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Fernanda

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Estudos Gerais30/09/2024

O menino que escrevia versos Mia Couto De que vale ter vo...

O menino que escrevia versos Mia Couto

De que vale ter voz Se só quando não falo é que me entendem? De que vale acordar Se o que vivo é menos do que o que sonbei? (Verso do menino que fazia versos)

  • Ele escreve versos! Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.
  • Há antecedentes na família?
  • Desculpe, doutor? O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Trava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias: -Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol. Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela tinham sido lua-de-mel. Para ele, não fora se não período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas confissões de amor. Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou sem pestanejo, a autoria do feito. -são meus versos, sim. O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios,más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-resfrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto? Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado. -o médico que faz a revisão geral, parte mecânica, parte elétrica. Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrar-se os pulmões e, sobretudo, lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar. Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino: -Dói-te alguma coisa?
  • Dói-me a vida, doutor. O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já a dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:
  • E o que fazes quando te assaltam essas dores?
  • O que melhor sei fazer, excelência.
  • E o que é? -É sonhar. Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E Riu-se, acarinhando o braço da mãe. O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu: -não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clínica psiquiátrica. A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente. Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendidos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.
  • Não continua a escrever? -isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida-disse, apontando um novo caderninho-quase a meio. O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente. -Não temos dinheiro-fungou a mãe entre soluços. -Não importa-respondeu o doutor. Que ele mesmo assumiria as dispensas. E que ele seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu. Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhã e tarde ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios: -Não pare-meu filho. Continue lendo...
  1. Reveja o início do conto e responda no caderno às questões a seguir.

a) antes do início da narrativa em si, há alguns versos que são atribuídos ao menino que fazia versos. Como você compreende, após a leitura do conto, o significado desses versos?

b) a primeira fala do conto é da mãe do menino: ‘‘Ele escreve versos!’’. Por que essa fala soa como uma acusação?

  1. em sua opinião, por que o pai não acompanha a esposa e o filho na consulta?

  2. que relações se estabelecem com o fato de o garoto fazer versos e sonhar?

  3. volte ao seguinte parágrafo:

O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? O carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?

a) por que o pai se sente incomodado com o fato de o filho escrever versos?

b) que expressão, nesse parágrafo dá ideia de como o pai do menino interpreta o fato de ele escrever versos? Ela pode ser vista como preconceituosa? Explique.

  1. ao se dirigir ao garoto, o médico perguntou o que doía, e ele respondeu: Dói-me a vida, doutor.

Que relação é possível estabelecer entre a resposta do garoto e o fato de ele fazer versos?

  1. por que o médico interna o garoto em sua própria clínica?

  2. sobre o pai do menino, o leitor tem algumas informações transmitidas pela mãe ao médico. Releia o trecho a seguir observando os indícios da relação entre dona Serafina e o marido.

O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias: -Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol. Linhas 7-10

a) segundo ela, o momento mais amoroso foi na noite de núpcias quando ele a comparou ao perfume de um óleo usado em motores de carros. Considerando essa comparação, como esse elogio pode ser compreendido?

b) nesse trecho, há uma insinuação do ponto de vista do casal a respeito de como a esposa deve ser tratada. Qual é esse ponto de vista? Justifique sua escolha apontando o fragmento que dá margem a essa interpretação.

C) quanto ao narrador, qual lhe parece ser o ponto de vista assumido por ele em relação à situação narrada? Explique em seu caderno.

  1. releia o trecho a seguir.

O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando lençol. E oleosas confissões de amor. Linhas 13-14

Segundo o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa, uma das acepções do verbo confeccionar é ‘‘fabricar (roupas de vestuário, de cama e mesa, complementos, como bolsas e cintos, adereços, bijuteria e etc.)’’nesse trecho, o verbo é usado de forma literal ou figurada? Por quê?

  1. de que maneira a profissão do pai, mecânico de automóveis, influencia a linguagem figurada usada ao longo do texto? Busque exemplos no conto para justificar sua resposta.

  2. releia o seguinte trecho do conto ‘‘o menino que escrevia versos’’.

[...] O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso para o destino, nunca enfrentara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias: linhas 7-9

a) os verbos em destaque estão no tempo pretérito mais-que-perfeito simples do indicativo. Entre outros sentidos, esse tempo de conjugação verbal situa as ações em um ponto anterior e indefinido no passado, em relação a um dado momento, tomado como referência principal. Sabendo disso, responde em seu caderno as questões propostas a seguir.

a) qual é, nesse conto, o momento de referência em relação ao qual as ações expressas como espreitara, batera e conseguira são anteriores?

b) Há outros verbos no trecho destacado: Lia, interpretava, tratava, etc. Que sentido essas formas verbais assumem no trecho? Como é chamado esse tempo verbal?

Vc pode Resumi as respostas por favor mais tem que ser pequena

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