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Conceição
O que o escrivão da frota de Cabral identificou como diferen...
O que o escrivão da frota de Cabral identificou como diferença, logo registrou com fartura de detalhes: os nativos não saudavam as pessoas como os europeus, eram pardos, avermelhados, de bons rostos e bons narizes, andavam nus, tinham cabelos lisos "rapado até por cima das orelhas" e carregavam arcos e flechas. Traziam os beiços furados e, metidos debaixo deles, ossos brancos.
Caminha relata que os indígenas fizeram diversas demonstrações de hospitalidade, que lhe trataram muito bem e que, ao som de uma gaita, dançaram juntos.
Na carta ao rei de Portugal, Caminha também declara: "Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências" (Caminha, 1993 [1500]).
Toda comunidade humana é dotada de costumes aos quais chamamos "religiosos". O escri-vão da esquadra cabraliana interpretou erroneamente o comportamento e os costumes dos indígenas. Caminha não atentou que a ausência de símbolos com os quais ele estava familia-rizado, como cruzes, imagens humanas e vestes opulentas não denotava falta de crenças e de reflexões profundamente religiosas no "Novo Mundo".
O DESTINO DA "CARTA DO DESCOBRIMENTO"
É surpreendente que um documento posteriormente considerado uma espécie de "certidão de nascimento do Brasil"tenha uma trajetória tão curiosa. Ela permaneceu nos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, sendo recuperada somente em 1773 por ordem do guarda-mor José de Seabra da Silva, hoje considerado o "descobridor" da carta de Caminha.A historiadora Mary Del Priore conta que a carta só foi disponibilizada ao público pela primei ra vez em 1817, mais de trezentos anos depois de ter sido redigida. Ela apareceu na "Cartografia Brasílica", de autoria do padre Manuel Aires de Casal, e sua versão foi mutilada por susceptibili dades do religioso, que não reproduziu o que a historiadora chama de "passagens mais cruas"
Uma cópia encontra-se guardada no Arquivo real da Marinha, no Rio de Janeiro. Teria sido transportada entre outros documentos trazidos por D. João VI durante a transmigração para o Brasil.
Fonte: DEL PRIORE, Mary. Documentos históricas do Brasil São Paulo: Panda Books, 2014, 1
O "ENCOBRIMENTO DO NOVO MUNDO"
Com a chegada dos conquistadores, e uma compreensão da vida e do mundo muito diferen-te da encontrada entre os povos originários, toda a situação em Pindorama se modificou. Com as caravelas e os navegadores, chegaram também as doenças, a violência desigual e, por sua vez, a miséria.
Miséria no sentido de que os indígenas deveriam adaptar-se a um espaço muito menor e, às vezes, ecologicamente muito mais pobre. Além disso, houve um aumento imediato das ne-cessidades em função do contato. Muitos bens que eles mesmos produziam, não mais conse-guiam fazê-lo por causa da pressão exercida sobre eles, pois deveriam se vestir e precisavam de remédios industrializados, porque passaram a adquirir doenças para as quais não tinham anticorpos nem conheciam tratamento. A lista de novas doenças só aumentou. E o território preservado há milhares de anos, de onde os indígenas tiravam o seu sustento, foi tragicamen-te diminuído junto às suas tabas.
O que o escrivão da frota de Cabral identificou como diferença, logo registrou com fartura de detalhes: os nativos não saudavam as pessoas como os europeus, eram pardos, avermelhados, de bons rostos e bons narizes, andavam nus, tinham cabelos lisos "rapado até por cima das orelhas" e carregavam arcos e flechas. Traziam os beiços furados e, metidos debaixo deles, ossos brancos.
Caminha relata que os indígenas fizeram diversas demonstrações de hospitalidade, que lhe trataram muito bem e que, ao som de uma gaita, dançaram juntos.
Na carta ao rei de Portugal, Caminha também declara: "Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências" (Caminha, 1993 [1500]).
Toda comunidade humana é dotada de costumes aos quais chamamos "religiosos". O escri-vão da esquadra cabraliana interpretou erroneamente o comportamento e os costumes dos indígenas. Caminha não atentou que a ausência de símbolos com os quais ele estava familia-rizado, como cruzes, imagens humanas e vestes opulentas não denotava falta de crenças e de reflexões profundamente religiosas no "Novo Mundo".
O DESTINO DA "CARTA DO DESCOBRIMENTO"
É surpreendente que um documento posteriormente considerado uma espécie de "certidão de nascimento do Brasil"tenha uma trajetória tão curiosa. Ela permaneceu nos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, sendo recuperada somente em 1773 por ordem do guarda-mor José de Seabra da Silva, hoje considerado o "descobridor" da carta de Caminha.A historiadora Mary Del Priore conta que a carta só foi disponibilizada ao público pela primei ra vez em 1817, mais de trezentos anos depois de ter sido redigida. Ela apareceu na "Cartografia Brasílica", de autoria do padre Manuel Aires de Casal, e sua versão foi mutilada por susceptibili dades do religioso, que não reproduziu o que a historiadora chama de "passagens mais cruas"
Uma cópia encontra-se guardada no Arquivo real da Marinha, no Rio de Janeiro. Teria sido transportada entre outros documentos trazidos por D. João VI durante a transmigração para o Brasil.
Fonte: DEL PRIORE, Mary. Documentos históricas do Brasil São Paulo: Panda Books, 2014, 1
O "ENCOBRIMENTO DO NOVO MUNDO"
Com a chegada dos conquistadores, e uma compreensão da vida e do mundo muito diferen-te da encontrada entre os povos originários, toda a situação em Pindorama se modificou. Com as caravelas e os navegadores, chegaram também as doenças, a violência desigual e, por sua vez, a miséria.
Miséria no sentido de que os indígenas deveriam adaptar-se a um espaço muito menor e, às vezes, ecologicamente muito mais pobre. Além disso, houve um aumento imediato das ne-cessidades em função do contato. Muitos bens que eles mesmos produziam, não mais conse-guiam fazê-lo por causa da pressão exercida sobre eles, pois deveriam se vestir e precisavam de remédios industrializados, porque passaram a adquirir doenças para as quais não tinham anticorpos nem conheciam tratamento. A lista de novas doenças só aumentou. E o território preservado há milhares de anos, de onde os indígenas tiravam o seu sustento, foi tragicamen-te diminuído junto às suas tabas.