TEXTO 12
Ser brotinho
Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível. [...]
É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar o dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata [...]. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitaçôes humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância. [...]
É telefonar muito, estendida no chão. [...] Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. [...]
É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. [...]
Ser brotinho é adorar. Adorar o impossivel. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrivel, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.
Fonte: CAMPOS, Paulo Mendes. Ser brotinho. In: Crônicas 5, São Paulo: Ática, 2011, p. 69-71.
Obrigatória
Nota: 1
10 Nessa crônica, Paulo Mendes Campos explica como é ser parte de um grupo social específico, que ele menciona no título e em determinados trechos do texto. Marque a alternativa que apresenta as palavras utilizadas pelo cronista que permitem identificar a que pessoas ele se refere.
A) "irresistível" - "bonito" - "feio"