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Estudos Gerais05/14/2024

O NAVIO NEGREIRO TRAGÉDIA NO MAR I ‘Stamos em pleno mar... D...

O NAVIO NEGREIRO TRAGÉDIA NO MAR I ‘Stamos em pleno mar... Doudo no espaço Brinca o luar – dourada borboleta; E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta. ‘Stamos em pleno mar... Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias – Constelações do líquido tesouro... ‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insano, Azuis, dourados, plácidos, sublimes... 10 Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?... ‘Stamos em pleno mar... Abrindo as velas Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas... Donde vem? Onde vai? Das naus errantes Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço? Neste saara os corcéis o pó levantam, Galopam, voam, mas não deixam traço. Bem feliz quem ali pode nest’hora Sentir deste painel a majestade!... Embaixo – o mar... em cima – o firmamento... E no mar e no céu – a imensidade! Oh! que doce harmonia traz-me a brisa! Que música suave ao longe soa! Meu Deus! Como é sublime um canto ardente Pelas vagas sem fim boiando à toa!

            Homens do mar! Ó rudes marinheiros, Tostados pelo sol dos quatro mundos! Crianças que a procela acalentara

No berço destes pélagos profundos! Esperai!... Esperai!... deixai que eu beba Esta selvagem, livre poesia... Orquestra – é o mar, que ruge pela proa, E o vento, que nas cordas assobia... Por que foges assim, barco ligeiro? Por que foges do pávido poeta? Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira Que semelha no mar – doido cometa! Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu, que dormes das nuvens entre as gazas, Sacode as penas, Leviatã do espaço, Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas. II Que importa do nauta o berço, Donde é filho, qual seu lar? Ama a cadência do verso Que lhe ensina o velho mar! Cantai! que a noite é divina! Resvala o brigue à bolina Como golfinho veloz. Presa ao mastro da mezena Saudosa bandeira acena Às vagas que deixa após. Do Espanhol as cantilenas Requebradas de langor, Lembram as moças morenas, As andaluzas em flor! Da Itália o filho indolente Canta Veneza dormente – Terra de amor e traição – Ou do golfo no regaço 11

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Relembra os versos de Tasso Junto às lavas do vulcão! O Inglês – marinheiro frio, Que ao nascer no mar se achou, (Porque a Inglaterra é um navio, Que Deus na Mancha ancorou), Rijo entoa pátrias glórias, Lembrando, orgulhoso, histórias De Nelson e de Aboukir... O Francês – predestinado – Canta os louros do passado E os loureiros do porvir! Os marinheiros Helenos, Que a vaga iônia criou, Belos piratas morenos Do mar que Ulisses cortou, Homens que Fídias talhara, Vão cantando em noite clara Versos que Homero gemeu... Nautas de todas as plagas, Vós sabeis achar nas vagas As melodias do céu... III Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d’amarguras! É canto funeral!... Que tétricas figuras!... Que cena infame e vil... Meu Deus! meu Deus! Que horror! IV Era um sonho dantesco... O tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho, Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...

            Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doidas espirais... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece, Outro, que martírios embrutece, Cantando, geme e ri! No entanto o capitão manda a manobra, E após, fitando o céu que se desdobra, Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: “Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Fazei-os mais dançar!...” E ri-se a orquestra irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doidas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!... V Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas 13

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Co’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! Quem são estes desgraçados Que não encontram em vós Mais que o rir calmo da turba Que excita a fúria do algoz? Quem são? Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa Musa, Musa libérrima, audaz!... São os filhos do deserto, Onde a terra esposa a luz. Onde vive em campo aberto A tribo dos homens nus... São os guerreiros ousados, Que com os tigres mosqueados Combatem na solidão. Ontem simples, fortes, bravos... Hoje míseros escravos Sem luz, sem ar, sem razão... São mulheres desgraçadas, Como Agar o foi também. Que sedentas, alquebradas, De longe... bem longe vêm... Trazendo com tíbios passos, Filhos e algemas nos braços, N’alma – lágrimas e fel... Como Agar sofrendo tanto, Que nem o leite de pranto Têm que dar para Ismael. Lá nas areias infindas, Das palmeiras no país,

            Nasceram – crianças lindas, Viveram – moças gentis... Passa um dia a caravana, Quando a virgem na cabana Cisma da noite nos véus...

