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Claudiane
Analise e responda: conto, do escritor pernambucano Marcelin...
Analise e responda: conto, do escritor pernambucano Marcelino Freire (1967-).
Belinha
Dizem que sempre falta uma palavra e é verdade. Nesses anos todos eu sei que sim, que sempre falta uma palavra, é verdade. Verdade Pois procurei por Belinha, depois de 50 anos, 50 anos, para dizer para ela essa palavra.
Vesti meu terno, pus o chapéu e sal. [...] Como nos tempos em que era moço, feliz. Nos tempos em que me apaixonei por ela. Eu nunca pensei que um amor assim pudesse me deixar perdido, quase louco. Amor grande. Amor para sempre Pois é. Vesti meu terno, pus o chapéu e peguei um ônibus até Santo Inácio. Sentou- -se uma moça ao meu lado e era uma moça bonita. Ah, e o perfume era muito bom e eu conversei com ela, conversei muito com ela, muito, até chegar à casa pr'onde eu ia. A casa que vi construída. [...] Eu nunca morei nela. Mas era lá que Belinha morava, casada com outro. Que teve filhos e teve netos. Que vive hoje sozinha e que nem sabe que eu vou lá, entrar naquela casa, que vou dizer o que tenho pra dizer, depois de 50, 50 anos, que sempre falta uma palavra. Uma única palavra, que vou levando com meu terno e meu chapéu. E uma agonia no coração, profunda. Que sempre falta uma palavra. Era agora.
Desci no mesmo ponto e o ônibus se fol. [...] Só reconheço a esquina em que eu ficava, no bar, entre um café e outro, a ver a felicidade de Belinha, a casa agitada, os filhos pela calçada. Dei balas e brinquedos para eles, escondido, que ela nunca me via. Ficou um mistério, foi. Mas, no fundo, no fundo, Belinha sabia quem era. [...] Ela sabia que eu é que dava balas e brinquedos, escondido, nunca a abandonei, nunca deixei a vida dela sozi- nha. Que meu amor era eterno. Mas hoje ela vai ficar sabendo de uma vez. Eu vou dizer a palavra que eu guardel, que ficou en- gasgada durante 50, 50, 50 anos. Nos olhos de Belinha, é. Pra ela saber. Saber de uma vez o que eu quero dizer, depois de 50 anos. O portão é amarelo, meio aberto. Há cheiro de jasmim, o mesmo cheiro, meu Deus. A parede é amarela e meio aberta. A mesma parede. Eu fui invadindo, decidido como nunca. Mas eu sempre fui decidido. Fui moço forte, fibrento, de briga. No traba- Iho e na vida. Meu pai era assim e me ensinou. Mas o problema, posso dizer: foi ela. Belinha me deixou lento, sem força nenhuma. Sem decisão pra resolver aquela situação. Eu a amava tanto, ela amava tanto e casou com outro. Na minha cara, na frenuis lazeroula Casou por gança, não sei. Por dinheiro, não sei. Por indecisão. Porque bado de tudo destino Foto não por dissosego Piquel inseguro, fraco, acabado de tudo. Meu fim, to nep que era. Minha morte no mundo. Bati fraco na porta, assim. Fraco. Mas não demorou para beu perque en bater com todos os meus nervos na porta. E sacudir o nome dela. E tirar o chapéu porque eu havia suado muito. Um sol de muito tempo. [...] Disse o seu nome lá pra dentro. [..] "Belinha", como sempre tive vontade de dizer. Não gritei, só disse. Estava ali para dizer a palavra que faltava, que sempre falta uma palavra de pois de 50, mais de 50 anos.
