Leia um fragmento de Menino de engenho, obra pré-modernista escrita por José Lins do Rêgo:
O sinhôzinho, montado no Marimbondo, vinha ligeiro, com as rédeas esticadas, atiçando o animal com o chicote. Trazia no rosto a vermelhidão do sol e do vento, e nos olhos brilhava a alegria da caçada. Ao chegar perto do engenho, deu um grito:
-Nhô Totonho! Nhô Totonho!
-Que foi, menino?
-Peguei uma preguiça! Uma preguiça-de-garganta-branca enorme!
Nhô Totonho, que estava pescando na margem do açude, tirou o chapéu e enxugou o suor da testa.
-Preguiça, hein? Onde é que tu tá com ela?
-Lá em cima do jatobá, amarrada com cipó.
Nhô Totonho coçou a barba, pensativo.
-Sei não, menino. Preguiça é bicho perigoso. Pode arranhar com as unhas.
-Mas eu tô com medo não, Nhô Totonho! Eu quero a preguiça pra criar. Ela vai ficar mansinha comigo.
Nhô Totonho sorriu para o neto.
-Tá bom, então. Mas cuidado, viu? Se a preguiça te arranhar, eu não vou te ajudar.
O menino esporeou o Marimbondo e disparou em direção ao jatobá. Chegando lá, ele apeou do cavalo e começou a subir na árvore, com cuidado para não cair. Quando chegou ao galho onde a preguiça estava amarrada, ele a soltou do cipó e a pegou no colo.
A preguiça era enorme, com pelo comprido e macio. Ela ficou quieta no colo do menino, sem se mexer. O menino sorriu de felicidade. Ele tinha conseguido pegar a preguiça!
Ele desceu da árvore com a preguiça no colo e foi mostrar para Nhô Totonho.
-Olhe, Nhô Totonho! Eu peguei a preguiça!
Nhô Totonho olhou para a preguiça com admiração.
-É bonita mesmo, menino. Mas cuidado com ela, viu?
O menino garantiu que cuidaria bem da preguiça. Ele deu um nome para ela: Preguiçosa. E desde aquele dia, Preguiçosa se tornou a sua melhor amiga.
As marcas de linguagem coloquial presentes no trecho contribuem para:
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A)Caracterizar a fala das personagens e criar uma atmosfera regionalista no texto.
B)Formalizar a narrativa e distanciar o leitor da realidade do engenho de açúcar.
C)Enfatizar a erudição do autor e demonstrar seu conhecimento da língua portuguesa.
D)Acentuar o tom sério e solene da história, afastando-a do público infantil.
E)Tornar a leitura mais complexa e desafiadora para o público em geral.