Substância pensante e substância extensa
Ao longo de tais análises, há mais um aspecto do pensamento cartesiano que é
importante destacar: a compreensão de que o sujeito é formado por uma substância
pensante (res cogitans, em latim) e por uma substância extensa (res extensa). De acor-
do com Descartes, na obra Meditações concernentes à primeira filosofia, o ser humano
está, essencialmente, dividido em duas instâncias: a da alma - ou do pensamento (res
cogitans) - e a do corpo (res extensa). Assim, remetendo à teoria do filósofo grego Platão
(c. 428-347 a.C.), que concebia a realidade como uma dicotomia entre mundo sensível
(dos objetos, das coisas, da imperfeição) e mundo inteligível (das ideias, imutável,
eterno e perfeito), Descartes concebeu a ideia de indivíduo como o ser que unia duas
substâncias de ordens diferentes: a do mundo físico e a do pensamento.
Essa dicotomia era tema de um debate entre os pensadores racionalistas e os empi-
ristas, na época de Descartes. Cada um desses grupos defendia a prevalência da razão
(racionalismo) ou da experiência sensível (empirismo) no processo de aquisição e constru-
ção do conhecimento. A predominância de um ou de outro tem reflexo na concepção de
indivíduo e no modo como este interage com o mundo a seu redor e com as próprias ideias.
Pelo que vimos sobre Descartes, é possível considerar que ele era um filósofo raciona-
lista, pois considerava que a verdade seria alcançada por meio da razão, do pensamento,
e não da experiência sensível ou das sensações corpóreas.