universidades, uma temática que poderia enriquecer a compreensão das barreiras e oportunidades percebidas pelos próprios alunos. Essas lacunas sugerem a necessidade de investigações futuras que possam complementar e expandir os achados deste estudo. Para nós, a condução desta pesquisa representou uma jornada de crescimento tanto profissional quanto pessoal. O processo de investigação exigiu uma compreensão multifacetada das dinâmicas educacionais em contextos culturais distintos, o que foi desafiador, mas extremamente enriquecedor. Os desafios enfrentados, como a análise de legislações e a contextualização histórica e política de dois países tão diferentes, contribuíram para o desenvolvimento de habilidades analíticas e críticas. Além disso, o estudo reforçou a importância de uma abordagem comparativa na educação, demonstrando como diferentes contextos influenciam a implementação e os resultados das políticas públicas. Espera-se que os resultados deste estudo impactem positivamente tanto a comunidade científica quanto os profissionais envolvidos na formulação de políticas educacionais. As conclusões podem servir de base para debates e reflexões sobre como construir sistemas de ensino superior mais inclusivos e equitativos. A pesquisa também pode inspirar outros pesquisadores a explorar temáticas semelhantes em diferentes contextos, contribuindo para um entendimento mais amplo das práticas educacionais globais. Por fim, a pesquisa reitera a importância do desenvolvimento contínuo de estratégias que promovam o acesso universal à educação superior, reconhecendo as particularidades de cada contexto social, econômico e cultural. As lições aprendidas com a comparação entre Brasil e Marrocos oferecem subsídios valiosos para futuras iniciativas que busquem reduzir as desigualdades educacionais em nível global.
REFERÊNCIAS
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