O MEDO DA MORTE
"Da peste, da fome e da guerra livrai-nos, oh Senhor!" Essa oração, muito entoada nas igrejas da Europa no final da Idade Média, é um exemplo do quadro de crise, angústia e fervor religioso do período. Era como se a profecia revelada no Livro do Apocalipse estivesse se cumprindo. Esse cenário de medo, destruição e morte foi representado na exausta obra de muitos artistas da época.
Na pintura, por exemplo, a morte era representada na figura de esqueletos humanos, de corpos em decomposição e, em especial, nas danças macabras, como você pode observar na imagem ao pé desta página. Essas danças mostravam a morte personificada em um esqueleto parcialmente coberto por um manto e carregando uma foice, seguido por indivíduos dos mais variados segmentos sociais. Nas representações da morte, as diferentes camadas sociais da Europa medieval apareciam, em fim, igualadas pela finitude da existência humana.
Na literatura, as representações da morte deram origem ao Ars Moriendi ("a arte de morrer"), gênero literário em que os textos ensinavam aos cristãos os preparativos para uma boa morte. O famoso Tractatus artis bene moriendi (1415), por exemplo, procurava consolar o moribundo e motivá-lo a considerar o lado bom da morte. A obra também trazia conselhos para que evitasse as tentações que rondavam seu leito de morte, além de regras gerais de boa conduta de parentes e amigos junto ao agonizante e de precs apropriadas à situação.