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Aluno
Uberabinha Para se ter uma ideia de quanto Grande Otelo tra...
Uberabinha
Para se ter uma ideia de quanto Grande Otelo trabalhava na segunda metade da década de 1950, basta que se diga que, em 1957, foram lançados seis filmes com a sua participação: Metido a bacana; Brasiliana; Baronesa transviada; Rio, Zona Norte; De pernas pro ar; e Com jeito, vai. E não era somente cinema: no dia 6 de agosto daquele ano, o produtor e diretor Carlos Machado promoveu na elegante boate Night and Day, no Centro do Rio, a estreia de Mister Samba, um espetáculo que focalizava a vida e a obra de Ary Barroso, que tinha Grande Otelo entre os seus protagonistas.
Com a casa lotada de cariocas e de turistas vindos de todas as regiões brasileiras e de outros países, ele dividia com Elisete Cardoso, a estrela do show, a interpretação de "Boneca de piche", um dos grandes êxitos da carreira de Ary. Grande Otelo e Elisete interpretavam essa canção havia vários anos, desde o tempo em que a grande cantora, ainda desconhecida do grande público, recebia a ajuda do amigo. Ele conseguia apresentações em clubes, circos, onde, enfim, houvesse um dinheirinho para socorrê-la naquela fase de tanta dificuldade financeira, para cantarem em dupla "Boneca de piche".
Certa noite, o público percebeu que alguma coisa incomodava Grande Otelo. Desaparecera o brilho do seu rosto e a alegria de sempre. Ao cantar os versos "Boneca de piche / Da cor de azeviche", calou a boca, começou a vomitar em pleno palco e correu para os bastidores. Um médico que assistia ao show levantou-se assustado e correu para o camarim. Depois de aplicar uma injeção de coramina, ensopou um algodão com amônia e levou-o ao nariz do paciente, que protestava com veemência. Poucos minutos depois, com o brilho do rosto de volta, o artista manifestou a intenção de continuar o trabalho.
Vou voltar para o palco.
-
- Não faça isso. Vamos saber o que você tem - advertiu o médico.
Otelo não levou a discussão adiante. Esperou apenas que Elisete Cardoso encerrasse a interpretação de "No rancho fundo" para voltar ao palco e dar continuidade ao número exatamente na parte interrompida.
"Boneca de piche
Da cor do azeviche..."
Elisete sorriu feliz e não escondeu a emoção, enquanto o público aplaudia cada verso do delicioso samba de Ary Barroso.
Terminado o show, médico voltou ao camarim e os dois saíram pela noite carioca. Divertiram-se muito lembrando de casos que ambos
viveram ou testemunharam na primeira infância em São Pedro de
Uberabinha, a cidade onde nasceram, situada a 863 metros acima do nível do mar, no nordeste do Triângulo Mineiro. Em 1929, a cidade mudaria o nome para Uberlândia, por sugestão de um dos seus filhos ilustres, João de Deus Faria. O médico, chamado Josias de Freitas, era um menino de dois anos quando Otelo, filho da cozinheira da sua casa, Maria Abadia de Souza, nasceu. Em 1957, Josias vivia no Rio, onde abriu consultório e ganhou muito prestígio como cirurgião; mais tarde, viria a assumir a direção-geral do Hospital Grafée Guinle, que transformou na maior trincheira do país na luta contra a aids.
Por ter apenas dois anos quando Grande Otelo nasceu, Josias não se lembrava da data exata do nascimento do amigo. Nada de mais, pois o pró- prio Otelo também ignorava. E por isso acabou inventando uma: o dia e o mês, 18 de outubro, segundo justificava, seriam os mesmos do seu batizado. Já o ano, 1915, inventara mesmo. É que ele nunca recorrera à única fonte possível para conhecer toda a verdade, já que, na época, principalmente numa cidade do interior, quase sempre os filhos do povo deixavam de ser registrados nos cartórios oficiais. Se ele tivesse o cuidado de recorrer ao arquivo da paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Uberlândia, veria no livro número 11, de 150 folhas, com a relação de todos os batizados que deveriam ser realizados entre 1º de janeiro de 1915 e 19 de outubro de 1917, o dia certo em que veio ao mundo. Talvez por sobrar folhas em branco, o livro foi até janeiro de 1918. Na página 108, o registro número 42 dá conta de um batizado realizado pelo vigário da paróquia, cônego Pedro Pezzuto, com os seguintes dizeres: "A vinte e um de janeiro de 1918, batizei o inocente Sebastião, nascido a 18 de outubro do ano passado, filho legítimo de Francisco Bernardo da Costa e de Maria Abadia. Padrinhos: Marcelino Felipe de Campos e Maria de Pina". Portanto, a versão do futuro ator sobre o seu nascimento estava correta pelo menos em relação ao dia e ao mês, embora não tivessem nada com a data do batizado, que foi dia 21 de janeiro. Ele só errou no ano em que nasceu. Na verdade, era dois anos mais novo, pois, segundo o registro da igreja, nasceu em 1917 e não em 1915, como dizia.
