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TEXTO 1 "O cara que divulgou as fotos está errado, mas ningu...
TEXTO 1 "O cara que divulgou as fotos está errado, mas ninguém manda tirar foto pelada!" – a falácia do mundo justo e a culpabilização das vítimas Ana Carolina Prado "É claro que o cara que estuprou é o culpado, mas as mulheres também ficam andando na rua de saia curta e em hora errada!". "Se você trabalhar duro vai ser bem-sucedido, não importa quanto você faça!". "Você sabe o que essas afirmações têm em comum?" Há algo em comum aqui sobre como os humanos têm diversas formas de se enganarem em relação à ideia que têm de que, na verdade, essas sempre para proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade de estar sempre certos. Mas não se esqueçam que não são relações e como vemos é nos mesmos: temos também tendência de nos iludir em relação à falácia do mundo justo em geral. E as frases acima exemplificam uma maneira como isso pode acontecer: por exemplo, embora as pessoas raramente tenham qualquer coisa e ver um estranho numa rua deserta, a maioria das vítimas e sejam normalmente consideradas só voltadas para as mulheres, não para os homens. "não faça algo que poderia levá-la a ser violentada". Muitos estudos revelam outras formas de culpabilização da vítima. Em 1966, os pesquisadores Melvin Lerner e Carolyn Simmons realizaram 72 mulheres para assistir a um estudo resolvendo problemas e recebendo choques elétricos (que eram, na verdade, mas elas não sabiam) quando errava. Ao final do experimento, as mulheres foram questionadas sobre a atriz – muitas se valorizaram, considerando seu caráter e aparência, e mesmo dois anos depois, as mulheres ainda consideravam que o prêmio foi totalmente merecido, e isso foi dito aos observadores. Mesmo assim, quando perguntados, elas disseram que o tema havia recebido o prêmio em mais produtivo. De para cá, universidades foram feitas e obtiveram resultados semelhantes. Em um estudo sobre bullying feito em 2010, na Universidade Linköping, na Suécia, 42% dos adolescentes culparam a vítima por ser um alvo fácil. Para os pesquisadores, esses julgamentos estavam relacionados à não-ampliação da função – que coisas boas acontecem a quem é bom e coisas más acontecem a quem merece. A tendência é acreditar que o mundo é justo e chamado, na psicologia, a falácia do mundo justo. "Não importa quão liberal ou conservador você seja, alguma noção dela entra na sua relação emocional quando sobre sofre dos outros", diz o jornalista David McRaney na livro "Você não é tão esperto quanto pensa". Ele acrescenta que, embora muitas pessoas não acreditam conscientemente em carma, acabam acreditando em alguma versão, adaptando o conceito para a sua própria cultura. É da para entender por que somos levados a pensar assim: viver em um mundo injusto e imprevisível é meio assustador e queremos nos sentir seguros e no controle. O problema é que crer cegamente nisso leva a ainda mais injustiças, como o julgamento de que pessoas pobres ou viciadas em drogas são vagabundos e têm mais é que se ferrar, que mulher de rua curta merece ser maltratada ou que programas sociais são um desperdício de dinheiro e uma muleta para preconceitos. Todas essas crenças são falaciosas porque partem do princípio de que o sistema em que vivemos é justo e dá um exatamente o que merece. É importante notar que não estamos falando aqui sobre consequências de ações: se você não trabalha ou gasta todo seu dinheiro com suas instintos, é bem provável que acabe sem penha nenhuma; se for escroto com todo mundo, é provável que tenha muita dificuldade em ter amigos de verdade – são escolhas ruins que costumam levar a resultados ruins. O problema é que, mesmo a cada dia, o mundo justo considera os inúmeros fatores que influenciam quem acaba bem-sucedida a pessoa se, como o local onde ela nasceu, a situação socioeconômica da sua família, os aspectos de instâncias sociais quais passam ao longo da vida e acesso a educação. Programas sociais e ações afirmativas não rompem o equilíbrio natural das coisas, como seus críticos podem crer – pelo contrário, a ideia é justamente minimizar as inequidades sociais. Uma situação extremamente pobre pode virar a dona de uma empresa multimilionária, e o esforço que vai ter de fazer para chegar lá é muito maior do que o esforço de alguém nascido em uma família que sempre teve acesso à melhor educação e aos bons contatos. "Se olhar os excluídos e se questionar por que eles não
