Leia o texto para responder às questões 7 e 8:
Um mundo lindo
Marina Colasanti
Morreu o último caracol da Polinésia. Havia um caracol
da Polinésia, um caracol de árvore, e nenhum outro. Era
o último. E morreu. Morreu de quê? Ninguém sabe me
dizer. O jornal não acha importante revelar a causa
mortis de um caracol da Polinésia. Noticia apenas que
com ele extinguiu-se a sua espécie. Ninguém nunca
mais verá em lugar algum, nem mesmo na Polinésia, um
polinesiano caracol.
Pois eu ouso dizer que sei o que foi que o matou. Ele
morreu de ser o último. Morreu de sua extrema solidão.
Sua vida não era acelerada, nada capaz de causar-lhe
stress, mas era dinâmica; ao longo de um ano, graças a
esforços e determinação e impulso fornecido pela
própria natureza, o molusco lograva deslocar-se cerca de
setenta centímetros. Mais, teria sido uma temeridade.
Assim mesmo, de que adiantavam esses setenta
centímetros suados, batalhados dia a dia, sem ninguém
para medi-los, sem nenhum parente amigo companheiro
que lhe dissesse, você hoje bateu sua marca? Sem
ninguém para esperá-lo na chegada? [...]
Fonte: COLASANTI, Marina. A casa das palavras. São Paulo: Ática, 2002. p.
15-16.