Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura,
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas.
Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Conhecendo o mal, não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura;
Importuna Razão, não me persigas.
É teu fim, teu projeto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.
Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
BOCAGE, Manuel Maria de Barbosa du. In: LAJOLO, Marisa (Seleção de textos, notas, estudos biográficos e críticos). Bocage. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1990. (Coleção Literatura Comentada);
1. Para fazer seu convite amoroso a Marília, o eu lírico do texto 1 utiliza como argumento a chegada de uma estação. Explique essa referência tendo em vista o que se expressa nos quartetos do poema.
2. Que convenções árcades estão presentes no primeiro soneto?
3. Sabendo que uma das características do Arcadismo é o racionalismo, responda, com base no texto 2:
a) Por que a palavra Razão está escrita com inicial maiúscula?
b) Como o lírico caracteriza a Razão? A visão que ele tem dela condiz com os princípios árcades? Justifique sua resposta.
4. Qual argumento o lírico do texto 2 utiliza para ordenar que a Razão se cale?
5. O que se pode inferir sobre o desejo do eu lírico com base na leitura do segundo quarteto do texto? Justifique sua resposta.
6. A inferência referida na questão anterior se confirma no terceto que fechou o soneto de Bocage? Justifique sua resposta.