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Caminho de Peabiru: a fascinante rota indígena que conecta o...
Caminho de Peabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico
Jornal eletrônico
Eu havia viajado até o Estado do Paraná, não muito longe da fronteira com o Paraguai, em busca dos restos do Caminho de Peabiru — uma rede de trilhas com 4 mil quilômetros de extensão, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico, construída ao longo de milênios pelos povos indígenas sul-americanos.
A maior parte do caminho original desapareceu, consumido pela natureza ou transformado em rodovias ao longo dos séculos. [...] No entanto, é fácil compreender por que essa trilha transcontinental cativa a imaginação das pessoas com tanta facilidade — uma fascinação que vem desde o primeiro europeu conhecido por caminhar por toda a sua extensão: o navegador português Aleixo Garcia.
Garcia naufragou no litoral de Santa Catarina no ano de 1516, depois do fracasso de uma missão espanhola que pretendia navegar pelo Rio da Prata. Ele e meia dúzia de outros navegadores foram acolhidos pelos indígenas guaranis. Oito anos mais tarde, depois de ouvir as histórias sobre um caminho que levava até um império nas montanhas, rico em ouro e prata, Garcia viajou com 2 mil guerreiros guaranis até os Andes, a cerca de 3 mil quilômetros de distância.
[...] As trilhas que vinham do Brasil conectavam-se à rede de estradas incas e pré-incas através dos Andes, que hoje recebem muitos visitantes, mas o Caminho de Peabiru propriamente dito deixou poucos vestígios.
As teorias divergem não apenas sobre a época da sua criação, mas também o local exato por onde a rota passava. "Sempre teremos várias hipóteses", explica a arqueóloga Cláudia Inês Parellada. "É difícil ter certeza sobre o caminho completo porque ele mudou ao longo do tempo."
O consenso é que o caminho principal da rede conectava o litoral leste e oeste da América do Sul. Dos seus pontos de partida no litoral brasileiro (onde hoje ficam os Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina), as trilhas se reuniam no Paraná, prosseguindo através do território que hoje forma o Paraguai até a região de Potosí, na Bolívia, que era rica em prata.
Ao chegar ao lago Titicaca (hoje, fronteira entre a Bolívia e o Peru), o caminho seguia até Cusco — a capital do império inca — e, de lá, descia até o litoral peruano e o norte do Chile.
"Pode-se dizer que o roteiro do Peabiru era aquele que acompanhava o movimento aparente do Sol, nascente-poente", segundo Rosana Bond, na série literária História do Caminho de Peabiru, publicada em 2021.
Nessa série, a pesquisadora brasileira analisa diversas hipóteses plausíveis sobre as origens da trilha e conclui que a rede de caminhos provavelmente foi criada e usada por diversos grupos indígenas ao longo dos séculos, mas sua característica principal era o desejo de conectar o Atlântico ao Pacífico.
Entre os povos a que Bond se refere, encontram-se os guaranis, uma das maiores populações nativas remanescentes na América do Sul. Eles vivem em parte do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia.
O Caminho de Peabiru é uma rota física e espiritual na cultura guarani, que leva a um paraíso mitológico chamado por eles de Yvy MarãEy, que fica além da água (o Oceano Atlântico), onde nasce o Sol.
Esse paraíso ("a terra sem mal", em tradução livre) é mencionado na tradição oral dos guaranis, nos seus rituais, música, dança, simbologia e em nomes de lugares. As lendas guaranis chegam a dizer que a rede de caminhos é um reflexo da Via Láctea na Terra.
Mas, para os colonizadores europeus (como o navegador português Aleixo Garcia), o caminho espiritual dos guaranis para o paraíso tornou-se uma via rápida até as riquezas dos incas nas expedições pelo Novo Mundo, que acabaram por causar a morte em massa das populações indígenas da América do Sul pela guerra, pela fome e, principalmente, pelas doenças.
As lendas sobre o Eldorado e a Serra da Prata trouxeram frotas de navios espanhóis e portugueses através do Atlântico e alguns grupos indígenas os ajudaram a penetrar no interior do continente, através do Caminho de Peabiru, segundo Parellada.
"Conhecer as rotas e trilhas principais através das populações nativas tornou-se uma vantagem estratégica, que amplificou o saque, a destruição e a cobiça de novos territórios e riquezas minerais", explica ela.
Sobre este documento
Título
Caminho de Peabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico
Tipo de documento
Jornal eletrônico
Origem
BALSTON, Catherine. Caminho de Peabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico. BBC News Brasil, 26 jun. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-61808692. Acesso em: 19 jan. 2024 (adaptado).
Créditos
Catherine Balston
Palavras-chave
Indígenas
formação do território
Continuar lendo
Em relação aos elementos apresentados pela reportagem sobre o Caminho do Peabiru, o trecho da canção
Alternativas
(A) “Onde o povo segue celebrando / O Sol, a Lua e tudo que é profano” faz uma menção aos aspectos espirituais do Caminho, importantes para povos indígenas, como os Guaranis.
(B) “Onde reina e manda qualquer um / Onde o rei pode ser um fora da lei” sintetiza uma crítica à exploração colonial e aos problemas socioambientais atuais da região cortada pelo Caminho.
(C) “No tango, charango, viola e chamamé” constitui referência musical à extensão territorial e à natureza transnacional que se relaciona ao Peabiru.
(D) “Na promessa de um Eldorado / Vinham almas aventureiras” homenageia o caráter civilizador das iniciativas de interiorização dos exploradores europeus que utilizaram o Peabiru.
