Leia a crônica abaixo e responda as questões da 1 a 4:
A nuvem
— Fico admirado como é que você, morando nesta cidade, consegue escrever uma semana inteira sem reclamar, sem protestar, sem espinhar! Meu amigo falou da água, telefone, Light em geral, carne, batata, transporte, custo de vida, buracos na rua, etc. etc. etc. Meu amigo está, como dizem as pessoas exageradas, grávido de razões. Mas que posso fazer? Até que tenho reclamado muito isto e aquilo. Mas se eu ficar rezingando todo dia, estou roubado: quem é que vai aguentar me ler?
Acho que o leitor gosta de ver suas queixas no jornal, mas em termos.
Além disso, a verdade não está apenas nos buracos das ruas e outras mazelas. Não é verdade que as amendoeiras neste inverno deram um show luxuoso de folhas vermelhas no ar? E ficaria demasiado feio eu confessar que uma jovem gostando de mim? Ah, bem sei que esses encantamentos de moça por um senhor maduro duram pouco. São caprichos de certa fase. Mas que importa? Esse carinho me faz bem; eu o recebo terno e gravemente; sem melancolia, porque sem ilusão. Ele se irá como veio, leve nuvem solta na brisa, que se tinge um instante de púrpura sobre as cinzas de meu crepúsculo.
E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga. Deixe a nuvem, olhe para o chão — seus tradicionais buracos.
Rubem Braga, Aí de ti, Copacabana
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Em "E olhem só que tipo de frase estou escrevendo! Tome tenência, velho Braga", o narrador
a) chama a atenção dos leitores para a beleza do estilo que empregou.
b) revela ter consciência de que cometeu excessos com a linguagem metafórica.
c) exalta o estilo por ele conquistado e convida-se a reverenciá-lo.
d) percebe que, por estar velho, seu estilo também envelheceu.
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Com relação ao gênero do texto, é correto afirmar que a crônica
a) parte do assunto cotidiano e acaba por criar reflexões mais amplas.
b) tem como função informar ao leitor sobre os problemas cotidianos.
c) apresenta uma linguagem distante do coloquial, afastando o público leitor.
d) tem um modelo fixo, com um diálogo inicial seguido de argumentação objetiva.
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No trecho "sem melancolia, porque sem ilusão" subentende-se que o narrador
a) sente-se incapaz de assumir compromissos amorosos e, por isso, não sofre.
b) não acredita no amor e, por isso, não sofre.
c) sabe que já está velho demais para o amor.
d) sente-se emocionalmente maduro e, por isso, não teme desilusões amorosas.
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O texto apresenta um escritor inquieto a partir da reflexão que faz sobre
a) os problemas da sociedade.
b) as suas dificuldades literárias.
c) as suas antigas amizades.
d) os temas das suas crônicas.