Soneto
Gregório de Matos
Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:
Tu, que em um peito ábras escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando cristal em chama derretido:
Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas aí, que andou Amor em ti prudente!
Pois, para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permita-me parecer essa chama fria.