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Paula
O Coronel e o Lobisomem Dei um pulo de cabrito e prep...
O Coronel e o Lobisomem
Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro. Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braças ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azeredo Furtado. Dos olhos do lobisomem pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal adjacente. Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira e lá de cima, no galho mais firme, aguardava a deliberação do lobisomem.
Garrucha engatilhada, só pedia que o assombrado desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de executar macaquice que nunca cuidei que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui e lá na esperança de que eu pensasse ser uma súcia deles e não uma pessoa sozinha. O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente. Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei. Diante de tão firme deliberação, o vingativo mudou o rumo da guerra. Caiu de dente no pé de pau, na parte mais afunilada, como se serrote fosse:
— Raque-raque-raque.
Não conversei — pronto dois tiros levantaram asa da minha garrucha. Foi o mesmo que espalhar arruaça no mato todo. Subiu asa de tudo que era bicho da noite e uma sociedade de morcegos escureceu o luar. No meio da algazarra, já de fugida, vi o lobisomem pulando coxo, de pernil avariado, língua sobressaída na boca. Na primeira gota de sangue a maldição desencantava, como é de lei e dos regulamentos dessa raça de penitentes. No raiar do dia, sujeito que fosse visto de perna trespassada, ainda ferida verde, podia contar, era o lobisomem. Mas com todas essas vantagens da guerra, o encapetado já em retirada, ainda dilatei minha estada no galho da figueira. No alto o luar vigorava com toda a força e foi na claridade dele, passado um quarto de hora, que deixei a segurança do pé de pau. Pois bem não tinha firmado botina no barro, pulou aquele bichão despropositado diante de mim. Veio talqualmente um trem de ferro, bufando e roncando. Só tive tempo de largar o corpo de lado enquanto aquele montão de malvadez passava em vento de raiva, de fazer um veredal na mataria.
Fonte: CARVALHO, José Cândido. O Coronel e o Lobisomen. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964.
TEXTO 2
Lua Nova
Jacob era meu melhor amigo; precisava alertá-lo. Se ele era mesmo um... Eu me
encolhi e me obriguei a pensar na palavra – lobisomem (e eu sabia que era verdade,
podia sentir), então as pessoas iam atirar nele! Precisava dizer a ele e aos amigos
dele que as pessoas tentariam matá-los se ficassem zanzando por aí como lobos gigantes. Precisava lhes dizer para parar. Tinham de parar!
Charlie estava lá fora, no bosque. Será que eles se importavam com isso? Fiquei
pensando... Até então, só estranhos haviam desaparecido. Isso significava alguma
coisa ou era só obra do acaso? Eu precisa acreditar que pelo menos Jacob se
importaria. De qualquer maneira, precisava alertá-lo. Ou... Precisava mesmo? Jacob
era meu melhor amigo, mas era também um monstro? Um monstro de verdade?
Dos maus? Eu deveria avisá-lo, se ele e os amigos fossem... fossem assassinos? Se
eles estivessem lá fora abatendo a sangue-frio montanhistas inocentes? Se fossem
mesmo criaturas de filmes de terror, em todos os sentidos, seria errado protegêlos?
Eu não sabia nada sobre lobisomens, isso era evidente. Teria esperado algo mais
parecido com os filmes – criaturas metade homem, grandes e peludas, ou coisa
assim – se esperasse mesmo alguma coisa. Então não sabia o que os fazia caçar, se
era fome, sede ou só o desejo de matar. Era difícil julgar, sem compreender isso. Os
lobisomens escolheram um caminho diferente. Agora, que caminho eu deveria
escolher?
Fonte: MEYER, Stephenie. Lua nova. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006.
Obrigatória
Nota:
1
Analise os trechos seguintes, que fazem parte de uma análise comparativa entre os textos 1 e 2.
A análise comparativa entre os textos 1 e 2 comprova que...
A) o cenário é apresentado em detalhes. No texto 1, trata-se da fazenda onde o coronel vivia, já no texto 2, era um lugar próximo a um bosque.
B) o enredo é semelhante. Tanto no texto 1, quanto no texto 2, os lobisomens são apresentados como seres sociáveis que convivem com o homem.
C) o narrador é protagonista e convive com lobisomem. No texto 1, a convivência é pacífica, já no texto 2, a relação com os lobisomens é de amizade.
D) o narrador está em confronto. No texto 1, o confronto com o lobisomem é físico, já no texto 2, o confronto está relacionado a questões morais.
E) o tempo é cronológico. Tanto no texto 1, quanto no texto 2, a narrativa acontece durante o período noturno, contribuindo para o suspense da cena.
