Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los só e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não olhas no chão o poema que se perdeu.
Não adoles o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
ANDRADE, C. D. Procura da poesia. In: _____. A rosa do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 14.