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Guilherme

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Estudos Gerais12/06/2024

Notícia de jornal (Fernando Sabino) Leio no jornal a notíci...

Notícia de jornal (Fernando Sabino)

Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, trinta anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante sete e duas horas, para finalmente morrer de fome. Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos de comerciantes, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.

Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era alçado pela Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.

O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Médico Legal sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morreu de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caiu na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa – não é homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante este tempo as horas todos passaram, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.

Não é de alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.

E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmiento 12 dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.

E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, um homem morreu de fome.

Morreu de fome.

Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/noticia-de-jornal-cronica-de-fernando-sabino/. Acesso em: 10 de maio 2019.

  1. A partir da leitura da crônica de Fernando Sabino, é possível afirmar que:

A) Sabino inspira-se em uma notícia de jornal, mas o narrador faz de seu texto um espaço de críticas e reflexões acerca do fato narrado. B) A relação entre a crônica e a notícia limita-se ao título já que, ao longo do texto, Sabino desvia do assunto inicial, expandindo-o. C) O narrador preocupa-se em mostrar as reações causadas pelo homem que morria de fome, evidenciando a solidariedade de todos. D) O fato do homem que morre de fome não ter sido nomeado limita a reflexão já que, dessa forma, podemos vinculá-lo a um caso isolado. E) O narrador da crônica, tal qual em uma notícia de jornal, não se envolve com os fatos narrados, adotando uma postura imparcial.

Notícia de jornal (Fernando Sabino)

Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, trinta anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante sete e duas horas, para finalmente morrer de fome. Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos de comerciantes, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.

Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era alçado pela Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.

O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Médico Legal sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morreu de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caiu na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa – não é homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante este tempo as horas todos passaram, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.

Não é de alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.

E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmiento 12 dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.

E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, um homem morreu de fome.

Morreu de fome.

Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/noticia-de-jornal-cronica-de-fernando-sabino/. Acesso em: 10 de maio 2019.

05) A partir da leitura da crônica de Fernando Sabino, é possível afirmar que:

A) Sabino inspira-se em uma notícia de jornal, mas o narrador faz de seu texto um espaço de críticas e reflexões acerca do fato narrado.
B) A relação entre a crônica e a notícia limita-se ao título já que, ao longo do texto, Sabino desvia do assunto inicial, expandindo-o.
C) O narrador preocupa-se em mostrar as reações causadas pelo homem que morria de fome, evidenciando a solidariedade de todos.
D) O fato do homem que morre de fome não ter sido nomeado limita a reflexão já que, dessa forma, podemos vinculá-lo a um caso isolado.
E) O narrador da crônica, tal qual em uma notícia de jornal, não se envolve com os fatos narrados, adotando uma postura imparcial.
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