[...] Ela veio rastejando até a porta. Rastejando a sombra dos chinelos. Cansada e sozinha que ela estava. Veio e me olhou. Demorou olhando para mim. Olhou, olhou e me viu. O mesmo chapéu e o mesmo terno e o mesmo sol. Foi ai que Belinha me abraçou, abraçou. Meu Deus, Belinha me abraçou, me fechou naquela casa. Trancou. E era agora como nunca foi Como nunca mais será. Uma palavra que ficou em mim, envelhecida e tratada. Pois é. Tratada como num coração de formol. De forma que resolvi dizendo, ali mesmo da porta, sem entrar não entrei, não sei, a mesma porta amarela, o mesmo jasmim, o mesmo jardim. Porque sem pre falta uma palavra, depois de 40, 50, 60 anos, não sei. Sempre faltará uma palavra.
Ela disse que ouviu dizer de minha vida, sim. De mulheres, de familias. Mentira. Que eu tive filhos. Mentira. Que eu tentei me matar. Mentira. Mesmo a morte eu esperava moner com ela. Todo tempo havia esperança, havia. Esperança. Eu tinha pressa, depois de 50 anos eu tinha pressa. Ela me mandou sentar, tomar um café. Não quis. Passou a vontade, como passageira. Esperou eu falar. Pois é E só depois de 50 anos, 50 anos ou mais, olhando para o fundo da boca, das mãos, dos olhos dela, no mesmo portão, porta amarela, com cheiro de jasmim, eu disse a palavra, a palavra que faltava, que sempre falta uma palavra.
- a) Quais são os personagens principais?
b) Há caracterização física dos personagens?
c) São ressaltados nos personagens aspectos físicos ou psicológicos?
- O conto lido caracteriza-se por ser condensado e ter poucos personagens,
poucas ações e tempo e espaços reduzidos.
a) Onde acontecem os fatos narrados?
b) Qual é o tempo de duração dos fatos narrados?
- Nos contos, pode haver narrador-observador ou narrador-personagem.
a) De que tipo é o narrador do conto "Belinha"? Justifique sua resposta.
b) O conto de Marcelino Freire é constituído principalmente por acontecimentos e ações do mundo exterior ou por reflexões do mundo interior de um dos personagens? Cite um trecho do conto que comprove sua resposta.
- Há diálogos no conto? Como as falas dos personagens são reproduzidas: por meio do discurso direto, indireto ou indireto livre?
Analise e responda: conto, do escritor pernambucano Marcelino Freire (1967-). Belinha Dizem que sempre falta uma palavra e é verdade. Nesses anos todos eu sei que sim, que sempre falta uma palavra, é verdade. Verdade Pois procurei por Belinha, depois de 50 anos, 50 anos, para dizer para ela essa palavra. Vesti meu terno, pus o chapéu e sal. [...] Como nos tempos em que era moço, feliz. Nos tempos em que me apaixonei por ela. Eu nunca pensei que um amor assim pudesse me deixar perdido, quase louco. Amor grande. Amor para sempre Pois é. Vesti meu terno, pus o chapéu e peguei um ônibus até Santo Inácio. Sentou- -se uma moça ao meu lado e era uma moça bonita. Ah, e o perfume era muito bom e eu conversei com ela, conversei muito com ela, muito, até chegar à casa pr'onde eu ia. A casa que vi construída. [...] Eu nunca morei nela. Mas era lá que Belinha morava, casada com outro. Que teve filhos e teve netos. Que vive hoje sozinha e que nem sabe que eu vou lá, entrar naquela casa, que vou dizer o que tenho pra dizer, depois de 50, 50 anos, que sempre falta uma palavra. Uma única palavra, que vou levando com meu terno e meu chapéu. E uma agonia no coração, profunda. Que sempre falta uma palavra. Era agora. Desci no mesmo ponto e o ônibus se fol. [...] Só reconheço a esquina em que eu ficava, no bar, entre um café e outro, a ver a felicidade de Belinha, a casa agitada, os filhos pela calçada. Dei balas e brinquedos para eles, escondido, que ela nunca me via. Ficou um mistério, foi. Mas, no fundo, no