O rio daria a mortalha e até um macio
caixão de água;
e também o acompanhamento
que levaria com passo lento
o defunto ao enterro final
a ser feito no mar de sal.
- E não precisava dinheiro,
e não precisava coveiro,
e não precisava oração
e não precisava inscrição.
- Mas o que se vê não é isso:
é sempre nosso serviço
crescendo mais cada dia;
morre gente que nem vivia.
- E esse povo de lá de riba
de Pernambuco, da Paraíba,
que vem buscar no Recife
poder morrer de velhice,
encontra só, aqui chegando,
cemitério esperando.
- Não é viagem o que fazem
vindo por essas caatingas, vargens;
aí está o seu erro:
vêm é seguindo seu próprio enterro
MELO NETO, J. C. de. Morte e vida Severina. In: Poemas para ler na escola. Seleção de
Regina Zilberman. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. p. 130-131.
As marcas das variedades linguísticas no decorrer do poema buscam
convencer o leitor a aceitar termos depreciados
A
pela norma-padrão, como a marca da oralidade
em "aí".
situar o leitor no tempo-espaço da narrativa
B
poética por meio de marcas de oralidade e
regionalismo.
levar o leitor a perceber a dificuldade de
C
compreensão de determinados regionalismos.
revelar ao leitor a vida de pessoas com pouca
D