Download the Guru IA app
Android and iOS

Aluno
Texto_1: Conto de mistério Staislaw Ponte Preta Com a gola d...
Texto_1:
Conto de mistério
Staislaw Ponte Preta
Com a gola do paletó levantada e a aba do chapéu abaixada, caminhando pelos cantos escuros, era quase impossível qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto. No local combinado, parou e fez o sinal que tinham já estipulado à maneira de senha. Parou debaixo do poste, acendeu o cigarro e soltou a fumaça em três baforadas compassadas.
Imediatamente um sujeito mal-encarado, que se encontrava no café em frente, ajeitou a gravata e cuspiu de banda.
Era aquele. Atravessou cautelosamente a rua, entrou no café e pediu um guaraná. O outro sorriu e se aproximou: "Siga-me!" - foi a ordem dada com voz cavernosa. Deu apenas um gole no guaraná e saiu. O outro entrou num beco úmido e mal iluminado e ele - a uma distância de uns dez a doze passos - entrou também.
Ali parecia não haver ninguém. O silêncio era sepulcral. Mas o homem que ia na frente olhou em volta, certificou-se de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela. Logo uma dobradiça gemeu e a porta abriu-se discretamente.
Entraram os dois e deram numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de pequenos pacotes. Por trás dela um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de pobre trabalhador parecia ter medo do que ia fazer. Não hesitou - porém - quando o homem que entrara na frente apontou para o que entrara em seguida e disse: "É este".
O que estava por trás da mesa pegou um dos pacotes e entregou ao que falara. Este passou o pacote para o outro e perguntou se trouxera o dinheiro. [...]
Saiu então sozinho, caminhando rente as paredes do beco. Quando alcançou uma rua mais clara, assoviou para um taxi que passava e mandou tocar a toda pressa para determinado endereço. O motorista obedeceu e, meia hora depois, entrava em casa a berrar para a mulher:
-- Julieta! Ó Julieta... consegui.
A mulher veio lá de dentro enxugando as mãos em um avental, a sorrir de felicidade. O marido colocou o pacote sobre a mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira mesmo, depois de tanto esforço e economia, comprar aquilo que eles não viam há tanto tempo naquele barraco. Ali estava: um quilo de feijão.
Stanislaw Ponte Preta. "Conto de mistério". In: Dois amigos e um chato. 25. ed. São Paulo, Moderna, 1986. p. 65-6.
Fonte: Livro- Português - Série - Novo Ensino Médio - Vol. único. Ed. Ática 2000- p.22-3.
TEXTO 2:
ENCURTANDO O CAMINHO
Tia Maria, quando era criança, um dia se atrasou, na saída da escola, e, na hora em que foi voltar para casa, já começava a escurecer. Viu outra menina passando pelo cemitério e resolveu cortar caminho, fazendo o mesmo trajeto que ela.
Tratou de apressar o passo até alcançá-la e explicou:
_ Andar sozinha, no cemitério, me dá um frio na barriga! Será que você se importa, se nós formos juntas?
_ Claro que não. Eu entendo você - respondeu a outra. - Quando eu estava viva, sentia exatamente a mesma coisa.
(Ångela Lago.Sete histórias para sacudir o esqueleto.São Paulo: Companhia das Letrinhas,2002.p.15-16)
Anúncio
Texto_1: Conto de mistério Staislaw Ponte Preta Com a gola do paletó levantada e a aba do chapéu abaixada, caminhando pelos cantos escuros, era quase impossível qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto. No local combinado, parou e fez o sinal que tinham já estipulado à maneira de senha. Parou debaixo do poste, acendeu o cigarro e soltou a fumaça em três baforadas compassadas. Imediatamente um sujeito mal-encarado, que se encontrava no café em frente, ajeitou a gravata e cuspiu de banda.
Era aquele. Atravessou cautelosamente a rua, entrou no café e pediu um guaraná. O outro sorriu e se aproximou: "Siga-me!" - foi a ordem dada com voz cavernosa. Deu apenas um gole no guaraná e saiu. O outro entrou num beco úmido e mal iluminado e ele - a uma distância de uns dez a doze passos - entrou também.
Ali parecia não haver ninguém. O silêncio era sepulcral. Mas o homem que ia na frente olhou em volta, certificou-se de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela. Logo uma dobradiça gemeu e a porta abriu-se discretamente.
Entraram os dois e deram numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de pequenos pacotes. Por trás dela um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de pobre trabalhador parecia ter medo do que ia fazer. Não hesitou - porém - quando o homem que entrara na frente apontou para o que entrara em seguida e disse: "É este".
O que estava por trás da mesa pegou um dos pacotes e entregou ao que falara. Este passou o pacote para o outro e perguntou se trouxera o dinheiro. [...]
Saiu então sozinho, caminhando rente as paredes do beco. Quando alcançou uma rua mais clara, assoviou para um taxi que passava e mandou tocar a toda pressa para determinado endereço. O motorista obedeceu e, meia hora depois, entrava em casa a berrar para a mulher: -- Julieta! Ó Julieta... consegui. A mulher veio lá de dentro enxugando as mãos em um avental, a sorrir de felicidade. O marido colocou o pacote sobre a mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira mesmo, depois de tanto esforço e economia, comprar aquilo que eles não viam há tanto tempo naquele barraco. Ali estava: um quilo de feijão. Stanislaw Ponte Preta. "Conto de mistério". In: Dois amigos e um chato. 25. ed. São Paulo, Moderna, 1986. p. 65-6. Fonte: Livro- Português - Série - Novo Ensino Médio - Vol. único. Ed. Ática 2000- p.22-3.
TEXTO 2: ENCURTANDO O CAMINHO Tia Maria, quando era criança, um dia se atrasou, na saída da escola, e, na hora em que foi voltar para casa, já começava a escurecer. Viu outra menina passando pelo cemitério e resolveu cortar caminho, fazendo o mesmo trajeto que ela. Tratou de apressar o passo até alcançá-la e explicou: _ Andar sozinha, no cemitério, me dá um frio na barriga! Será que você se importa, se nós formos juntas? _ Claro que não. Eu entendo você - respondeu a outra. - Quando eu estava viva, sentia exatamente a mesma coisa. (Ångela Lago.Sete histórias para sacudir o esqueleto.São Paulo: Companhia das Letrinhas,2002.p.15-16) Anúncio