ENEM
Na sua imaginação perturbada sentia a natureza toda ajudando-se para sufocá-la. Aumentavam as sombras. No céu, nuvens colossais e tombadas rolavam para o abismo do horizonte. Na vãze, ao clarão indeciso do crepúsculo, os seres tomavam ares de monstros. As montanhas, subindo amesçadoras da terra, perfilhavam-se tenebrosas. Os caminhos, espreguiçando-se sobre os campos, animavam-se quais serpentes infinitas. As árvores solitárias choravam ao vento, como carcomidas fantásticas da natureza morta. Os afiguras passavam, os noturnos gemiam auras com pios fúnebres. Maria quis fugir, mas os membros cansados não acudiam aos ímpetos do medo e deixavam-na prostrada em uma angústia desesperada.
ABANHA, J. P. G. Cunha. São Paulo: Ática, 1997.
No trecho, o narrador mobiliza recursos de linguagem que geram uma expressividade centrada na percepção da
a) relação entre a natureza opressiva e o desejo de libertação da personagem.
b) confluência entre o estado emocional da personagem e a configuração da paisagem.
c) prevalência do mundo natural em relação à fragilidade humana.
d) depreciação do sentido da vida diante da consciência da morte.
e) instabilidade psicológica da personagem face à realidade hostil.
Mackenzie