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Estudos Gerais10/04/2024

Diálogo de todo dia Carlos Drummond de Andrade — Alô, que...

Diálogo de todo dia Carlos Drummond de Andrade

— Alô, quem fala?

— Ninguém. Quem fala é você que está perguntando quem fala.

— Mas eu preciso saber com quem estou falando.

— E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.

— Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?

— Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.

— Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho.

— Ah, sim. No aparelho não está ninguém.

— Como não está, se você está me respondendo?

— Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.

— Engraçadinho. Então, quem está fora do aparelho?

— Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.

— Não parece. Se fosse para me servir já teria dito quem está falando.

— Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.

— Se eu conhecesse, não estava perguntando.

— Você é muito perguntador. Pois se fui eu que telefonei.

— Não perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.

— Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.

— Estou respondendo.

— Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?

— Pela última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar esta informação a um desconhecido?

— Bolas!

— Bolas me digo. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar?

Silêncio.

— Vamos, diga: com quem deseja falar?

— Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Diálogo de todo dia. In: Para gostar de ler Júnior. v. 3. São Paulo: Ática, 2001. p. 21–2.

Na crônica de Carlos Drummond de Andrade, a confusão entre os falantes é desencadeada por um trecho em que predomina a função da linguagem

emotiva, pois emprega-se uma linguagem predominantemente figurativa, o que atribui ao texto um caráter de intimidade. conativa, pois pretende-se saber com quem se fala e, por isso, o emissor se direciona ao receptor. denotativa, pois o autor vale-se de marcas de oralidade ao longo do diálogo, como “Ah, sim”, “engraçadinho” e “bolas!”. poética, pois foca na intenção de construir uma narrativa humorística a partir de um jogo de linguagem. fática, pois a pergunta sobre quem fala inicia o diálogo ao abrir o canal de comunicação.

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