O Coronel e o Lobisomem
Dei um pulo de cabrito e preparado estava para a guerra do lobisomem. Por descargo de consciência, do que nem carecia, chamei os santos de que sou devocioneiro. Em presença de tal apelação, mais brabento apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar terra e macega no longe de dez braças ou mais. Era trabalho de gelar qualquer cristão que não levasse o nome de Ponciano de Azeredo Furtado. Dos olhos do lobisomem pingava labareda, em risco de contaminar de fogo o verdal adjacente. Tanta chispa largava o penitente que um caçador de paca, estando em distância de bom respeito, cuidou que o mato estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha pegado a segurança de uma figueira e lá de cima, no galho mais firme, aguardava a deliberação do lobisomem.
Garrucha engatilhada, só pedia que o assombrado desse franquia de tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu ele de executar macaquice que nunca cuidei que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par de brasas espiava aqui e lá na esperança de que eu pensasse ser uma súcia deles e não uma pessoa sozinha. O que o galhofista queria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fosse para o barro denegrir a farda e deslustrar a patente. Sujeito especial em lobisomem como eu não ia cair em armadilha de pouco pau. No alto da figueira estava, no alto da figueira fiquei. Diante de tão firme deliberação, o vingativo mudou o rumo da guerra. Caiu de dente no pé de pau, na parte mais afunilada, como se serrote fosse:
— Raque-raque-raque.
Não conversei — pronto dois tiros levantaram asa da minha garrucha. Foi o mesmo que espalhar arruaça no mato todo. Subiu asa de tudo que era bicho da noite e uma sociedade de morcegos escureceu o luar. No meio da algazarra, já de fugida, vi o lobisomem pulando coxo, de pernil avariado, língua sobressaída na boca. Na primeira gota de sangue a maldição desencantava, como é de lei e dos regulamentos dessa raça de penitentes. No raiar do dia, sujeito que fosse visto de perna trespassada, ainda ferida verde, podia contar, era o lobisomem. Mas com todas essas vantagens da guerra, o encapetado já em retirada, ainda dilatei minha estada no galho da figueira. No alto o luar vigorava com toda a força e foi na claridade dele, passado um quarto de hora, que deixei a segurança do pé de pau. Pois bem não tinha firmado botina no barro, pulou aquele bichão despropositado diante de mim. Veio talqualmente um trem de ferro, bufando e roncando. Só tive tempo de largar o corpo de lado enquanto aquele montão de malvadez passava em vento de raiva, de fazer um veredal na mataria.
Fonte: CARVALHO, José Cândido. O Coronel e o Lobisomen. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964.
TEXTO 2
Lua Nova
Jacob era meu melhor amigo; precisava alertá-lo. Se ele era mesmo um... Eu me
encolhi e me obriguei a pensar na palavra – lobisomem (e eu sabia que era verdade,
podia sentir), então as pessoas iam atirar nele! Precisava dizer a ele e aos amigos
dele que as pessoas tentariam matá-los se ficassem zanzando por aí como lobos gigantes. Precisava lhes dizer para parar. Tinham de parar!
Charlie estava lá fora, no bosque. Será que eles se importavam com isso? Fiquei
pensando... Até então, só estranhos haviam desaparecido. Isso significava alguma
coisa ou era só obra do acaso? Eu precisa acreditar que pelo menos Jacob se
importaria. De qualquer maneira, precisava alertá-lo. Ou... Precisava mesmo? Jacob
era meu melhor amigo, mas era também um monstro? Um monstro de verdade?
Dos maus? Eu deveria avisá-lo, se ele e os amigos fossem... fossem assassinos? Se
eles estivessem lá fora abatendo a sangue-frio montanhistas inocentes? Se fossem
mesmo criaturas de filmes de terror, em todos os sentidos, seria errado protegêlos?
Eu não sabia nada sobre lobisomens, isso era evidente. Teria esperado algo mais
parecido com os filmes – criaturas metade homem, grandes e peludas, ou coisa
assim – se esperasse mesmo alguma coisa. Então não sabia o que os fazia caçar, se
era fome, sede ou só o desejo de matar. Era difícil julgar, sem compreender isso. Os
lobisomens escolheram um caminho diferente. Agora, que caminho eu deveria
escolher?
Fonte: MEYER, Stephenie. Lua nova. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006.
Obrigatória
Nota: 1 Analise os trechos seguintes, que fazem parte de uma análise comparativa entre os textos 1 e 2. A análise comparativa entre os textos 1 e 2 comprova que...
A) o cenário é apresentado em detalhes. No texto 1, trata-se da fazenda onde o coronel vivia, já no texto 2, era um lugar próximo a um bosque.
B) o enredo é semelhante. Tanto no texto 1, quanto no texto 2, os lobisomens são apresentados como seres sociáveis que convivem com o homem.
C) o narrador é protagonista e convive com lobisomem. No texto 1, a convivência é pacífica, já no texto 2, a relação com os lobisomens é de amizade.
D) o narrador está em confronto. No texto 1, o confronto com o lobisomem é físico, já no texto 2, o confronto está relacionado a questões morais.
E) o tempo é cronológico. Tanto no texto 1, quanto no texto 2, a narrativa acontece durante o período noturno, contribuindo para o suspense da cena.