Na abertura de O cânone ocidental (1995), “Uma elegia para o cânone”, Harold
Bloom, páginas 24 a 47, fazer um resumo .. defende ferrenhamente as grandes obras que constituem tradicionalmente o cânone
contra as tentativas de desconstruí-lo ou repensá-lo oriundas de teorizações que expõe o
caráter eurofalocêntrico e classista da tradição canônica, associadas às lutas feministas,
marxistas, do movimento negro e de povos originários, ligadas à crítica pós-estruturalista,
desconstrucionista e dos estudos culturais. Bloom (1995, p. 24, 31), “exorta a uma obstinada
resistência”, cujo objetivo é guardar a “pureza” e a “plenitude” da poesia, argumentando que a
crítica literária deve ser fundamentada em critérios unicamente estéticos, e afirma que “o
estético, em minha opinião, é uma preocupação mais individual que de sociedade”, e, ainda,
“o eu individual é o único método e todo o padrão para a apreensão do valor estético”.
Defende assim a primazia e originalidade de Shakespeare e Platão para o cânone (que passa
então a dispensar a adjetivação de ocidental), afirmando que aí estão contidas experiências
universais que todos “nós” podemos apreciar.A elegia de Bloom ainda é contraditória visto que defende teimosamente uma certa
perenidade do cânone, mesmo depois de admitir sua mutabilidade, segundo critérios
historicamente variáveis (BLOOM, 1995, p. 28-29), e ao afirmar que este se constitui por uma
luta de forças entre os textos, referindo-se a uma concepção nietzschiana de história
(BLOOM, 1995, p. 44), sem, no entanto, admitir a crítica do cânone daqueles a quem seu
texto se opõe como uma força legítima de reconfiguração, tanto dos valores estéticos como de
interpretação dos textos, participando dos mesmos jogos de forças a que estão sujeitos e de
que são agentes os textos literários. Assume assim um papel de suposta neutralidade,
criticando todas as tentativas “ideológicas” de interpretação estética, sem assumir o caráter
profundamente ideológico – elitista e conservador – de sua própria postura.