... Adeus, ó choça do monte, ... Adeus, palmeiras da fonte!... ... Adeus, amores... adeus!... Depois, o areal extenso... Depois, o oceano de pó. Depois no horizonte imenso Desertos... desertos só... E a fome, o cansaço, a sede... Ai! quanto infeliz que cede, E cai p’ra não mais s’erguer!... Vaga um lugar na cadeia, Mas o chacal sobre a areia Acha um corpo que roer. Ontem a Serra Leoa, A guerra, a caça ao leão, O sono dormido à toa Sob as tendas d’amplidão! Hoje... o porão negro, fundo, Infecto, apertado, imundo, Tendo a peste por jaguar... E o sono sempre cortado Pelo arranco de um finado, E o baque de um corpo ao mar... Ontem plena liberdade, A vontade por poder... Hoje... cúm’lo de maldade, Nem são livres p’ra morrer... Prende-os a mesma corrente – Férrea, lúgubre serpente – Nas roscas da escravidão. E assim zombando da morte, Dança a lúgubre coorte Ao som do açoite... Irrisão!... 15

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Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus, Se eu deliro... ou se é verdade Tanto horror perante os céus?!... Ó mar, por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas Do teu manto este borrão? Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!... VI Existe um povo que a bandeira empresta P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!... E deixa-a transformar-se nessa festa Em manto impuro de bacante fria!... Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, Que impudente na gávea tripudia? Silêncio, Musa... Chora, e chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto!... Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança, Estandarte que a luz do sol encerra E as promessas divinas da esperança... Tu que, da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança, Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!... Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas, Como um íris no pélago profundo! Mas é infâmia de mais!... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo! Andrada! arranca esse pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares! S. Paulo, 18 de abril de 1868.

              O SÉCULO

Soldados, do alto daquelas pirâmides quarenta séculos vos contemplam! O século é grande e forte. Da mortalha de seus bravos Fez bandeira a tirania. Oh! Armas talvez o povo De seus ossos faça um dia. O século é grande... No espaço Há um drama de treva e luz. Como Cristo – a liberdade Sangra no poste da cruz. Um corvo escuro, anegrado, Obumbra o manto azulado, Das asas d’águia dos céus... Arquejam peitos e frontes... Nos lábios dos horizontes Há um riso de luz... É Deus. Às vezes quebra o silêncio Ronco estrídulo, feroz. Será o rugir das matas, Ou da plebe a imensa voz?... Treme a terra hirta e sombria... São as vascas da agonia Da liberdade no chão?... Ou do povo o braço ousado Que, sob montes calcado, Abala-os como um Tritão?!... Ante esse escuro problema Há muito irônico rir. NAPOLEÃO V. HUGO J. BONIFÁCIO 17

            P’ra nós o vento da esp’rança Traz o pólen do porvir.

E enquanto o ceticismo Mergulha os olhos no abismo, Que a seus pés raivando tem, Rasga o moço os nevoeiros, P’ra dos morros altaneiros Ver o sol que irrompe além. Toda noite – tem auroras, Raios – toda a escuridão. Moços, creiamos, não tarda A aurora da redenção. Gemer – é esperar um canto... Chorar – aguardar que o pranto Faça-se estrela nos céus. O mundo é o nauta nas vagas... Terá do oceano as plagas Se existem justiça e Deus. 18 No entanto inda há muita noite No mapa da criação. Sangra o abutre – tirano Muito cadáver – nação. Desce a Polônia esvaída, Cataléptica, adormida, À tumba do Sobieski; Inda em sonhos busca a espada... Os reis passam sem ver nada... E o Czar olha e sorri... Roma inda tem sobre o peito O pesadelo dos reis; A Grécia espera chorando Canaris, Byron talvez! Napoleão amordaça A boca da populaça E olha Jersey com terror, Como o filho de Sorrento, Treme ao fitar um momento O Vesúvio aterrador.

