Sou um involuntário ladrão de canetas.
Cleptografia
mantenho o antigo hábito jornalístico de
carregar sempre uma esferográfica no bolso, de vez em quando chego em casa com a minha e mais outra, apanhada por distração em algum balcão ou mesa de trabalho. Pior é que depois não sei a quem devolver. É por isso que repartições públicas e agências lotéricas amarram as canetas em seus guichês, penduricalho cause incômodo aos usuários. Na condição de distraído confesso, entendo bem a precaução.
Pois a caneta esferográfica, não por acaso invenção de um jornalista na década de 1930, parece também estar com os dias contados como sua sucedânea, a máquina de escrever. Li estarrecido, outro dia, que gerações inteiras de crianças já não praticam mais a escrita cursiva na escola. No mundo da tecnologia e da conexão total, escrever à mão passou a ser dispensável. O celular, com suas múltiplas funções, substitui a caneta, a máquina fotográfica, o videogame e, em alguns casos, até o pensamento.
Surripiar a escrita cursiva do ensino me parece bem mais grave do que levar uma ou outra canetinha esporadicamente. Especialistas dizem que escrever à mão desenvolve a motricidade fina e exercita regiões cerebrais que não são atingidas pela digitação, especialmente por essa que é feita com os dedões opositores em smartphones e tablets. Morro de inveja quando vejo a garotada digitar desse jeito, _ continuo acreditando que a escrita manual mexe mais com a criatividade e com a imaginação.
Com a mecanização, ganhamos em velocidade mas perdemos em encanto. Porém, não dá para culpar apenas a tecnologia. Mesmo quando a canetinha era a única alternativa para o registro de informações e declarações, buscava-se a rapidez. Estudante de Jornalismo na década de 1970, cheguei a ter aulas de taquigrafia, um método de abreviaturas e símbolos para registro rápido de discursos. Na verdade, aprendi apenas o essencial e nunca cheguei a usar mais do que dois ou três sinais taquigráficos na linguagem mista que passei a utilizar nos meus blocos de anotações. Não é raro, porém, que meus registros apressados em letra cursiva fiquem mais ilegíveis do que a própria taquigrafia. O importante é que eu entendo.
Por isso, não abandono a minha caneta. E com ela que faço diariamente a minha lista de atividades, é com ela que anoto telefones importantes para depois registrar no celular, é com ela que rabisco ideias para desenvolver crônicas como esta que estou concluindo.
Só não me lembrei de anotar onde foi mesmo que peguei esta caneta...
INSTRUÇÃO: Para responder à questão 02, considere as afirmações sobre o texto.
Para desenvolver o tema a que se propõe, o autor
I. compara o roubo de canetas com o da escrita cursiva, considerando aquele mais grave do que este.
II. sugere que a digitação não exercita algumas regiões cerebrais.
III. considera que escrever à mão desenvolve a criatividade e a imaginação.
IV. associa a taquigrafia e o uso da tecnologia à necessidade de rapidez na construção/transmissão da mensagem.
V. afirma que aprendeu apenas o essencial da linguagem mista necessária a sua profissão.
As afirmações que podem ser comprovadas pela leitura do texto são, apenas,
A.
I, II e III.
B.
I e V.
C.
I e III.
D.
III e IV.