Leia o fragmento do conto A caçada, de Lygia Fagundes Telles
A caçada
Lançou em volta um olhar esgazeado [...] estava dentro do bosque, os pés pesados de lama, os cabelos empastados de orvalho. Em redor, tudo parado. Estático. No silêncio da madrugada, nem o piar de um pássaro, nem o farfalhar de uma folha. Inclinou-se arquejante. Era o caçador? Ou a caça? Não importava, não importava, sabia apenas que tinha que prosseguir correndo sem parar por entre as árvores, caçando ou sendo caçado. Ou sendo caçado?… Comprimiu as palmas das mãos contra a cara esbraseada, enxugou no punho da camisa o suor que lhe escorria pelo pescoço. Vertia sangue o lábio gretado. Abriu a boca. E lembrou-se. Gritou e mergulhou numa touceira. Ouviu o assobio da seta varando a folhagem, a dor! “Não…”, gemeu de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos apertando o coração.
TELLES, Lygia Fagundes. A caçada. In: Histórias de mistérios. São Paulo. Companhia das Letras, 2011
Vocabulário:
esgazeado – olhar de inquietação, ira ou estado de perturbação psíquica.
gretado – rachado
Nesse fragmento, é possível levantar e confirmar a hipótese de que a personagem principal
armaria a vingança contra o seu agressor.
morreria após ser atingida por uma flecha.
sofria perseguição de alguém que estava armado.
encontraria alguém que cuidaria de seu ferimento.