Caminho de Peabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico Jornal eletrônico Eu havia viajado até o Estado do Paraná, não muito longe da fronteira com o Paraguai, em busca dos restos do Caminho de Peabiru — uma rede de trilhas com 4 mil quilômetros de extensão, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico, construída ao longo de milênios pelos povos indígenas sul-americanos.
A maior parte do caminho original desapareceu, consumido pela natureza ou transformado em rodovias ao longo dos séculos. [...] No entanto, é fácil compreender por que essa trilha transcontinental cativa a imaginação das pessoas com tanta facilidade — uma fascinação que vem desde o primeiro europeu conhecido por caminhar por toda a sua extensão: o navegador português Aleixo Garcia. Garcia naufragou no litoral de Santa Catarina no ano de 1516, depois do fracasso de uma missão espanhola que pretendia navegar pelo Rio da Prata. Ele e meia dúzia de outros navegadores foram acolhidos pelos indígenas guaranis. Oito anos mais tarde, depois de ouvir as histórias sobre um caminho que levava até um império nas montanhas, rico em ouro e prata, Garcia viajou com 2 mil guerreiros guaranis até os Andes, a cerca de 3 mil quilômetros de distância. [...] As trilhas que vinham do Brasil conectavam-se à rede de estradas incas e pré-incas através dos Andes, que hoje recebem muitos visitantes, mas o Caminho de Peabiru propriamente dito deixou poucos vestígios. As teorias divergem não apenas sobre a época da sua criação, mas também o local exato por onde a rota passava. "Sempre teremos várias hipóteses", explica a arqueóloga Cláudia Inês Parellada. "É difícil ter certeza sobre o caminho completo porque ele mudou ao longo do tempo." O consenso é que o caminho principal da rede conectava o litoral leste e oeste da América do Sul. Dos seus pontos de partida no litoral brasileiro (onde hoje ficam os Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina), as trilhas se reuniam no Paraná, prosseguindo através do território que hoje forma o Paraguai até a região de Potosí, na Bolívia, que era rica em prata. Ao chegar ao lago Titicaca (hoje, fronteira entre a Bolívia e o Peru), o caminho seguia até Cusco — a capital do império inca — e, de lá, descia até o litoral peruano e o norte do Chile. "Pode-se dizer que o roteiro do Peabiru era aquele que acompanhava o movimento aparente do Sol, nascente-poente", segundo Rosana Bond, na série literária História do Caminho de Peabiru, publicada em 2021. Nessa série, a pesquisadora brasileira analisa diversas hipóteses plausíveis sobre as origens da trilha e conclui que a rede de caminhos provavelmente foi criada e usada por diversos grupos indígenas ao longo dos séculos, mas sua característica principal era o desejo de conectar o Atlântico ao Pacífico. Entre os povos a que Bond se refere, encontram-se os guaranis, uma das maiores populações nativas remanescentes na América do Sul. Eles vivem em parte do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia. O Caminho de Peabiru é uma rota física e espiritual na cultura guarani, que leva a um paraíso mitológico chamado por eles de Yvy MarãEy, que fica além da água (o Oceano Atlântico), onde nasce o Sol. Esse paraíso ("a terra sem mal", em tradução livre) é mencionado na tradição oral dos guaranis, nos seus rituais, música, dança, simbologia e em nomes de lugares. As lendas guaranis chegam a dizer que a rede de caminhos é um reflexo da Via Láctea na Terra. Mas, para os colonizadores europeus (como o navegador português Aleixo Garcia), o caminho espiritual dos guaranis para o paraíso tornou-se uma via rápida até as riquezas dos incas nas expedições pelo Novo Mundo, que acabaram por causar a morte em massa das populações indígenas da América do Sul pela guerra, pela fome e, principalmente, pelas doenças. As lendas sobre o Eldorado e a Serra da Prata trouxeram frotas de navios espanhóis e portugueses através do Atlântico e alguns grupos indígenas os ajudaram a penetrar no interior do continente, através do Caminho de Peabiru, segundo Parellada. "Conhecer as rotas e trilhas principais através das populações nativas tornou-se uma vantagem estratégica, que amplificou o saque, a destruição e a cobiça de novos territórios e riquezas minerais", explica ela.
Sobre este documento Título Caminho de Peabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico
Tipo de documento Jornal eletrônico
Origem BALSTON, Catherine. Caminho de Peabiru: a fascinante rota indígena que conecta o Atlântico ao Pacífico. BBC News Brasil, 26 jun. 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-61808692. Acesso em: 19 jan. 2024 (adaptado).
Créditos Catherine Balston
Palavras-chave Indígenas formação do território Continuar lendo Em relação aos elementos apresentados pela reportagem sobre o Caminho do Peabiru, o trecho da canção
Alternativas
(A) “Onde o povo segue celebrando / O Sol, a Lua e tudo que é profano” faz uma menção aos aspectos espirituais do Caminho, importantes para povos indígenas, como os Guaranis.
(B) “Onde reina e manda qualquer um / Onde o rei pode ser um fora da lei” sintetiza uma crítica à exploração colonial e aos problemas socioambientais atuais da região cortada pelo Caminho.
(C) “No tango, charango, viola e chamamé” constitui referência musical à extensão territorial e à natureza transnacional que se relaciona ao Peabiru.
(D) “Na promessa de um Eldorado / Vinham almas aventureiras” homenageia o caráter civilizador das iniciativas de interiorização dos exploradores europeus que utilizaram o Peabiru.