TEXTO 1 "O cara que divulgou as fotos está errado, mas ninguém manda tirar foto pelada!" – a falácia do mundo justo e a culpabilização das vítimas Ana Carolina Prado "É claro que o cara que estuprou é o culpado, mas as mulheres também ficam andando na rua de saia curta e em hora errada!". "Se você trabalhar duro vai ser bem-sucedido, não importa quanto você faça!". "Você sabe o que essas afirmações têm em comum?" Há algo em comum aqui sobre como os humanos têm diversas formas de se enganarem em relação à ideia que têm de que, na verdade, essas sempre para proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade de estar sempre certos. Mas não se esqueçam que não são relações e como vemos é nos mesmos: temos também tendência de nos iludir em relação à falácia do mundo justo em geral. E as frases acima exemplificam uma maneira como isso pode acontecer: por exemplo, embora as pessoas raramente tenham qualquer coisa e ver um estranho numa rua deserta, a maioria das vítimas e sejam normalmente consideradas só voltadas para as mulheres, não para os homens. "não faça algo que poderia levá-la a ser violentada". Muitos estudos revelam outras formas de culpabilização da vítima. Em 1966, os pesquisadores Melvin Lerner e Carolyn Simmons realizaram 72 mulheres para assistir a um estudo resolvendo problemas e recebendo choques elétricos (que eram, na verdade, mas elas não sabiam) quando errava. Ao final do experimento, as mulheres foram questionadas sobre a atriz – muitas se valorizaram, considerando seu caráter e aparência, e mesmo dois anos depois, as mulheres ainda consideravam que o prêmio foi totalmente merecido, e isso foi dito aos observadores. Mesmo assim, quando perguntados, elas disseram que o tema havia recebido o prêmio em mais produtivo. De para cá, universidades foram feitas e obtiveram resultados semelhantes. Em um estudo sobre bullying feito em 2010, na Universidade Linköping, na Suécia, 42% dos adolescentes culparam a vítima por ser um alvo fácil. Para os pesquisadores, esses julgamentos estavam relacionados à não-ampliação da função – que coisas boas acontecem a quem é bom e coisas más acontecem a quem merece. A tendência é acreditar que o mundo é justo e chamado, na psicologia, a falácia do mundo justo. "Não importa quão liberal ou conservador você seja, alguma noção dela entra na sua relação emocional quando sobre sofre dos outros", diz o jornalista David McRaney na livro "Você não é tão esperto quanto pensa". Ele acrescenta que, embora muitas pessoas não acreditam conscientemente em carma, acabam acreditando em alguma versão, adaptando o conceito para a sua própria cultura. É da para entender por que somos levados a pensar assim: viver em um mundo injusto e imprevisível é meio assustador e queremos nos sentir seguros e no controle. O problema é que crer cegamente nisso leva a ainda mais injustiças, como o julgamento de que pessoas pobres ou viciadas em drogas são vagabundos e têm mais é que se ferrar, que mulher de rua curta merece ser maltratada ou que programas sociais são um desperdício de dinheiro e uma muleta para preconceitos. Todas essas crenças são falaciosas porque partem do princípio de que o sistema em que vivemos é justo e dá um exatamente o que merece. É importante notar que não estamos falando aqui sobre consequências de ações: se você não trabalha ou gasta todo seu dinheiro com suas instintos, é bem provável que acabe sem penha nenhuma; se for escroto com todo mundo, é provável que tenha muita dificuldade em ter amigos de verdade – são escolhas ruins que costumam levar a resultados ruins. O problema é que, mesmo a cada dia, o mundo justo considera os inúmeros fatores que influenciam quem acaba bem-sucedida a pessoa se, como o local onde ela nasceu, a situação socioeconômica da sua família, os aspectos de instâncias sociais quais passam ao longo da vida e acesso a educação. Programas sociais e ações afirmativas não rompem o equilíbrio natural das coisas, como seus críticos podem crer – pelo contrário, a ideia é justamente minimizar as inequidades sociais. Uma situação extremamente pobre pode virar a dona de uma empresa multimilionária, e o esforço que vai ter de fazer para chegar lá é muito maior do que o esforço de alguém nascido em uma família que sempre teve acesso à melhor educação e aos bons contatos. "Se olhar os excluídos e se questionar por que eles não