REFLETINDO SOBRE O TEXTO
-
O texto que você leu foi publicado em 2007. Nessa ocasião, quanto tempo havia decorrido desde a morte de Grande Otelo?
-
O primeiro capítulo da biografia trata de qual época da vida do biografado? Que estratégia foi utilizada para focar esse momento?
-
Releia o início do texto.
a) Que imagem de Grande Otelo o leitor constrói com base no primeiro parágrafo?
b) A relação que o artista mantinha com a cantora Elisete Cardoso acrescenta outra característica a essa imagem. Qual? Justifique.
- O capítulo foi iniciado com o relato de um espetáculo.
a) Qual era o tema desse espetáculo?
b) Que fato inesperado aconteceu durante a apresentação e como a situação se resolveu?
c) A narração do que ocorreu durante o show pôs em destaque o médico Josias de Freitas. Por que ele é importante para o relato da vida de Grande Otelo?
d) Há indícios no texto de que o médico também é uma figura de destaque social? Justifique.
- Localize, no capítulo, algumas informações sobre Grande Otelo.
a) Qual é o primeiro nome dele?
b) Onde ele nasceu?
c) Considerando a verdadeira data de nascimento de Grande Otelo, quantos anos ele tinha em 26 de novembro de 1993, quando faleceu?
d) Segundo a data que o próprio artista indicava como correta, quantos anos ele teria vivido?
e) Que estratégia Sérgio Cabral, o autor da biografia, usou para descobrir a data exata de nascimento de Grande Otelo?
- O texto menciona a família de Grande Otelo.
a) Qual era a condição financeira dessa família?
b) Cite um fato que justifique sua conclusão.
c) Conclua com base na resposta anterior: além de construir a imagem de uma pessoa, geralmente uma figura pública, que outro conhecimento as biografias podem oferecer ao leitor? Explique sua resposta.
-
Em sua opinião, essa biografia mostrou uma imagem negativa ou positiva de Grande Otelo? Justifique sua resposta.
-
Para você, por que Grande Otelo mereceu uma biografia? Que tipo de leitor teria interesse em lê-la? Por quê?
Uberabinha
Para se ter uma ideia de quanto Grande Otelo trabalhava na segunda metade da década de 1950, basta que se diga que, em 1957, foram lançados seis filmes com a sua participação: Metido a bacana; Brasiliana; Baronesa transviada; Rio, Zona Norte; De pernas pro ar; e Com jeito, vai. E não era somente cinema: no dia 6 de agosto daquele ano, o produtor e diretor Carlos Machado promoveu na elegante boate Night and Day, no Centro do Rio, a estreia de Mister Samba, um espetáculo que focalizava a vida e a obra de Ary Barroso, que tinha Grande Otelo entre os seus protagonistas.
Com a casa lotada de cariocas e de turistas vindos de todas as regiões brasileiras e de outros países, ele dividia com Elisete Cardoso, a estrela do show, a interpretação de "Boneca de piche", um dos grandes êxitos da carreira de Ary. Grande Otelo e Elisete interpretavam essa canção havia vários anos, desde o tempo em que a grande cantora, ainda desconhecida do grande público, recebia a ajuda do amigo. Ele conseguia apresentações em clubes, circos, onde, enfim, houvesse um dinheirinho para socorrê-la naquela fase de tanta dificuldade financeira, para cantarem em dupla "Boneca de piche".
Certa noite, o público percebeu que alguma coisa incomodava Grande Otelo. Desaparecera o brilho do seu rosto e a alegria de sempre. Ao cantar os versos "Boneca de piche / Da cor de azeviche", calou a boca, começou a vomitar em pleno palco e correu para os bastidores. Um médico que assistia ao show levantou-se assustado e correu para o camarim. Depois de aplicar uma injeção de coramina, ensopou um algodão com amônia e levou-o ao nariz do paciente, que protestava com veemência. Poucos minutos depois, com o brilho do rosto de volta, o artista manifestou a intenção de continuar o trabalho.
Vou voltar para o palco.
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- Não faça isso. Vamos saber o que você tem - advertiu o médico.
Otelo não levou a discussão adiante. Esperou apenas que Elisete Cardoso encerrasse a interpretação de "No rancho fundo" para voltar ao palco e dar continuidade ao número exatamente na parte interrompida.
"Boneca de piche
Da cor do azeviche..."
Elisete sorriu feliz e não escondeu a emoção, enquanto o público aplaudia cada verso do delicioso samba de Ary Barroso.
