Leia um excerto do conto Restos do Carnaval, de Clarice Lispector.
Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra batida com o véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que vi esse outro ano. E quando a festa já se aproximando, como explicar a agitação que tinha me tomado? Como se o mundo se abotoasse de um grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife explicassem para mim aquilo feito. Como se fossem humanas enfiassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu. No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a uma baile infantil, nunca havia fantasiado. Em compensação deixavam-me fluir entre aquelas horas de dor e de riso, como se eu fosse um dos seres humanos, diversos. Diversos. Como se eu fosse um coração que se animava para dar a vida a um ser qualquer. Até, estava tornando difícil desejar. O mundo se tornava feliz. E se mascarássemos? A partir do momento em que as pessoas se vestem, a máscara é uma maneira de não se tornar humano, como se o corpo humano tivesse como essência a capacidade de prazer e de dor. O carnaval, como sabemos, é uma festa popular. Podemos dizer que as tradições e as atividades dos folguedos são práticas lúdicas porque:
A) O lúdico é tudo aquilo que deixa as pessoas felizes e lhes dá prazer imediato. Portanto, há uma definição feita sobre quais são as práticas lúdicas, isso depende da sensação de prazer de cada indivíduo.
B) Instauraram uma ruptura na vida cotidiana, possuem um componente de representação e estão imersas num universo simbólico e cultural específicos.
C) Há muitas brincadeiras infantis nos folguedos e os adultos se comportam como se fossem crianças: correndo, pulando, cantando alto e fantasiando-se.
D) Festear é algo da natureza humana, ou seja, trata-se de um impulso biológico de cada ser humano.
E) As pessoas não trabalham quando festejam e as práticas lúdicas servem apenas para isso: para o relaxamento do corpo e para o lazer, os quais permitirão recomposição física e psicológica dos sujeitos para o trabalho.