fundo, Belinha sabia quem era. [...] Ela sabia que eu é que dava balas e brinquedos, escondido, nunca a abandonei, nunca deixei a vida dela sozi- nha. Que meu amor era eterno. Mas hoje ela vai ficar sabendo de uma vez. Eu vou dizer a palavra que eu guardel, que ficou en- gasgada durante 50, 50, 50 anos. Nos olhos de Belinha, é. Pra ela saber. Saber de uma vez o que eu quero dizer, depois de 50 anos. O portão é amarelo, meio aberto. Há cheiro de jasmim, o mesmo cheiro, meu Deus. A parede é amarela e meio aberta. A mesma parede. Eu fui invadindo, decidido como nunca. Mas eu sempre fui decidido. Fui moço forte, fibrento, de briga. No traba- Iho e na vida. Meu pai era assim e me ensinou. Mas o problema, posso dizer: foi ela. Belinha me deixou lento, sem força nenhuma. Sem decisão pra resolver aquela situação. Eu a amava tanto, ela amava tanto e casou com outro. Na minha cara, na frenuis lazeroula Casou por gança, não sei. Por dinheiro, não sei. Por indecisão. Porque bado de tudo destino Foto não por dissosego Piquel inseguro, fraco, acabado de tudo. Meu fim, to nep que era. Minha morte no mundo. Bati fraco na porta, assim. Fraco. Mas não demorou para beu perque en bater com todos os meus nervos na porta. E sacudir o nome dela. E tirar o chapéu porque eu havia suado muito. Um sol de muito tempo. [...] Disse o seu nome lá pra dentro. [..] "Belinha", como sempre tive vontade de dizer. Não gritei, só disse. Estava ali para dizer a palavra que faltava, que sempre falta uma palavra de pois de 50, mais de 50 anos. [...] Ela veio rastejando até a porta. Rastejando a sombra dos chinelos. Cansada e sozinha que ela estava. Veio e me olhou. Demorou olhando para mim. Olhou, olhou e me viu. O mesmo chapéu e o mesmo terno e o mesmo sol. Foi ai que Belinha me abraçou, abraçou. Meu Deus, Belinha me abraçou, me fechou naquela casa. Trancou. E era agora como nunca foi Como nunca mais será. Uma palavra que ficou em mim, envelhecida e tratada. Pois é. Tratada como num coração de formol. De forma que resolvi dizendo, ali mesmo da porta, sem entrar não entrei, não sei, a mesma porta amarela, o mesmo jasmim, o mesmo jardim. Porque sem pre falta uma palavra, depois de 40, 50, 60 anos, não sei. Sempre faltará uma palavra. Ela disse que ouviu dizer de minha vida, sim. De mulheres, de familias. Mentira. Que eu tive filhos. Mentira. Que eu tentei me matar. Mentira. Mesmo a morte eu esperava moner com ela. Todo tempo havia esperança, havia. Esperança. Eu tinha pressa, depois de 50 anos eu tinha pressa. Ela me mandou sentar, tomar um café. Não quis. Passou a vontade, como passageira. Esperou eu falar. Pois é E só depois de 50 anos, 50 anos ou mais, olhando para o fundo da boca, das mãos, dos olhos dela, no mesmo portão, porta amarela, com cheiro de jasmim, eu disse a palavra, a palavra que faltava, que sempre falta uma palavra.
- a) Quais são os personagens principais? b) Há caracterização física dos personagens? c) São ressaltados nos personagens aspectos físicos ou psicológicos?
- O conto lido caracteriza-se por ser condensado e ter poucos personagens, poucas ações e tempo e espaços reduzidos. a) Onde acontecem os fatos narrados? b) Qual é o tempo de duração dos fatos narrados?
- Nos contos, pode haver narrador-observador ou narrador-personagem. a) De que tipo é o narrador do conto "Belinha"? Justifique sua resposta. b) O conto de Marcelino Freire é constituído principalmente por acontecimentos e ações do mundo exterior ou por reflexões do mundo interior de um dos personagens? Cite um trecho do conto que comprove sua resposta.
- Há diálogos no conto? Como as falas dos personagens são reproduzidas: por meio do discurso direto, indireto ou indireto livre?