Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
[expediente protocolo e manifestações de apreço ao
[sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
[dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobreduto os barbarismos universais
Todas as construções sobreduto as sintaxes de
[exceção
Todos os ritmos sobreduto os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquitico
Sifilítico
De todo lirismo que capitulo ao que quer que seja fora
[de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário
[do amante exemplar com cem modelos de cartas e
[as diferentes maneiras de agradar & agraves
[mulheres etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
– Não quero saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. "Poética.". In: De poetas e poesia. Rio de Janeiro: MEC, 1954. (Coleção Cadernos de Cultura, v. 64).
A Semana de Arte Moderna representou não só um movimento artístico-literário, mas também social e político.
O poema de Manuel Bandeira revela um pensamento que funcionou como eixo da lírica produzida nesse período.
Esse pensamento pode ser caracterizado como
a) valorização da liberdade social e artística.
b) crítica à arte em forma de exercício profissional.
c) defesa da tradição poética de maior influência no lirismo brasileiro.
d) a ideia de que a tradição poética deve ser respeitada no contexto literário.