            A Hungria é como um cadáver Ao relento exposto nu;

Nem sequer a abriga a sombra Do foragido Kossuth. Aqui – o México ardente, – Vasto filho independente Da liberdade e do sol – Jaz por terra... e lá soluça Juarez, que se debruça E diz-lhe: “Espera o arrebol!” O quadro é negro. Que os fracos Recuem cheios de horror. A nós, herdeiros dos Gracos, Traz a desgraça – valor! Lutai... Há uma lei sublime Que diz: “À sombra do crime Há de a vingança marchar”. Não ouvis do Norte um grito, Que bate aos pés do infinito, Que vai Franklin despertar? 19 É o grito dos Cruzados Que brada aos moços – De pé! É o sol das liberdades Que espera por Josué!... São bocas de mil escravos Que transformaram-se em bravos Ao cinzel da abolição. É a voz dos libertadores – Reptis, que saltam condores A topetar n’amplidão!... E vós, arcas do futuro, Crisálidas do porvir, Quando vosso braço ousado Legislações construir, Levantai um templo novo, Porém não que esmague o povo, Mas lhe seja o pedestal. Que ao menino dê-se a escola,

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Ao veterano – uma esmola... A todos – luz e fanal. Luz!... sim; que a criança é uma ave, Cujo porvir tendes vós; No sol – é uma águia arrojada, Na sombra – um mocho feroz. Libertai tribunas, prelos... São fracos, mesquinhos elos... Não calqueis o povo-rei! Que este mar d’almas e peitos, Com as vagas de seus direitos, Virá partir-vos a lei. Quebre-se o cetro do Papa, Faça-se dele – uma cruz! A púrpura sirva ao povo P’ra cobrir os ombros nus. Que aos gritos do Niágara – Sem escravos – Guanabara Se eleve ao fulgor dos sóis! Banhem-se em luz os prostíbulos, E das lascas dos patíbulos Erga-se a estátua aos heróis! Basta!... Eu sei que a mocidade É o Moisés do Sinai; Das mãos do Eterno recebe As tábuas da lei! – Marchai! Quem cai na luta com glória, Tomba nos braços da história, No coração do Brasil! Moços, do topo dos Andes, Pirâmides vastas, grandes, Vos contemplam séculos mil! Pernambuco, agosto de 1865.

               AO ROMPER D’ALVA

Página feia, que ao futuro narra Dos homens de hoje a lassidão, a história Com pranto escrita, com suor selada Dos párias misérrimos do mundo!... Página feia, que eu não posso altivo Romper, pisar-te, recalcar, punir-te... Sigo só caminhando serra acima, E meu cavalo a galopar se anima Aos bafos da manhã. A alvorada se eleva do levante, E, ao mirar na lagoa seu semblante, Julga ver sua irmã. As estrelas fugindo – aos nenúfares Mandam rútilas pérolas dos ares 21 De um desfeito colar. No horizonte desvendam-se as colinas, Sacode o véu de sonhos de neblinas A terra ao despertar. Tudo é luz, tudo aroma e murmúrio, A barba branca da cascata o rio Faz orando tremer. No descampado o cedro curva a frente, Folhas e prece aos pés do Onipotente Manda a lufada erguer. Terra de Santa Cruz, sublime verso Da epopeia gigante do universo, Da imensa criação, Com tuas matas, ciclopes de verdura, Onde o jaguar, que passa na espessura, Roja as folhas no chão. PEDRO CALASANS

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Com és bela, soberba, livre, ousada! Em tuas cordilheiras assentada A liberdade está. A púrpura da bruma, a ventania Rasga, espedaça o cetro que s’erguia Do rijo piquiá. Livre o tropeiro toca o lote e canta A lânguida cantiga com que espanta A saudade, a aflição. Solto o ponche, o cigarro fumegando, Lembra a serrana bela, que chorando Deixou lá no sertão. Livre como o tufão corre o vaqueiro Pelos morros e várzea e tabuleiro Do intrincado cipó. Que importa’os dedos da jurema aduncos? A anta, ao vê-los, oculta-se nos juncos, Voa a nuvem de pó. Dentre a flor amarela das encostas Mostra a testa luzida, as largas costas No rio o jacaré. Catadupas sem freios, vastas, grandes, Sois a palavra livre desses Andes Que além surgem de pé. Mas o que vejo? É um sonho!... A barbaria Erguer-se neste século, à luz do dia. Sem pejo se ostentar. E a escravidão – nojento crocodilo Da onda turva expulso lá do Nilo – Vir aqui se abrigar!... Oh! Deus! não ouves dentre a imensa orquestra Que a natureza virgem manda em festa Soberba, senhoril, Um grito que soluça aflito, vivo, O retinir dos ferros do cativo, Um sonho discorde e vil?

faça uma redação do tipo artigo de opinião através desse texto abordando o contexto histórico, político e social do manuscrito, bem como a biografia do autor.

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