Tratado proposto a Manuel da Silva Ferreira pelos seus escravos durante o tempo em que se conservaram levantados
Por volta de 1789, escravizados do Engenho de Santana, em Ilhéus, na Bahia, rebelaram-se. Liderados por Gregório Luiz, eles assassinaram o feitor e fugiram da fazenda, abrigando-se nas matas próximas ao engenho. Após referentes expedições enviadas pelo senhor, Manuel da Silva Ferreira, eles elaboraram um tratado, apresentando as condições para retornar voluntariamente ao trabalho. Leia a seguir alguns trechos desse documento.
“Meu senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar pelo que nós quisermos a saber.
Em cada semana nós há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalhar-mos para nós não tirando um destes dias por causa de dia santo.
Para podermos viver nós há de dar rede, tarrafas e canoas.
Não nos há de obrigar a fazer cambos, nem a mariscar, e quando quiser fazer cambos a marcar mandares os seus pretos minas.
[...]
Faça uma barca grande para quando for Bahia nós metermos as nossas cargas para não pegarmos fretes.
Na planta da mandioca, os homens que forem só tenham tarefa de duas mãos e meia e as mulheres de duas mãos.
A tarefa de farinha há de ser de cinco alqueires rasos, pondro arrancardes bastante para estes servirem de permuta.
A tarefa da cana há de ser de cinco alqueires, e de seis, e a dez canas da receita.
[...]
Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer lugar, sendo para isso apenas licença, e podemos cuidar da terra jardincando ou qualquer outra sem darmos parte para isso.
[...]
Poderemos encerrar, folgar, e cantar em todos os tempos que quisermos que isso não impeça e seja preciso licença.