Terminado o show, médico voltou ao camarim e os dois saíram pela noite carioca. Divertiram-se muito lembrando de casos que ambos
viveram ou testemunharam na primeira infância em São Pedro de Uberabinha, a cidade onde nasceram, situada a 863 metros acima do nível do mar, no nordeste do Triângulo Mineiro. Em 1929, a cidade mudaria o nome para Uberlândia, por sugestão de um dos seus filhos ilustres, João de Deus Faria. O médico, chamado Josias de Freitas, era um menino de dois anos quando Otelo, filho da cozinheira da sua casa, Maria Abadia de Souza, nasceu. Em 1957, Josias vivia no Rio, onde abriu consultório e ganhou muito prestígio como cirurgião; mais tarde, viria a assumir a direção-geral do Hospital Grafée Guinle, que transformou na maior trincheira do país na luta contra a aids.
Por ter apenas dois anos quando Grande Otelo nasceu, Josias não se lembrava da data exata do nascimento do amigo. Nada de mais, pois o pró- prio Otelo também ignorava. E por isso acabou inventando uma: o dia e o mês, 18 de outubro, segundo justificava, seriam os mesmos do seu batizado. Já o ano, 1915, inventara mesmo. É que ele nunca recorrera à única fonte possível para conhecer toda a verdade, já que, na época, principalmente numa cidade do interior, quase sempre os filhos do povo deixavam de ser registrados nos cartórios oficiais. Se ele tivesse o cuidado de recorrer ao arquivo da paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Uberlândia, veria no livro número 11, de 150 folhas, com a relação de todos os batizados que deveriam ser realizados entre 1º de janeiro de 1915 e 19 de outubro de 1917, o dia certo em que veio ao mundo. Talvez por sobrar folhas em branco, o livro foi até janeiro de 1918. Na página 108, o registro número 42 dá conta de um batizado realizado pelo vigário da paróquia, cônego Pedro Pezzuto, com os seguintes dizeres: "A vinte e um de janeiro de 1918, batizei o inocente Sebastião, nascido a 18 de outubro do ano passado, filho legítimo de Francisco Bernardo da Costa e de Maria Abadia. Padrinhos: Marcelino Felipe de Campos e Maria de Pina". Portanto, a versão do futuro ator sobre o seu nascimento estava correta pelo menos em relação ao dia e ao mês, embora não tivessem nada com a data do batizado, que foi dia 21 de janeiro. Ele só errou no ano em que nasceu. Na verdade, era dois anos mais novo, pois, segundo o registro da igreja, nasceu em 1917 e não em 1915, como dizia.
REFLETINDO SOBRE O TEXTO
-
O texto que você leu foi publicado em 2007. Nessa ocasião, quanto tempo havia decorrido desde a morte de Grande Otelo?
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O primeiro capítulo da biografia trata de qual época da vida do biografado? Que estratégia foi utilizada para focar esse momento?
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Releia o início do texto.
a) Que imagem de Grande Otelo o leitor constrói com base no primeiro parágrafo?
b) A relação que o artista mantinha com a cantora Elisete Cardoso acrescenta outra característica a essa imagem. Qual? Justifique.
- O capítulo foi iniciado com o relato de um espetáculo.
a) Qual era o tema desse espetáculo?
b) Que fato inesperado aconteceu durante a apresentação e como a situação se resolveu?
c) A narração do que ocorreu durante o show pôs em destaque o médico Josias de Freitas. Por que ele é importante para o relato da vida de Grande Otelo?
d) Há indícios no texto de que o médico também é uma figura de destaque social? Justifique.
- Localize, no capítulo, algumas informações sobre Grande Otelo.
a) Qual é o primeiro nome dele?
b) Onde ele nasceu?
c) Considerando a verdadeira data de nascimento de Grande Otelo, quantos anos ele tinha em 26 de novembro de 1993, quando faleceu?
d) Segundo a data que o próprio artista indicava como correta, quantos anos ele teria vivido?
e) Que estratégia Sérgio Cabral, o autor da biografia, usou para descobrir a data exata de nascimento de Grande Otelo?
- O texto menciona a família de Grande Otelo.
a) Qual era a condição financeira dessa família?
b) Cite um fato que justifique sua conclusão.
c) Conclua com base na resposta anterior: além de construir a imagem de uma pessoa, geralmente uma figura pública, que outro conhecimento as biografias podem oferecer ao leitor? Explique sua resposta.
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Em sua opinião, essa biografia mostrou uma imagem negativa ou positiva de Grande Otelo? Justifique sua resposta.
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Para você, por que Grande Otelo mereceu uma biografia? Que tipo de leitor teria interesse em lê-la? Por quê?